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Interferência política torna FGTS-Vale a pior aplicação

RIO - O conturbado processo de substituição do presidente da Vale, Roger Agnelli, no mês de março, foi decisivo para o desempenho das ações da companhia nas últimas semanas. O resultado é que os investidores que têm recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) aplicados na empresa foram os que amargaram as maiores perdas em aplicações financeiras em março. A perda foi de 6,81% até o último dia 28, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima). Em 2011, o recuo é de 4,89%. A pressão do governo para trocar o comando da empresa tem despertado no mercado temores sobre a extensão da interferência política na condução dos negócios da Vale. Com isso, suas ações estiveram entre as que mais recuaram no Ibovespa no mês passado. Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) caíram 5,24%, para R$ 53,35, enquanto os preferenciais (PNA, sem voto) tiveram queda de 4,46%, para R$ 47,39.
- Pelos fundamentos, era para as ações da Vale estarem voando (subindo). Os preços do minério de ferro estão lá em cima e a empresa divulgou um balanço excepcional. Mas a incerteza e o impacto de uma indicação política estão pesando sobre os papéis - afirma o sócio da M2 Investimentos, Bruno Lembi.
Vêm sendo afetados pela queda dos papéis 471 mil acionistas da Vale, bem como os 254 mil trabalhadores que investiram parte de seu FGTS em ações da mineradora.

FGTS-Petrobras é a aplicação do ano

Na última sexta-feira, o Bradesco cedeu à pressão do governo e decidiu apoiar a saída de Agnelli da presidência da Vale, após reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente da Previ, Ricardo Flores, como informou o colunista do GLOBO Ancelmo Gois. A expectativa é que as ações da Vale continuem voláteis, até que seja definido o nome do substituto de Agnelli.
Se os investidores de Vale estão sofrendo, quem investiu no FGTS-Petrobras tem o que comemorar no ano. O rendimento em 2011, até dia 28, é o maior entre as aplicações financeiras, de 6,55%, embora tenha sido de apenas 0,07% em março.
Os fundos de renda fixa foram a melhor aplicação do mês passado, com rendimento de 0,88%. Isso ocorreu porque a expectativa do mercado para as taxas de juros no futuro foi-se reduzindo ao longo de março.
- Com a mudança da postura do Banco Central, de apostar mais em medidas macroprudenciais que nos juros para conter a inflação, a curva de juros futuros foi reduzindo - explica o tesoureiro do Banco Modal, Luiz Eduardo Portella.
Os fundos DI (pós-fixados) foram a segunda melhor aplicação de março, com rendimento de 0,80%, seguidos pelos multimercados multiestratégia (que podem investir em renda fixa, variável ou câmbio), com ganho de 0,79%, pelos dados até o dia 28.
A inflação elevada, no entanto, continua corroendo parte dos ganhos do investidor. O IGP-M registrou alta de 0,62% em março, o que praticamente anula o ganho de 0,62% das cadernetas de poupança com aniversário em 1 de abril. No ano, a poupança acumula rendimento 1,76%, enquanto a inflação medida pelo IGP-M já atinge 2,43%.
Os fundos de ações indexados ao Ibovespa amargaram perda de 0,35% até o dia 28, mas tendem a fechar o mês no território positivo, já que os últimos dias foram de ganhos para a Bolsa. O Ibovespa encerrou março com alta de 1,79%, embora ainda registre queda de 1,04% no ano.
- A Bovespa deu uma recuperada nos últimos dias, mas continua indefinida. Ainda não vejo muita força na recuperação - afirma o administrador de investimentos Fabio Colombo.
Já os fundos cambiais (que consideram as aplicações em euro e dólar) renderam 0,30% em março. A moeda americana perdeu 1,92% e encerrou o mês cotada a R$ 1,631.
Nesta quinta-feira, a Bolsa de Valores de São Paulo subiu pelo terceiro dia seguido. O Ibovespa, referência do mercado, avançou 0,87%, a 68.586 pontos, maior nível desde 26 de janeiro. O desempenho foi puxado pelo setor bancário.

Por O Globo