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Em vídeo de 2010, Wellington já falava em bullying e vingança

Vingar-se de inimigos imaginários e chamar atenção do mundo, considerando-se vítima da sociedade, é algo que passava pela cabeça do maníaco Wellington Menezes de Oliveira desde, pelo menos, julho de 2010. Essa é a data do último acesso a um disco de computador – um HD interno – apreendido entre os pertences do jovem de 24 anos que matou 12 crianças na última quinta-feira, no ataque à escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Em um vídeo apresentado na tarde desta quarta-feira pelo chefe do Departamento de Polícia Técnico-Científica do estado do Rio, Sérgio Henriques, Wellington fala de seu plano e diz que a maioria das pessoas acha que ele é “um idiota”, fazendo referência a episódios de bullying.
"A maioria das pessoas me desrespeita. Acham que sou um idiota, se aproveitam de minha bondade, me julgam antecipadamente. São falsas, desleais. Descobrirão quem eu sou da maneira mais radical numa ação que farei pelos meus semelhantes, que são humilhados, agredidos, desrespeitados em vários locais, principalmente em escolas e colégios, pelo fato de serem diferentes, de não fazerem parte do grupo dos infiéis, dos desleais, dos falsos, dos corruptos, dos maus. São humilhados por serem bons”, diz o criminoso, enquanto lê uma folha de papel pautado e olha fixamente para a câmera. Segundo Henriques, é um modelo Kodak, que serve de webcam, filmadora e máquina fotográfica.
Diferentemente da gravação feita dois dias antes do massacre, no vídeo divulgado pela Polícia Civil Wellington parece estar deixando uma explicação sobre o que faria, sem dirigi-la a interlocutores específicos. No material divulgado pelo Jornal Nacional, Wellington chama de “irmãos” pessoas que aparentemente teriam conhecimento de seus planos.
O disco de computador foi apreendido em uma prateleira, com outros objetos empoeirados. Ele provavelmente foi substituído, por um mais novo e com maior capacidade, no computador de Wellington.
O arquivo de pouco mais de 80 megabytes estava intacto na memória do disco. A polícia tenta, agora, recuperar os dados apagados. Para isso, são usados programas de uma tecnologia chamada de ‘incase’, a mesma empregada pelo FBI para investigações desse tipo, em computadores de criminosos ou em máquinas destruídas acidentalmente ou de forma proposital.
Como explicou Sérgio Henriques, primeiro os peritos fazem uma duplicação de todo o HD – o espelhamento. A partir daí, recupera-se o que foi apagado. Só depois disso começam a ser desvendadas as informações de contas de e-mail, sites de relacionamento, sistemas de mensagens instantâneas (como o MSN) e textos e imagens deixados pelo criminoso.
O diretor de Polícia Técnica reafirma que não há indícios de que Wellington integre qualquer movimento terrorista ou grupos fundamentalistas. Para a polícia, o crime está atribuído unicamente à insanidade do jovem. “O esquizofrênico sabe o que está fazendo e não tem remorso. Na cabeça dele, está fazendo um bem para a sociedade. Junta informações desconexas. Como o bullying foi sofrido no colégio, executou o massacre no colégio”, diz Henriques.
Os bilhetes e depoimentos foram enviados para um psiquiatra forense que vai traçar o perfil de Wellington. Sérgio Henriques destacou ainda o processo de “construção da esquizofrenia” que parecia estar em curso na mente de Wellington. “Ele vivia um personagem, o que é uma das características do esquizofrênico. Cria uma cisma e uma hora põe isso em prática. Os bilhetes têm uma mistura de seitas, um esquizofrênico típico. É um personagem que ao longo do tempo vai variando”, explica.

Armas – Um outro detalhe do caso serve, segundo Sérgio Henriques, para a polícia descartar a possibilidade de ação terrorista. Como lembra o diretor de polícia técnica, as armas utilizadas no massacre – um revólver calibre 38 e outro calibre 32 – não são usadas por terrorista. “Está descartada a hipótese de ligação com terroristas. Não dá pra imaginar relação da Al-Qaeda com alguém que usa um revólver 32”, diz Henriques.
Apesar de outros investigadores já terem afirmado que a escolha dos alvos de Wellington foi aleatória, Sérgio Henriques vê, no passado de humilhações, uma possível explicação para o alto número de meninas atingidas pelo atirador. “Ele sofria bullying principalmente de meninas, e isso pode ter colaborado para o fato de ele ter feito mais vítimas do sexo feminino”, analisa.

Outros arquivos - Sérgio Henriques afirmou que não estão com a polícia técnica do Rio os arquivos do vídeo exibido na noite de terça-feira pelo Jornal Nacional, da Rede Globo. Ele também não sabe dizer como esta filmagem foi parar com a emissora. A polícia pretende desvendar, ainda, os dados de um HD queimado, encontrado na casa de Sepetiba, último endereço de Wellington.

Por Veja