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Forças aliadas atacam Trípoli e Benghazi; rebeldes tentam avançar

Após o pronunciamento do presidente americano Barack Obama, no Chile, indicando que os EUA querem a saída do ditador Muammar Gaddafi, a rede de TV Al Jazeera confirmou novos ataques à capital Trípoli e a radares do regime instalados na cidade de Benghazi, reduto dos rebeldes no leste do país.
Em entrevista coletiva ao lado do presidente chileno, Sebastián Piñera, Obama afirmou que o objetivo militar na Líbia é proteger os civis dos ataques do ditador líbio, Muammar Gaddafi, e não tirá-lo do poder. Porém, ele disse, a posição norte-americana é que Gaddafi "precisa sair". 
Quanto ao prazo para a transferência das operações, Obama disse que "nós [EUA] prevemos que a transição aconteça em uma questão de dias, não semanas".
Na Líbia, de acordo com a rede de TV Al Jazeera, os mais recentes ataques dos aliados internacionais atingiram duas bases da defesa antiaérea de Gaddafi no leste do país.
Mais cedo, com a ajuda de jatos da Espanha, a coalizão ampliou também os ataques contra a capital líbia, concretizando o terceiro dia da operação Aurora da Odisseia. O céu de Trípoli foi tomado por aviões aliados procedentes de bases na Itália e pelos disparos do sistema de defesa antiaérea do regime líbio durante toda a madrugada e parte da manhã.
O maior golpe até o momento em Trípoli foi o edifício do complexo residencial de Gaddafi. O ataque gerou duras críticas do governo líbio, que alega que ao menos 48 civis já morreram na ofensiva ocidental.
"Foi um bombardeio bárbaro, que poderia ter atingido centenas de civis congregados na residência de Muammar Gaddafi, a cerca de 400 metros do prédio atingido", declarou o porta-voz do regime, Musa Ibrahim, aos jornalistas estrangeiros, denunciando as 'contradições do discurso ocidental'. 
"Os países ocidentais dizem querer proteger os civis, mas atacam uma residência onde sabem que há civis no interior", criticou.
REBELDES TENTAM AVANÇAR
 
Em Benghazi, o porta-voz das forças militares dos rebeldes, Khalid al Sayah, disse à Associated Press que embora seus "soldados" tentem avançar, muitas unidades ainda não estão prontas e que "não querem seguir em frente sem ter um plano".
Ele disse ainda que as unidades regulares têm a intenção de mover-se mais agressivamente contra as tropas leais a Gaddafi, mas que buscam uma preparação maior.
"É um Exército totalmente novo, estamos começando do zero", disse. 
Até a tarde de segunda-feira, cerca de 150 cidadãos-"soldados" estavam concentrados num campo de dunas de areia muitos quilômetros fora de Ajdabiyah, última cidade no caminho a Banghazi, onde violentos confrontos foram registrados na última grande ofensiva de Gaddafi contra os rebeldes antes do avançar contra Benghazi e o início das operações dos aliados.
Os acessos à cidade, no entanto, permanecem bloqueados por tropas pró-Gaddafi, dizem os rebeldes.
"Há cinco tanques de Gaddafi e oito lançadores de mísseis atrás daquelas árvores, além de muitos jipes", disse o rebelde Fathi Obeidi.
A estratégia do governo, dizem os rebeldes, é a mesma em Ajdabiyah e Misrata, a terceira maior cidade do país e último front de batalhas no oeste.
As forças pró-Gaddafi tentam isolar os acessos às duas cidades e cortar o fornecimento de água e eletricidade, e manter os combates contra os rebeldes dentro do espaço isolado.
ATAQUES NA CAPITAL
 
À tarde, informes da TV estatal da Líbia relataram bombardeios à casa de Gaddafi, apenas horas depois de o premiê do Reino Unido ter dito ao Parlamento britânico que a resolução da ONU não autoriza tornar o ditador um alvo direto.
"A resolução é limitada em seu alcance e não proporciona explicitamente a autoridade legal para uma ação que provoque a saída do poder de Gaddafi pela via militar", declarou Cameron durante um pronunciamento ao Parlamento britânico.
O primeiro-ministro, que afirmou que as forças aliadas já conseguiram implementar plenamente a zona de exclusão aérea sobre o país do norte da África, ressaltou que a "Líbia tem que se desfazer de Gaddafi" e acrescentou que os líbios são quem "têm que escolher seu próprio futuro".
No entanto, considerou que a comunidade internacional é "responsável em última instância" pela aplicação da resolução aprovada pelas Nações Unidas e que a intervenção evitou um "massacre sangrento" em Benghazi.
REDUTOS REBELDES
 
Forças leais ao ditador líbio, Muammar Gaddafi, atacaram a cidade de em Misrata, ao leste de Trípoli, informaram um porta-voz dos rebeldes e uma fonte médica da cidade. Ao menos 40 pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas, vítimas de tiros disparados pelas forças leais a Gaddafi, segundo os rebeldes. 
Um morador de Misrata disse à agência de notícias Reuters que as forças de Gaddafi também usavam roupas civis no centro da cidade, uma possível estratégia para escapar dos ataques ocidentais.
Ele disse que ainda que Misrata, localizada a 200 quilômetros a leste de Trípoli, já estava cercada por tropas pró-Gaddafi e que o abastecimento de água foi interrompido.
Em Benghazi, a segunda maior cidade líbia, um porta-voz da oposição disse que os rebeldes ainda planejam marchar para Trípoli, estratégia que havia sido evitada pela ofensiva de Gaddafi.

 Por Folha