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Coreia do Norte nomeia Kim Jong-un comandante do Exército

A Coreia do Norte disse neste sábado (no horário local) que Kim Jong-un, o filho do falecido líder Kim Jong-il, assumiu o "comando supremo" do Exército do país, conforme divulgou a mídia estatal.
Kim Jong-Un já havia sido declarado "líder supremo" do país durante as cerimônias em memória de seu pai na quinta-feira, quando a nação completou os 13 dias de luto pela morte de Kim Jong-il.
A nomeação ocorre de acordo com um testamento deixado por Kim Jong-il, datado de 8 de outubro de 2011.
Apesar de o comunicado deste sábado ser a primeira confirmação oficial de que Kim controlará as forças armadas, relatos anteriores sugerem que ele já estava à frente da instituição quando seu pai ainda estava vivo.
Mais cedo, a Coreia do Norte adotou um tom belicoso no seu primeiro contato com o mundo exterior desde a morte do líder Kim Jong-il, anunciando que sua posição combativa em relação à Coreia do Sul será mantida, e chamando os adversários de "tolos".
O mundo observa ansiosamente a Coreia do Norte desde a morte de Kim, no dia 17, para tentar entender se o seu filho caçula e sucessor, Kim Jong-un, de estimados 28 anos, manterá a política de prioridade militar que deixou o isolado país perto de desenvolver um arsenal nuclear.
Um dia depois de Kim Jong-un ser proclamado novo "líder supremo" durante as homenagens fúnebres ao seu pai, e coincidindo com a emissão de selos com a imagem do novo líder, a Comissão Nacional de Defesa norte-coreana confirmou que vai continuar apostando pela linha dura.
"Nesta ocasião, declaramos solenemente a confiança de que os políticos tolos ao redor do mundo, incluindo as forças fantoches na Coreia do Sul, não devem esperar quaisquer mudanças da nossa parte", dizia nota da Comissão Nacional de Defesa --instância mais poderosa do militarizado Estado comunista-- lida por uma apresentadora da TV estatal nesta sexta-feira.
A mensagem confirmou a declaração de intenções feita na quinta-feira pelo número dois do regime, Kim Yong-nam, durante a cerimônia pela morte de Kim Jong-il, ao garantir que o país não teria mudanças políticas sob a nova liderança.
A Coreia do Norte está habituada a dirigir frases belicosas contra a Coreia do Sul, ameaçando, por exemplo, transformar Seul em um "mar de fogo". A animosidade norte-coreana é especialmente forte contra o governo conservador sul-coreano de Lee Myung-bak, que assumiu o poder em 2008 e encerrou uma política de aproximação com Pyongyang.
Embora na semana passada Lee tenha insistido que a Coreia do Sul não quer demonstrar hostilidade em direção ao Norte, o regime comunista criticou Seul novamente nesta sexta-feira por não enviar pêsames oficiais nem uma delegação estatal ao funeral de Kim Jong-il e por restringir a duas o número de comitivas civis autorizadas a cruzar a fronteira.
"Obrigaremos indubitavelmente o grupo de traidores (o governo sul-coreano) a pagar por seus horríveis crimes cometidos no momento da grande desgraça nacional", afirmava ao respeito o comunicado de Pyongyang.
"Nunca vamos nos envolver com o governo de Lee Myung-bak", disse a locutora ao ler a mensagem. "O mar de lágrimas sangrentas dos nossos militares e do nosso povo irão perseguir o regime fantoche até o final. As lágrimas vão se transformar em um mar de fogo vingativo que queima tudo."
Em resposta às duras asseverações norte-coreanas, uma autoridade de Seul citada pela agência local Yonhap e que preferiu não se identificar, classificou o comunicado como decepcionante, embora tenha expressado a esperança de que o Norte se estabilize rapidamente e adote uma atitude construtiva nas relações intercoreanas.
As declarações do funcionário sul-coreano se baseiam no fato de que, apesar das fortes críticas a Seul, paradoxalmente a Coreia do Norte também expressou nesta sexta-feira seu desejo de melhorar no futuro os laços com o vizinho.
"O Exército e o povo [da Coreia do Norte] seguirão o caminho da melhoria das relações Norte-Sul e da conquista da paz e da prosperidade", dizia o comunicado do Norte, que convida o Sul a cumprir acordos de cooperação que, assinados no início da década passada, permanecem nesta sexta-feira estagnados por causa das más relações.
 
SUCESSOR

Pouco se sabe sobre Kim Jong-un, apontado em 2009 como sucessor do regime comunista criado por seu avô Kim Il-sung.
Ele foi nomeado "comandante supremo" da Coreia do Norte, mas deve governar, ao menos no começo, sob o amparo de figuras de destaque do regime, como seu tio Jang Song-thaek.
 
CONFLITO
 
As duas Coreias travaram uma guerra entre 1950-53, e o conflito foi encerrado apenas por um cessar-fogo, e não por um armistício definitivo.
Em 2010, os dois países estiveram próximos de um confronto, devido ao naufrágio de um navio sul-coreano, de cuja responsabilidade a Coreia do Norte se eximiu, e de disparos norte-coreanos contra uma ilha do Sul, no primeiro incidente com mortos civis desde o fim da guerra.
A Coreia do Sul deve realizar eleições parlamentares em abril de 2012 e presidenciais em dezembro, e seu desenlace poderá modificar o rumo das relações entre ambos os países uma vez que, por lei, Lee não pode repetir mandato e poderia ocorrer uma mudança de governo.

Por Folha