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EUA, França e Grã-Bretanha lançam ataque contra Kadafi

Estados Unidos, França e Grã-Bretanha lideraram neste sábado um forte ataque contra o regime do ditador líbio Muamar Kadafi. A ofensiva, a mais ampla desde a invasão do Iraque em 2003, foi deflagrada pela força aérea francesa com ao menos quatro incursões de caças que destruíram vários tanques do Exército líbio na região de Bengasi.
Momentos depois do ataque aéreo, foram disparados pelo menos 110 mísseis de cruzeiro Tomahawk, a partir de navios e submarinos de Estados Unidos e Grã-Bretanha, contra instalações do sistema de defesa e comunicações da Líbia.
A operação foi coordenada no quartel-general das forças americanas na Europa, na cidade alemã de Stuttgart, com o objetivo de fazer Kadafi cumprir a resolução da ONU em defesa da população civil na Líbia.
A autorização para a ação, que está sendo chamada pelo Pentágono de Odisseia do Amanhecer, partiu do presidente Barack Obama, em visita ao Brasil. Durante conversa com a presidente Dilma Rousseff na tarde deste sábado, o presidente americano teria dado o sinal verde para a ofensiva.
Após encontro com Dilma, Obama declarou que autorizou uma "ação militar limitada" na Líbia, sem a presença de tropas americanas no território. "Quero que os americanos saibam que o uso da força não é nossa primeira opção", disse. "Mas não podemos permanecer passivos quando um tirano diz a seu povo que não terá piedade, ou quando suas forças intensificam o assalto contra cidades, onde inocentes enfrentam a brutalidade e a morte nas mãos de seu próprio governo".
 
Coalizão - Além de Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, a Espanha ofereceu seis caças F-18 e uma fragata F-100 para dar suporte à ação militar. O Canadá, por sua vez, enviou 18 caças para uma base italiana na Sicília. A Itália, posicionou parte da sua frota aérea militar na ilha de Chipre, no Mediterrâneo, próximo à costa da Líbia. Até o começo da noite deste sábado, os três países não haviam se envolvido diretamente nos bombardeios.
 
Reação - Kadafi reagiu à ofensiva prometendo atacar alvos "civis e militares" no Mediterrâneo e afirmando que vai abrir os "depósitos de armas" para que o povo defenda a Líbia. Segundo a TV estatal líbia, instalações civis foram bombardeadas nas cidades costeiras de Trípoli, Misrata, Zuara e Benghazi, incluindo o hospital de Bir Osta Miled, 15 km a leste da capital. Em Trípoli, chamas e colunas de fumaça eram visíveis no leste da capital.
 
Obsoleto - Antes da revolta na Líbia, o exército de Kadafi contava com 100 mil soldados, sendo 12 mil de elite. As forças do ditador contam ainda com 300 aviões e caças, a maioria deles MiG russos e Mirage franceses equipados com mísseis ar-ar soviéticos. Analistas apontam que, por obsoleto, o aparato militar de Kadafi é incapaz de fazer frente à intervenção dos países ocidentais. A maioria dos mísseis de alcance terra-ar estão localizados ao redor de Trípoli, a capital.
 
Prazo da ação - A pesada ação militar do Ocidente foi deflagrada quando as forças leais a Kadafi avançavam sobre bairros residenciais próximos ao centro de Bengasi, o principal reduto dos rebeldes, a mil quilômetros a leste de Trípoli, rompendo cessar-fogo e desafiando os termos da resolução da ONU. Segundo testemunhas, os bairros da região oeste da cidade foram bombardeados por tanques e artilharia de Kadafi, e alguns disparos caíram no centro da cidade. Em Foweihat, a 5 quilômetros do centro, ocorreram violentos combates entre os rebeldes e as forças de Kadafi. Milhares de pessoas fugiram hoje do centro de Bengasi para o nordeste, constatou um jornalista da AFP. Segundo a rede BBC, tanques entraram na cidade rebelde. Um caça, atribuído às forças de Kadafi, foi abatido pelos rebeldes por meio de baterias antiaéreas.
Ainda não está clara a extensão dos danos provocados pelos primeiros ataques da coalizão, nem o tempo que a intervenção militar deve durar. Segundo o ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, a ação contra a Líbia vai continuar por alguns dias “até que Kadafi cumpra ao pé da letra a resolução da ONU que condena os ataques que o ditador tem feito aos opositores”.
Dos 15 países que votaram a mais recente resolução da ONU, 10 votaram a favor, e 5 se abstiveram: Brasil, China, Índia, Alemanha e Rússia. Destes, a Rússia foi o único país a criticar a ofensiva deste sábado. O Kremlim afirmou, em nota oficial, que a ação militar é “lamentável”.

Por Veja