O violento fim de um ditador
A morte de Muamar Kadafi, ainda que envolta em relatos imprecisos e imagens com cenas caóticas dos últimos momentos do cerco a Sirta, evitou um longo e complexo julgamento que poderia dividir a Líbia e constranger governos ocidentais e companhias de petróleo, dizem analistas.
Um militar de alto escalão do Conselho Nacional de Transição (CNT) disse que o ex-líder líbio morreu após um bombardeiro da Otan atingir o comboio no qual fugia de Sirta. Mas rumores dão conta de que o ditador teria sido capturado com vida e depois executado ou ainda de que teria sido encontrado em um esconderijo na cidade ou até que Kadafi teria morrido durante um tiroteio em Sirta após ser capturado por soldados rebeldes. De qualquer forma, as primeiras notícias da morte de Kadafi já foram suficiente para motivar celebrações em toda a Líbia e ajudar a baixar o preço do petróleo, que caiu cerca de 30% nesta quinta-feira.
Se ele estivesse vivo, possivelmente ocorreria um debate sobre onde ele seria julgado: ou na Líbia ou pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), que em maio expediu um mandato de prisão contra o ditador, seu filho Saif al-Islam, que também foi capturado e estaria gravemente ferido em um hospital de Zlitan e o ex-chefe da Inteligência da Líbia, Abdullah al-Sanoussi, também morto na operação desta quinta-feira.
Qualquer tribunal poderia dar a Kadafi uma nova oportunidade de constranger tanto os novos líderes da Líbia, quanto as potências internacionais, e lembrar de questões que todos preferem deixar esquecidas. Além disso, ele poderia relembrar laços com importantes companhias de petróleo que na última década assinaram contratos bilionários com o regime. Mas o pior mesmo seria, dizem analistas, se o ditador tivesse continuado escondido nos desertos do país, articulando novas milícias, minando a estabilidade da Líbia e de seus vizinhos e prejudicando a credibilidade da Otan e do CNT.
- (A morte de Kadafi) é de uma enorme importância simbólica - disse Alan Frase, analista de Oriente Médio para a consultoria de risco AKE. - Ajuda o CNT a seguir em frente. Se Kadafi foi mesmo morto, ao invés de capturado, isso também pode ser visto como uma forma de evitar um longo julgamento que poderia revelar secretos constrangedores.
Organizações de direitos humanos há muito afirmam a importância de o ditador líbio ser capturado e levado a julgamento, o que poderia oferecer ao novo governo da Líbia uma chance de mostrar suas intenções e comprometimentos com os crimes cometidos contra civis por membros do regime.
Morte tem lados positivos e negativos para governo interino
Um militar de alto escalão do Conselho Nacional de Transição (CNT) disse que o ex-líder líbio morreu após um bombardeiro da Otan atingir o comboio no qual fugia de Sirta. Mas rumores dão conta de que o ditador teria sido capturado com vida e depois executado ou ainda de que teria sido encontrado em um esconderijo na cidade ou até que Kadafi teria morrido durante um tiroteio em Sirta após ser capturado por soldados rebeldes. De qualquer forma, as primeiras notícias da morte de Kadafi já foram suficiente para motivar celebrações em toda a Líbia e ajudar a baixar o preço do petróleo, que caiu cerca de 30% nesta quinta-feira.
Se ele estivesse vivo, possivelmente ocorreria um debate sobre onde ele seria julgado: ou na Líbia ou pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), que em maio expediu um mandato de prisão contra o ditador, seu filho Saif al-Islam, que também foi capturado e estaria gravemente ferido em um hospital de Zlitan e o ex-chefe da Inteligência da Líbia, Abdullah al-Sanoussi, também morto na operação desta quinta-feira.
Qualquer tribunal poderia dar a Kadafi uma nova oportunidade de constranger tanto os novos líderes da Líbia, quanto as potências internacionais, e lembrar de questões que todos preferem deixar esquecidas. Além disso, ele poderia relembrar laços com importantes companhias de petróleo que na última década assinaram contratos bilionários com o regime. Mas o pior mesmo seria, dizem analistas, se o ditador tivesse continuado escondido nos desertos do país, articulando novas milícias, minando a estabilidade da Líbia e de seus vizinhos e prejudicando a credibilidade da Otan e do CNT.
- (A morte de Kadafi) é de uma enorme importância simbólica - disse Alan Frase, analista de Oriente Médio para a consultoria de risco AKE. - Ajuda o CNT a seguir em frente. Se Kadafi foi mesmo morto, ao invés de capturado, isso também pode ser visto como uma forma de evitar um longo julgamento que poderia revelar secretos constrangedores.
Organizações de direitos humanos há muito afirmam a importância de o ditador líbio ser capturado e levado a julgamento, o que poderia oferecer ao novo governo da Líbia uma chance de mostrar suas intenções e comprometimentos com os crimes cometidos contra civis por membros do regime.
Morte tem lados positivos e negativos para governo interino
Mas alguns críticos reclamam que muitos julgamentos de crimes de guerra, locais ou internacionais, demoram muito para analisar provas, se transformando, muitas vezes, em verdadeiros shows. Líderes como Saddam Hussein e Slobodan Milosevic, por exemplo, usaram suas audiências para negar qualquer crime e para ofender seus algozes. Além disso, o líder derrubado também pode usar a oportunidade de um tribunal de grande visibilidade para abrir feridas políticas e incitar novos problemas.
- A morte de Kadafi é um evento ambivalente para as novas autoridades líbias - disse Daniel Korski, membro do Conselho Europeu para Relações Exteriores e defensor da intervenção da Otan - Eles evitaram um drama judicial como foi com Milosevic, o que poderia ter incitado simpatizantes do ditador líbio, mas sua morte também tira do governo interino a chance de mostrar que são melhores que o ex-líder. A morte de Kadafi, em circunstâncias tão violentas, pode transformá-lo num mártir.
A imprensa internacional teria esmiuçado todos os detalhes sórdidos de como os governo ocidentais ajudaram Kadafi a construir seu império e construir a indústria de petróleo do país. Muitas grandes imprensa como a British Petroleum, a italiana ENI e a francesa Total tinham contratos com o ditador.
Este risco, é bem verdade, ainda não foi apagado completamente. Alguns filhos de Kadafi ainda estão soltos e podem, eles próprios, serem réus de julgamentos.
Se o CNT queria julgar Kadafi internamente, eles provavelmente enfrentaria problemas para erguer um sistema legal. A Líbia de Kadafi tinha muito pouca credibilidade em infraestrutura judicial, e muitas dúvidas sobre a legitimidade do processo poderiam surgir.
Desde a morte de Osama bin Laden, assassinado por forças especiais americanas, a morte de líderes controversos (no lugar de seus julgamento) se tornou uma opção também muito atraente.
- Dizer que é melhor para todo mundo que ele esteja morto é dizer que o processo legal tem algumas desvantagens e se render ao cinismo - disse Rosemary Hollis, chefe do programa de estudos de Oriente Médio da London's City University -
Com a morte de Kadafi, diz Rosemary, há um risco de que seus simpatizantes e outros radicais queiram se vingar. E o risco será ainda maior se for de fato comprovado que ele foi morto pela Otan ou ainda executado. Apesar de vários líderes internacionais terem dito que a morte do ditador representa o fim de um capítulo sangrento na História da Líbia, analistas são categóricos: a morte de Kadafi está longe de ser o fim dos problemas líbios.
- A morte de Kadafi é um evento ambivalente para as novas autoridades líbias - disse Daniel Korski, membro do Conselho Europeu para Relações Exteriores e defensor da intervenção da Otan - Eles evitaram um drama judicial como foi com Milosevic, o que poderia ter incitado simpatizantes do ditador líbio, mas sua morte também tira do governo interino a chance de mostrar que são melhores que o ex-líder. A morte de Kadafi, em circunstâncias tão violentas, pode transformá-lo num mártir.
A imprensa internacional teria esmiuçado todos os detalhes sórdidos de como os governo ocidentais ajudaram Kadafi a construir seu império e construir a indústria de petróleo do país. Muitas grandes imprensa como a British Petroleum, a italiana ENI e a francesa Total tinham contratos com o ditador.
Este risco, é bem verdade, ainda não foi apagado completamente. Alguns filhos de Kadafi ainda estão soltos e podem, eles próprios, serem réus de julgamentos.
Se o CNT queria julgar Kadafi internamente, eles provavelmente enfrentaria problemas para erguer um sistema legal. A Líbia de Kadafi tinha muito pouca credibilidade em infraestrutura judicial, e muitas dúvidas sobre a legitimidade do processo poderiam surgir.
Desde a morte de Osama bin Laden, assassinado por forças especiais americanas, a morte de líderes controversos (no lugar de seus julgamento) se tornou uma opção também muito atraente.
- Dizer que é melhor para todo mundo que ele esteja morto é dizer que o processo legal tem algumas desvantagens e se render ao cinismo - disse Rosemary Hollis, chefe do programa de estudos de Oriente Médio da London's City University -
Com a morte de Kadafi, diz Rosemary, há um risco de que seus simpatizantes e outros radicais queiram se vingar. E o risco será ainda maior se for de fato comprovado que ele foi morto pela Otan ou ainda executado. Apesar de vários líderes internacionais terem dito que a morte do ditador representa o fim de um capítulo sangrento na História da Líbia, analistas são categóricos: a morte de Kadafi está longe de ser o fim dos problemas líbios.