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Polícia Federal acusa policiais de SP de extorsão a traficantes

Policiais civis de São Paulo são investigados sob suspeita de exigir propinas milionárias de traficantes internacionais em atividade no Brasil. A Polícia Federal flagrou três situações em que, segundo o inquérito, houve extorsão.
Ao menos 12 policiais do Denarc (departamento de narcóticos) e do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), órgãos de elite da Polícia Civil, estão sob suspeita.
Ao todo, de acordo com documentos sigilosos do Gise-SP (Grupo Especial de Investigações Sensíveis em São Paulo), da Polícia Federal, os policiais do Denarc e Deic arrecadaram cerca de R$ 3 milhões dos traficantes, entre dólares, reais, automóveis e armas.
As extorsões ocorreram entre agosto de 2010 e março deste ano, diz o inquérito.
Segundo os federais, as propinas foram exigidas para não mandar para a prisão quatro traficantes --um deles, João Alves de Oliveira, o Batista, tido como chefe da quadrilha internacional.
Ainda segundo a investigação, os traficantes eram pegos e mantidos reféns dentro das sedes do Denarc e do Deic sem que houvesse registro oficial de que estivessem ali. Acabavam liberados após o acerto, afirma o inquérito.
 
Advogado
 
As negociações das propinas para os policiais civis foram feitas, segundo os federais, pelo advogado André Luiz Bicalho Ferreira, defensor dos traficantes, e as conversas telefônicas para a corrupção foram gravadas com autorização da Justiça.
A extorsão contra Batista ocorreu em 8 de novembro de 2010, diz o inquérito -- federais fotografaram o momento em que um traficante levava R$ 500 mil de propina para o advogado Ferreira, que está com policiais ao lado do prédio do Deic, em Santana (zona norte).
A operação começou em junho de 2010. Até agora, 105 pessoas foram presas e 9,5 toneladas de drogas (4,3 de cocaína e 5,2 de maconha) , 48 veículos, um avião e R$ 1 milhão foram apreendidos em dez Estados.
 
Resposta
 
"Policial que toma dinheiro de traficante tem de ser preso e expulso da Polícia Civil de São Paulo", afirmou ontem o delegado-geral Marcos Carneiro Lima ao ser informado sobre a investigação.
Ao longo de todo o dia de ontem, a reportagem tentou, sem sucesso, localizar o advogado André Luiz Bicalho Ferreira.
Foram ao menos dez contatos telefônicos (em seus celulares e no seu escritório) e também por e-mail, mas Bezerra não respondeu.
O delegado Marco Antonio Pereira Novaes de Paula Santos, chefe do Denarc em agosto de 2010, disse que, se soubesse de algo, "teria tomado as providências".
O delegado Gaetano Vergine, diretor do Deic em novembro de 2010, também disse não ter qualquer informação sobre a suspeita.

Por Folha