Festa ressalta abismo entre fãs e inimigos da Família Real
As floristas tomaram todo o cuidado para seguir a recomendação da noiva na decoração da Abadia de Westminster. Se Catherine Middleton quer cores neutras para entrar na igreja, quem vai contrariar?
Flores brancas, verdes e creme foram escolhidas. Para garantir que tudo seja perfeito hoje, mais de mil militares e funcionários que participarão da cerimônia madrugaram ontem para um ensaio final. Varredores limparam as ruas e jogaram areia no trajeto onde os cavalos da guarda real trotarão solenemente. Está tudo pronto.
Quem está em Londres e não aguenta mais ouvir falar de casamento real não precisa deixar a cidade em disparada em busca de sossego. Há pelo menos dois oásis na capital britânica onde se pode caminhar por algumas milhas sem nem se lembrar da cerimônia que será acompanhada hoje por 2 bilhões de pessoas mundo afora. Eles abrigam algumas das mais emblemáticas figuras londrinas. Um deles é a City, onde o coração bate forte é pelas libras esterlinas do mercado financeiro. O outro é Camdem Town, casa de descolados, punks, góticos e desencanados em geral.
A frieza dos ternos e tailleurs que circulam pela City, único bairro com prédios altos e metálicos da cidade, e onde não se vê nem uma foto sequer do sorridente casal real, é reproduzida na opinião dos operadores do mercado financeiro. Peter Kelly, por exemplo, é gerente de uma seguradora e está decidido a aproveitar o feriado de hoje para jogar golfe, enquanto a mulher assiste a tudo pela TV. "Esse casamento é mais coisa de mulher mesmo", diz, brincando. Ele acredita que a Grã-Bretanha é muito mais guiada pelo Parlamento do que pela realeza e a relação dos britânicos com seus soberanos não é a mesma dos tempos de Henrique VIII, quando cabeças ainda rolavam pelo reino.
Mais adiante, Janet Wilsher, gerente de crédito de um banco, atesta a visão de Kelly. Ela mal pode esperar para assistir à cerimônia e já marcou com vizinhos e amigos para acompanhar a transmissão em um pub perto de sua casa. "Meu marido também vai. Mas vai pela cerveja", afirma. Entusiasta da família real, ela os exalta ao dizer que são "a melhor parte do nosso país", embora confesse que esteja sozinha nessa opinião em seu meio profissional.
Phillip Garder, corretor de seguros, vai além. Jura que o casamento foi arranjado para que os britânicos esqueçam a grave crise financeira pela qual passaram e de que ainda não se recuperaram totalmente. "É só para levantar o moral do povo, não tenho ilusões românticas." Sem romantismo algum, mas com um pouco mais de humor, James Rice, também no ramo de seguros, diz que já teve o moral bem levantado, mas por causa de Kate. "Eu achava ela linda, mas ela emagreceu demais." Rice fará um churrasco amanhã. E não ligará a TV.
Roqueiros. Longe da realidade financeira do país, as criaturas que frequentam Camdem, onde a indiferença é um estilo de vida há décadas, são ainda mais taxativas. "Sou um punk. Como poderia me importar?", diz o rapaz de cabelo moicano amarelo que quis ser identificado apenas como "punk", para não deixar dúvidas. Paul Egan, de 24 anos, é barman de um famoso pub da área. Com alargadores de orelha e tatuagens, ele resume: "Eu sou irlandês. A família real já seria uma piada para mim de qualquer forma. Além disso, em Camdem não ligamos para eles."
Mas há uma divergências na juventude. Sarah Walton, de 19 anos, David Granham, de 22, e Josh Kelly, de 20, dividem-se entre a admiração e o desprezo pela família real. Sarah acompanha, lê a respeito, sente-se representada em algum nível por essa nova geração da monarquia. David, por sua vez, queria vê-los extintos. Logo. E Josh tem um ressentimento econômico apenas. "Eles não vão dar um centavo para o meu casamento. Por que eu tenho de pagar pelo deles?" Os três resumem apenas que tudo isso é menos importante do que parece nesses dias de exaltação à realeza por causa da festa.
No extremo sul de Londres, um terceiro bairro emblemático da cidade se preparava ontem para a celebração. Brixton é a região dos imigrantes e dos negros da capital britânica. Repleto de lojas populares e restaurantes de comida típica africana, paquistanesa, indiana e jamaicana, o bairro também não exibia bandeirinhas com o sorriso de William e Kate, mas os súditos estrangeiros se sentiam parte da festa.
Flores brancas, verdes e creme foram escolhidas. Para garantir que tudo seja perfeito hoje, mais de mil militares e funcionários que participarão da cerimônia madrugaram ontem para um ensaio final. Varredores limparam as ruas e jogaram areia no trajeto onde os cavalos da guarda real trotarão solenemente. Está tudo pronto.
Quem está em Londres e não aguenta mais ouvir falar de casamento real não precisa deixar a cidade em disparada em busca de sossego. Há pelo menos dois oásis na capital britânica onde se pode caminhar por algumas milhas sem nem se lembrar da cerimônia que será acompanhada hoje por 2 bilhões de pessoas mundo afora. Eles abrigam algumas das mais emblemáticas figuras londrinas. Um deles é a City, onde o coração bate forte é pelas libras esterlinas do mercado financeiro. O outro é Camdem Town, casa de descolados, punks, góticos e desencanados em geral.
A frieza dos ternos e tailleurs que circulam pela City, único bairro com prédios altos e metálicos da cidade, e onde não se vê nem uma foto sequer do sorridente casal real, é reproduzida na opinião dos operadores do mercado financeiro. Peter Kelly, por exemplo, é gerente de uma seguradora e está decidido a aproveitar o feriado de hoje para jogar golfe, enquanto a mulher assiste a tudo pela TV. "Esse casamento é mais coisa de mulher mesmo", diz, brincando. Ele acredita que a Grã-Bretanha é muito mais guiada pelo Parlamento do que pela realeza e a relação dos britânicos com seus soberanos não é a mesma dos tempos de Henrique VIII, quando cabeças ainda rolavam pelo reino.
Mais adiante, Janet Wilsher, gerente de crédito de um banco, atesta a visão de Kelly. Ela mal pode esperar para assistir à cerimônia e já marcou com vizinhos e amigos para acompanhar a transmissão em um pub perto de sua casa. "Meu marido também vai. Mas vai pela cerveja", afirma. Entusiasta da família real, ela os exalta ao dizer que são "a melhor parte do nosso país", embora confesse que esteja sozinha nessa opinião em seu meio profissional.
Phillip Garder, corretor de seguros, vai além. Jura que o casamento foi arranjado para que os britânicos esqueçam a grave crise financeira pela qual passaram e de que ainda não se recuperaram totalmente. "É só para levantar o moral do povo, não tenho ilusões românticas." Sem romantismo algum, mas com um pouco mais de humor, James Rice, também no ramo de seguros, diz que já teve o moral bem levantado, mas por causa de Kate. "Eu achava ela linda, mas ela emagreceu demais." Rice fará um churrasco amanhã. E não ligará a TV.
Roqueiros. Longe da realidade financeira do país, as criaturas que frequentam Camdem, onde a indiferença é um estilo de vida há décadas, são ainda mais taxativas. "Sou um punk. Como poderia me importar?", diz o rapaz de cabelo moicano amarelo que quis ser identificado apenas como "punk", para não deixar dúvidas. Paul Egan, de 24 anos, é barman de um famoso pub da área. Com alargadores de orelha e tatuagens, ele resume: "Eu sou irlandês. A família real já seria uma piada para mim de qualquer forma. Além disso, em Camdem não ligamos para eles."
Mas há uma divergências na juventude. Sarah Walton, de 19 anos, David Granham, de 22, e Josh Kelly, de 20, dividem-se entre a admiração e o desprezo pela família real. Sarah acompanha, lê a respeito, sente-se representada em algum nível por essa nova geração da monarquia. David, por sua vez, queria vê-los extintos. Logo. E Josh tem um ressentimento econômico apenas. "Eles não vão dar um centavo para o meu casamento. Por que eu tenho de pagar pelo deles?" Os três resumem apenas que tudo isso é menos importante do que parece nesses dias de exaltação à realeza por causa da festa.
No extremo sul de Londres, um terceiro bairro emblemático da cidade se preparava ontem para a celebração. Brixton é a região dos imigrantes e dos negros da capital britânica. Repleto de lojas populares e restaurantes de comida típica africana, paquistanesa, indiana e jamaicana, o bairro também não exibia bandeirinhas com o sorriso de William e Kate, mas os súditos estrangeiros se sentiam parte da festa.
Por Estadão