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Administrador prefere venda, mas não descarta liquidação do Cruzeiro do Sul

O FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que desde ontem administra o banco Cruzeiro do Sul, prefere a venda da instituição, mas não descarta a sua liquidação.
A liquidação do banco dependerá mais do tipo do passivo (dívida) do que de seu montante, disseram executivos da área de relações com investidores do banco e do FGC em teleconferência com analistas.
"Mais do que o tamanho de um eventual passivo, o mais importante é a natureza dele", disse nesta terça-feira Celso Antunes da Costa, diretor do FGC e administrador do banco sob o Raet (Regime Especial de Administração Temporária) decretado pelo Banco Central na véspera.
Costa salientou, no entanto, que considera o cenário de liquidação improvável. Em vez disso, trabalha com a tendência de que o Cruzeiro do Sul será vendido a investidores.
"Nosso cenário base é de venda", afirmou. "Achamos que o banco tem valor de mercado e pode ser vendido".
O executivo reiterou o que dissera na véspera, garantindo que todas as obrigações passivas do banco serão honradas durante os 180 dias da administração pela Raet, e que não haverá deságio sobre os títulos que forem resgatados.
No caso de liquidação, porém, terão preferência os credores trabalhistas, tributários, quirografários e donos de títulos emitidos no exterior, respectivamente, disse o diretor de relações com investidores do banco, Fausto Vaz Guimarães Neto.
 
INTERVENÇÃO

O Banco Central anunciou ontem a intervenção no banco Cruzeiro do Sul por problemas na contabilidade e descumprimento a normas do sistema financeiro.
O Banco Central detectou um rombo de R$ 1,3 bilhão decorrente de "insubsistência de crédito", o que significa que não há "evidências" de que operações nesse valor existam.
Como o patrimônio do banco é de cerca de R$ 1,2 bilhão, o questionamento pode levá-lo a um deficit patrimonial de R$ 100 milhões.
Os dirigentes e controladores foram afastados da instituição e o FGC foi nomeado como administrador temporário.
Segundo o BC, o Raet (Regime de Administração Especial Temporária) tem a finalidade de corrigir procedimentos operacionais e eliminar deficiências que possam comprometer o funcionamento do banco. O prazo da intervenção é de 180 dias.
O Banco Cruzeiro do Sul é considerado de pequeno porte e possui autorização para operações comerciais, de investimento e cambiais. A instituição tem 0,22% dos ativos totais do sistema financeiro e 0,35% dos depósitos, segundo dados de dezembro de 2011.
A intervenção não afeta o funcionamento do banco, que pode continuar a fazer operações nas áreas em que tem autorização para atuar. O prazo para pagamento de dívidas e as datas de vencimento de compromissos de terceiros com a instituição também seguem o cronograma original.
O regime especial também vale para os outros negócios do grupo Cruzeiro do Sul, como a corretora de valores.
 
BALANÇO

O Cruzeiro do Sul teve prejuízo de R$ 57 milhões no primeiro trimestre, ante lucros de R$ 32 milhões no quarto trimestre de 2011 e de R$ 41 milhões um ano antes.
O banco vendeu mais de US$ 300 milhões em títulos nos mercados internacionais no ano passado, mas essa fonte secou em decorrência da crise de dívida que atingiu países da Europa.
O Cruzeiro do Sul foi comprado em 1993 pela família Indio da Costa e no mesmo ano ingressou no mercado de crédito consignado. Segundo o site da instituição, atualmente, o banco é parte de 337 convênios de crédito consignado a funcionários públicos, aposentados e pensionistas no país.
Na semana passada, a instituição confirmou que estava em negociação para uma possível venda de suas operações. Segundo reportagem do jornal "Valor Econômico", o BTG Pactual seria um dos interessados no negócio. O banco de André Esteves afirmou, na época, que analisava constantemente oportunidades de mercado.
 
OUTROS BANCOS
 
Em outubro do ano passado, o BC decretou a liquidação extrajudicial do Banco Morada, com base em relatório de interventor que apontou situação de insolvência do banco e violação de regras legais.
A liquidação extrajudicial do Morada foi a primeira feita pelo BC desde o Banco Santos, em maio de 2005, e ocorreu depois que a autoridade monetária detectou em 2010 fraude bilionária em vendas de carteiras do Banco Panamericano, que acabou vendido ao BTG Pactual.

Por Folha