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Situação é "grave" e está "longe de ser resolvida", diz Japão

Em seu primeiro pronunciamento público nos últimos sete dias, o primeiro-ministro do Japão disse que a situação do vazamento nuclear na usina de Fukushima Nº1 ainda está "longe de ser resolvido" e que o governo permanece vigilante, embora os esforços concentrem-se em "evitar que o problema fique pior".
"Estamos nos esforçando para evitar que a situação piore, mas sinto que não podemos nos tornar complacentes. Precisamos continuar vigilantes", disse Kan.
"A situação hoje na usina de Fukushima ainda é muito grave e séria. Não estamos numa posição em que podemos ser otimistas. Devemos tratar cada desdobramento com cuidado extremo", complementou.
O posicionamento do premiê chega no mesmo dia em que dois técnicos que trabalham para conter o vazamento foram hospitalizados por radiação sofrida na usina nuclear danificada.
O acidente, ocorrido na quinta-feira, ainda não teve suas causas reveladas, mas pode ter sido consequência de uma ruptura grave no reator 3, elevando a probabilidade de que a contaminação da água e lençois freáticos seja maior do que se esperava.
O fato também coloca sob holofotes a decisão do governo de não pedir que moradores de um raio maior ao entorno da usina abandonem suas casas.
Nesta sexta-feira, mais uma vez o governo não emitiu um alerta de evacuação, e limitou-se a pedir que moradores num raio de 20 a 30 km ao redor da usina "deixem suas casas de forma voluntária".
Embora a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), da ONU (Organização das Nações Unidas) tenha informado que os dois podem ter alta em breve, o acidente trouxe à tona perspectivas de que o potencial de contaminação seja muito maior do que se previa.
Os dois tentavam resfriar um dos reatores mais críticos da usina, na quinta-feira, quando foram expostos a níveis de radiação 10 mil vezes acima do previsto, fato que levou ao receio de que exista um vazamento no invólucro do núcleo do reator.

CONTAMINAÇÃO
 
"Segundo informações que recebemos do Japão, eles provavelmente terão alta na próxima segunda-feira (28). Mas na minha perspectiva médica, se eles têm algo grave, não deverão ter alta na segunda", disse Rethy Chem, diretor de saúde humana da AIEA, em entrevista coletiva.
Chem disse que é "exagero" descrever como queimaduras as lesões que os homens sofreram nos pés, mas que está claro que eles foram contaminados.
Acredita-se que os técnicos, que trabalhavam em uma sala de turbinas, tenham ignorado os alarmes em seus equipamentos de monitoramento da radiação.
O reator em que eles trabalhavam, o número 3 (de seis ao todo), é o único a usar plutônio em seu misto de combustível, sendo portanto mais tóxico que os outros, que empregam apenas urânio. O Japão pediu uma investigação para averiguar a razão do aparecimento repentino de níveis tão altos de radiação.

ESFORÇO EM EQUIPE
 
Mais de 700 engenheiros vêm trabalhando em turnos para estabilizar a usina danificada por um terremoto e um tsunami.
"Pouca coisa mudou na usina Fukushima Daiichi nas últimas 24 horas. Algumas tendências positivas continuam, mas restam áreas de incerteza que causam preocupação séria", disse um alto funcionário da AIEA, Graham Andrew.
Autoridades nucleares japonesas sugeriram que o recipiente de pressão da unidade poderia ter sido danificado, porém mais tarde minimizaram esse risco.
Questionado sobre como é possível que a radiação esteja saindo da usina se não houve danos ao receptáculo do reator, Andrew disse que ela pode estar vindo do vapor emitido pela usina superaquecida.
Ele disse ainda que a radiação parece estar vindo do núcleo de combustível altamente radiativo, e não dos tanques que contêm combustível usado na usina, que também são motivos de preocupação.
VÍTIMAS
 
Duas semanas depois do devastador terremoto e tsunami que atingiram o Japão, a Polícia Nacional contabilizou 10.102 mortes confirmadas. Outras 17.053 pessoas ainda estão desaparecidas e mais de 240 mil ainda estão em 1.900 abrigos por todo o país.
O número final de vítimas ainda deve aumentar. As buscas por vítimas na província de Fukushima foram interrompidas diante da crise nuclear na usina de Fukushima Daiichi. Já em Myiagi, afirma a agência de notícias Kyodo, as autoridades estimam que muitos corpos devem ser recuperados do mar. 
A polícia de Myiagi divulgou em seu site informações sobre mais de 2.000 corpos recuperados, incluindo detalhes de tamanho e roupas, na esperança de identificá-los.
Em Iwate, Myiagi e Fukushima, as mais afetadas pelo tremor, foram realizadas autópsias em 9.890 corpos. Destes, cerca de 6.890 foram identificados e 6.320 foram devolvidos para suas famílias.

Por Folha