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Otan assume comando na Líbia; Turquia quer mediar cessar-fogo

Em entrevista exclusiva ao jornal britânico "Guardian", o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse que seu país está pronto para atuar como um mediador entre o regime do ditador Muammar Gaddafi e o Conselho de Transição Nacional (CNT), dos rebeldes opositores, e alertou para os riscos de que o país torne-se um "segundo Iraque" ou "outro Afeganistão".
As declarações de Erdogan chegam no mesmo dia em que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) assumiu o controle total das operações na Líbia e que os rebeldes retomaram mais duas cidades, Ras Lanuf e Ben Jawad. Ambas são estratégicas para a produção e escoamento de petróleo, e os rebeldes já anunciaram que pretendem controlar a exportação do produto no país.
Ainda na noite de domingo, a TV estatal da Líbia exibiu imagens do que seria o ditador líbio num carro em frente a sua casa, com centenas de militantes agitando bandeiras. Gaddafi não podia ser visto com clareza. O líder não aparece na televisão desde que fez um discurso na última terça-feira.

TURQUIA, ITÁLIA E ALEMANHA
 
Peça-chave no acordo que possibilitou a transição do comando das operações na Líbia da coalizão entre EUA, Reino Unido e França para a Otan, aliança da qual é membro desde 1952, a Turquia quer um papel maior nas iniciativas das potências no país do norte da África.
Erdogan adiantou ao "Guardian" que seu país deve em breve assumir o controle do porto e do aeroporto de Benghazi, capital dos rebeldes no leste da Líbia, para, em acordo com a Otan, facilitar a chegada de ajuda humanitária ao país.
O líder turco disse que Gaddafi precisa "mostrar confiança às forças da Otan imediatamente" para que possa haver progresso rumo a um cessar-fogo que coloque "fim ao derramamento de sangue na Líbia".
O premiê não comentou os planos também divulgados neste domingo pelo chanceler da Itália, Franco Frattini, que indicou a possibilidade de que Roma e Berlim proponham um plano conjunto para uma solução diplomática da crise líbia numa cúpula em Londres com seus colegas dos países da coalizão militar.
"Temos um plano e veremos se poderá se traduzir em uma proposta ítalo-alemã", disse Frattini em entrevista publicada pelo jornal "La Repubblica", na qual acrescentou que essa proposta poderia se traduzir em "um documento conjunto" para ser apresentado na terça-feira em Londres.
Frattini mencionou a participação da União Africana e da Liga Árabe para possíveis soluções, entre elas um potencial exílio de Gaddafi em outro país.

OTAN ASSUME CONTROLE NA LÍBIA
 
Após oito dias das operações da coalizão internacional na Líbia, o secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Anders Fogh Rasmussen, declarou que os EUA já repassaram à aliança o controle total da missão que implementa a resolução 1973, aprovada pelas Nações Unidas. Enquanto isso, aeronaves das potências intensificaram bombardeios à capital Trípoli e a Sirte, cidade natal de Gaddafi.
Em reunião de cúpula em Bruxelas, sede da aliança militar, os 28 países-membros da Otan fecharam um acordo para implementar todos os aspectos da resolução 1973 aprovada pelas Nações Unidas.
"Os aliados da Otan decidiram assumir a operação militar na Líbia por completo, sob a resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Nosso objetivo é proteger os civis e as áreas populadas por civis sob ameaça do regime de Gaddafi. A Otan implementará todos os aspectos da resolução da ONU. Nada mais, nada menos", disse Rasmussen.
A decisão já havia sido antecipada nesta semana pelo chanceler da Turquia, Ahmet Davutoglu, após teleconferências com seus colegas dos EUA, França e Reino Unido.

COALIZÃO ATACA PELO AR, REBELDES AVANÇAM POR TERRA
 
Ao mesmo tempo em que a Otan selou o controle das operações, a coalizão internacional intensificou os ataques sobre a capital Trípoli, e passou a bombardear também a cidade natal do ditador Muammar Gaddafi, Sirte, para onde os rebeldes avançam por terra e onde pretendem chegar nas próximas horas, informou a emissora Al Jazeera.
Após reconquistarem mais duas cidades no leste do país, Ras Lanuf e Ben Jawad, os opositores marcham agora rumo ao oeste.
A previsão é de que eles avancem sobre Sirte nas próximas 24 horas, disse o porta-voz dos revolucionários, Muhamad Mergirby. "Os rebeldes tomaram Ben Jawad e ficaram ali, não continuaram", explicou, adiantando que as tropas da oposição devem aguardar para seguir a marcha.
Após vencer os soldados leais a Gaddafi em Ajdabiyah, 160 quilômetros ao sudoeste de Benghazi (capital dos rebeldes), as forças opositoras tomaram Brega (ainda no sábado) e Ras Lanuf e Ben Jawad neste domingo.
Em seu caminho rumo ao oeste, eles percorreram em seu avanço desde Benghazi cerca de 441 quilômetros em apenas 48 horas.
O porta-voz dos rebeldes calculou que o regime conta com cerca de 10 mil soldados, enquanto os rebeldes teriam ao menos o dobro, 20 mil. "O problema é que eles estão mais bem equipados com tanques e armas, e os rebeldes só têm armas simples", disse.
Mergirby explicou ainda que daqui até segunda os rebeldes recuperarão as forças e se abastecerão em Ben Jawad até lançar a ofensiva contra Sirte.
"Agora pararam porque é perigoso, e não se movimentarão até que as forças da coalizão internacional bombardeiem primeiro as posições de Gaddafi em Sirte", explicou o representante rebelde.

Por Folha