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Em discurso, Gaddafi diz que continuará a lutar e sairá vitorioso

Após quatro dias de ataques dos aliados internacionais à Líbia, na tentativa de implementar uma zona de exclusão aérea sobre o país, o ditador Muammar Gaddafi fez uma breve aparição na Tv estatal declarando a seus seguidores que "continuará lutando" e "sairá vitorioso" da guerra contra os rebeldes e as forças estrangeiras.
"Seremos vitoriosos no fim", disse Gaddafi no rápido discurso em Trípoli, capital do país, transmitido ao vivo.
Horas depois, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, afirmou em entrevista à rede ABC News que recebeu informações levando à suposição de que o ditador e seus aliados podem estar considerando o exílio, embora não esteja claro se ele realmente renunciaria, afirmou. 
"Uma parte disso tudo é encenação", afirmou Hillary em entrevista à ABC News, acrescentando que os EUA ficaram sabendo que pessoas "supostamente por parte de Gaddafi" estão tentando avaliar as opções do líder frente às operações dos aliados internacionais em seu país.
"Muito se deve ao modo como ele se comporta. É um tanto imprevisível", afirmou. "Mas achamos que uma parte disso é explorar possibilidades...quais seriam minhas opções, para onde eu poderia ir, o que eu poderia fazer. E nós encorajaríamos isso."
Hillary também afirmou que o governo norte-americano recebeu relatos não-confirmados de que pelo menos um dos filhos de Gaddafi pode ter sido morto durante os ataques. Ela disse que os "indícios não são suficientes" para confirmar a notícia.
A secretária de Estado disse que detalhes sobre qual será o país a assumir a liderança da coalizão ainda estão sendo ajustados. Ela afirmou não estar preocupada com a transição. 

ACORDO SOBRE A OTAN
 
Mais cedo, o presidente americano Barack Obama, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy --que conversaram por telefone nesta terça-feira-- concordaram sobre o uso das estruturas de comando da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no apoio à operação da coalizão em curso na Líbia, de acordo com um comunicado oficial do governo francês.
Poucos minutos antes, a Casa Branca tinha anunciado que os Estados Unidos, França e Reino Unido tinham concordado que a Otan deveria ter "um papel-chave" no comando da operação militar da coalizão internacional na Líbia.
Obama ligou para Sarkozy "para discutir a situação na Líbia", informou o palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, em um comunicado.
"Os dois presidentes destacaram com satisfação que as operações dirigidas pela coalizão permitiram limitar o número de vítimas entre as populações civis e reduziram as capacidades do coronel Kadhafi de utilizar a força contra seu povo", afirma o texto.
Os líderes "concordaram sobre a necessidade de prosseguir com os esforços para garantir a plena aplicação das resoluções 1970 e 1973" do Conselho de Segurança da ONU, que têm por objetivo proteger a população líbia das forças pró-Gaddafi.
Por último, indica a Presidência francesa, Obama e Sarkozy "concordaram sobre as modalidades de utilização das estruturas de comando da Otan no apoio à coalizão".
Mais cedo, a Otan havia definido sua estratégia para participar da operação Aurora da Odisseia, a missão militar internacional para imposição de uma zona de exclusão aérea e proteção dos civis na Líbia.
A reunião dos seus países-membros, contudo, não definiu se a aliança vai assumir a liderança da operação, que atualmente é comandada pelos Estados Unidos. 
A participação da Otan tem dividido seus países-membros. A Itália e o Reino Unido defendem que a aliança tem melhor capacidade de coordenar os esforços. Já França teme que a liderança da aliança atlântica pode afastar os países árabes. Há ainda os países-membros como Turquia e Alemanha, que têm objeções quanto aos ataques internacionais e se negam a participar.
"A Otan completou seus planos para ajudar a aplicar a zona de exclusão, para dar nossa contribuição, se for necessário, de forma claramente definida, ao amplo esforço internacional para proteger o povo da Líbia da violência do regime de [Muammar] Gaddafi", disse o secretário-geral Anders Fogh Rasmussen, em comunicado, sem mais detalhes.
A Otan encerra assim a fase de planejamento, que tinha sido adiada no fim de semana passado diante do racha interno. Uma fonte da aliança, citada pela agência Efe, diz que haverá uma nova fase das discussões internas, para definir qual será o papel na aplicação da zona de exclusão --o que pode se prolongar por dias.
Os embaixadores dos países-membros voltam a se reunir nesta quarta-feira, em Bruxelas, para abordar o assunto. 

ACIDENTE
 
Também nesta terça-feira a imprensa divulgou que um F-15E Strike Eagle dos Estados Unidos caiu na noite desta segunda-feira na Líbia. Os dois pilotos a bordo conseguiram se ejetar e estão bem, segundo o Comando Americano na África.
Vince Crawley, porta-voz do comando, disse que ambos os pilotos sofreram ferimentos leves. Eles usaram paraquedas para se ejetar do F-15E Strike Eagle, ainda em uma grande altitude, e acabaram caindo em lugares diferentes. Um deles foi encontrado pelos rebeldes, o outro foi resgatado por um avião de resgate e salvamento da Marinha americana.
A aeronave partiu da base italiana de Aviano, como parte da operação Aurora da Odisseia. A queda ocorreu às 19h30 de segunda-feira. 
O comando não divulgou o local do acidente, mas o correspondente do jornal britânico "Daily Telegraph" disse ter encontrado os destroços perto de Benghazi.
A causa da queda está sendo investigada, mas segundo o correspondente do jornal britânico, o F-15E Eagle americano sofreu uma falha mecânica.
"Acabei de encontrar um avião de guerra dos EUA em um campo. Acredito que uma falha mecânica causou a queda", disse o correspondente do jornal Rob Crilly, em seu Twitter. "O avião caiu ontem a noite. A tripulação estaria bem", disse Crilly, que cobre os conflitos nos arredores de Benghazi.
A Força Aérea dos EUA disse que aviões B-2, F-15 e F-16 estão participando das operações na Líbia. Eles estão sendo coordenados pelo Comando Americano na África, que tem como base Stuttgart, na Alemanha. 

VÍTIMAS
 
Apesar dos ataques da coalizão internacional, as forças de Gaddafi mantêm ampla ofensiva contra os rebeldes.
Um morador, citado pela agência de notícias Reuters, diz que ao menos 40 mortos na segunda-feira por forças leais ao ditador na cidade rebelde de Misrata.
O morador, Mohammed Ahmed, disse que o número lhe foi passado por um membro do comitê rebelde encarregado do atendimento médico. Ele não especificou quantos dos mortos eram civis e quantos eram combatentes.

 Por Folha