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Cabral diz que vai 'rever conduta' e agora defende código de ética

29_MHB_Cabral_enterro2906O governador Sérgio Cabral afirmou, em entrevista exclusiva à rádio CBN na manhã desta quarta-feira, que vai assumir o compromisso de rever sua conduta e criar um código de conduta que estabeleça limites para a relação entre o Executivo e empresários. Cabral afirmou que vai discutir novas regras sobre o assunto com o secretário da Casa Civil, Régis Fichtner. Após um acidente de helicóptero em Trancoso, no último dia 17 de junho , ficou evidenciada a amizade entre o governador e o empresário Eike Batista, que emprestou seu jato particular para que Cabral e familiares viajassem para a Bahia para a festa de aniversário de Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, empreiteira cuja participação em contratos do governo do estado cresceu em seu mandato.
- É uma relação respeitosa. Quero assumir o compromisso de rever minha conduta. Vamos construir um código juntos, vamos estabelecer os limites. Tem um código nacional, se não me engano, feito no fim do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002. E deve haver estados em que há. Adoro Direito comparado. Vamos ver o que há em outros estados do Brasil e no mundo. Enquanto eu for um homem público, tenho que respeitar a opinião pública, debater com a opinião pública. Sempre me submeti a isso, como deputado, senador e como governador. Não há nenhum problema nisso - afirmou.
Cabral negou que suas relações pessoais com o presidente da Delta tenham influenciado no aumento de contratos da construtora com o governo do estado nos anos de sua gestão - apenas no último ano, o crescimento foi de 655%. O governador afirmou que a expansão se deve aos investimentos que estão feitos no Rio e que "é um absurdo querer vincular qualquer elo de amizade entre mim e o Fernando, que é anterior ao meu mandato, com o crescimento da empresa". Ele garantiu ainda que jamais tomou qualquer decisão que envolva dinheiro público por conta de amizades pessoais.
- Minha vida privada é uma coisa, minha vida pública é outra e nunca misturei isso. A Delta tinha 80% do seu faturamento proveniente do Rio, há 11 anos. Hoje, tem menos de 25%. A empresa cresceu no Brasil todo. O Rio vive uma dinâmica de crescimento muito rara. É um absurdo querer vincular qualquer elo de amizade entre mim e o Fernando, que é anterior ao meu mandato, com o crescimento da empresa. Jamais tomei qualquer decisão que envolva dinheiro público com base em questões pessoais - afirmou.
Cabral negou também a informação publicada pela Folha de S. Paulo de que chegou ao resort Jacumã, em Trancoso, na manhã do dia 17, data em que caiu no mar o helicóptero que carregava a namorada de seu filho, Mariana Noleto, a mulher de Fernando Cavendish, Jordana Cavendish, e mais cinco pessoas, que morreram no acidente. O governador afirma que chegou ao local pouco depois das 17h:
- Saímos daqui na sexta por volta das 17h. Não é verdade que estive lá pela manhã. Conheci o prefeito da cidade durante a tragédia. Ele apareceu no hangar onde ficamos por volta de 21h30m, 22h, porque estava num evento - disse.
O jato Legacy que transportou o governador, seu filho Marco Antonio Cabral e a namorada Mariana Noleto, além de Cavendish e sua família foi emprestado pelo megaempresário Eike Batista , que doou R$ 750 mil para a campanha de Cabral à reeleição, em 2010. Eike também é um dos maiores parceiros das UPPs, projeto do governo estudual para o qual prometeu destinar R$ 40 milhões.
A Delta de Fernando Cavendish já soma cerca de R$ 1 bilhão em contratos com o governo do estado desde 2007, primeiro ano do governo Cabral. Reportagem publicada pelo GLOBO mostra que, somente neste ano, a empreiteira obteve R$ 58,7 milhões em empenhos para a realização de serviços para os quais não houve licitação , pois foram aprovados em caráter emergencial. Em 2007, o o total de empenhos foi de R$ 67,2 milhões, valor que saltou para R$ 506 milhões no ano passado. Entre os consórcios de que a empresa participa estão a reforma do Maracanã e a construção do Arco Metropolitano.
Por meio de sua assessoria, a Delta emitiu uma nota afirmando que suas relações com o governo do estado não são pautadas pela amizade entre Cavendish e Cabral, e que os contratos da empresa com o governo do estado estão dentro da legalidade.

 

Por O Globo