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Gravações indicam que número 2 do Turismo ajudava em fraudes

Gravações telefônicas feitas com autorização judicial e obtidas pela Folha mostram que Frederico Silva da Costa, secretário-executivo do Ministério do Turismo, preso na Operação Voucher, da Polícia Federal, agiu diretamente para auxiliar e acobertar o esquema de fraude em convênios na pasta.
Fred, como é conhecido, e um assessor, Antônio dos Santos Junior, aparecem nas gravações conversando com os empresários que comandariam o esquema.
Número dois na hierarquia do ministério, Fred está na pasta desde 2003. Em 2011, quando Pedro Novais (PMDB-MA) foi nomeado ministro, Frederico foi alçado ao cargo de secretário-executivo, apadrinhado pelo líder do partido, Henrique Eduardo Alves (RN).
Segundo mostram as investigações, os problemas com a ONG Ibrasi (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Infraestrutura Sustentável) já eram conhecidos pela cúpula do ministério. Uma das evidências é o fato de uma funcionária da pasta ter sido designada para ir até o escritório de um dos empresários para cuidar da prestação de contas.
As investigações também mostram que uma funcionária do Ministério do Turismo relata uma reunião em que Regina Cavalcante, secretaria de Treinamento da pasta, saiu da sala dizendo que o Fred "sabia de tudo, tudo que a gente fazia era por ordem dele".
Desde abril, funcionários de empresas já sabiam que estavam sendo monitorados. Em um dos diálogo, um empresário diz que "estão fechando o cerco".
"O telefone tá (sic) aqui, tá (sic) aqui cinco policiais (...) não mandei você usar 'porra' nenhuma da minha empresa", diz um empresário que participou de uma cotação prévia. E em outro diálogo: "Ele não falou que era auditoria não, ele falou que era fraude não sei o que, num convênio de capacitação lá no Amapá".
Há ainda conversas, do mesmo empresário, que indicam que pessoas envolvidas no esquema poderiam estar apagando provas. "Ô, cê (sic) vai pegar todos os talões, tá ouvindo? Todos".

OPERAÇÃO
 
A Operação Voucher, deflagrada no último dia 9 pela Polícia Federal, investiga um suposto esquema de desvios relacionados a convênio firmado entre a ONG Ibrasi e o Ministério do Turismo para capacitação profissional no Amapá.
Ao todo, 36 pessoas foram presas na operação em Brasília, São Paulo e no Amapá, incluindo Frederico Silva da Costa, que está na pasta desde 2003.
As investigações apontam que os R$ 4 milhões do Ministério do Turismo que deveriam treinar pessoas no Amapá foram desviados por meio de todo o tipo de fraude, incluindo ONG de fachada, notas fiscais falsas e a conivência de funcionários públicos, segundo a investigação da Polícia Federal.
Os problemas começam desde a escolha da instituição, feita pela deputada federal Fátima Pelaes (PMDB-AP) por meio de emenda parlamentar.
A entidade, apesar de criada em 2006, não funcionou até junho de 2009, quando uma reunião de conselheiros mudou o nome e a finalidade da organização para trabalhar com turismo.

Por Folha