Comunidades com UPP já reduziram 'gatos' em 90%
Na esteira da segurança, veio a luz. A instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) possibilitou uma melhora no serviço prestado pela Light, que vem substituindo as antigas redes de energia e expandindo o sistema. Sem as armas do tráfico impedindo a atuação dos técnicos, a Light não apenas aumentou o número de clientes e o faturamento nas áreas pacificadas, como reduziu em 90%, em média, os “gatos”. E a taxa de consumidores em dia com as contas em pelo menos três locais pacificados já ultrapassa a média de toda a área de concessão da empresa no estado.O percentual anual de adimplência no Morro Dona Marta e no Chapéu Mangueira, na Zona Sul, e no Jardim Batam, na Zona Oeste, chega a 97%, contra os 94,34% registrados na rede de baixa tensão (residências e pequeno comércio) da empresa, em toda a sua área de concessão. Nas três favelas, a população já paga integralmente pela energia consumida, sem os descontos oferecidos nos primeiros meses da ocupação. Hoje são 32 mil famílias atendidas pela Light em áreas com UPPs, onde vivem 315 mil pessoas.
O caso mais expressivo de redução de ligações clandestinas é o Dona Marta: se antes havia desvio de 90% da energia fornecida à comunidade, em dezembro ela não passou de 1,31%. Em proporção inversa, o número de famílias atendidas saltou de 73 antes da UPP para 1.594, com 91% de adimplência em dezembro. Retrato bem diferente do encontrado no começo da ocupação, em dezembro de 2008, quando dos 73 consumidores regulares, apenas 15% pagavam as contas de luz. A entrada dos moradores na formalidade também fez crescer o total cobrado pela empresa: só no Dona Marta o aumento foi de 5.437%, passando de R$ 1.585,64 para R$ 87.799,04, em dezembro. A arrecadação naquele mês ficou em R$ 79.509,12, contra apenas R$ 242,17 do período anterior à UPP.
Arrecadação de ICMS dispara
A expansão da rede na comunidade ainda engordou o ICMS, que chegou a R$ 17.854,80 em dezembro, em vez dos R$ 285,42 do mês anterior ao projeto ser implantado. A Light comparou o antes e depois em outras seis comunidades: Babilônia, Chapéu Mangueira, Cidade de Deus, Tabajaras, Jardim Batam e Cabritos. Em todas, houve redução drástica da quantidade de energia furtada e o aumento do faturamento, da arrecadação e do ICMS.
Os números impressionaram o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Ele conta que ainda não foi feita qualquer pesquisa sobre o impacto das UPPs na vida das pessoas, e que as estatísticas da Light refletem com clareza as mudanças.
— Presenciei uma senhora me mostrando a conta dela, de taxa mínima, e ela me dizia: “ó, secretário, com isso aqui vou lá embaixo e abro um crediário”. É um instrumento de cidadania — diz Beltrame. — O que fica claro é que as pessoas querem o serviço formal, que é a garantia que ele tem de que será atendido.
Na Cidade de Deus, onde a arrecadação cresceu 150% (de R$ 76.913,95 para R$ 192.493,38) e a quantidade de clientes subiu de 2.851 para 3.807 (34%), moradores contam que quedas de energia e falta de luz, que podia durar até uma semana, fazem parte do passado. Embora a formalidade possa pesar no orçamento, sobram elogios à nova realidade.
— Cada um tem que pagar sua conta. A minha está em dia. A Light está botando postes novos e os consertos são bem mais rápidos. Antes não tinha a quem reclamar — conta a moradora da Cidade de Deus Jeane Oliveira, de 43 anos, que paga R$ 120 por mês pela energia de sua casa e seu bar.
— Faltava muita luz. Qualquer ventinho provocava quedas de energia. Às vezes, ficávamos uma semana sem luz. E o carro da Light não entrava aqui — afirma o morador José Luiz Dias, de 56 anos, lembrando que o serviço era prejudicado por causa da presença de traficantes armados.
Para as áreas pacificadas, a concessionária adotou a política de, no primeiro mês, cobrar apenas pela metade do consumo da família. A cada mês é acrescido ao valor 2%, até que se atinja os 100% da conta. A medida vale para todos os moradores, incluindo os beneficiados pela tarifa social, prevista em lei.
— Entrar numa área pacificada e levar o serviço não é um favor. Não só estamos fazendo nossa obrigação, como é um bom negócio. Se por um lado a maior parte das famílias tinha um serviço não pago, por outro lado ele era arriscado, péssimo. Mas nós entendemos que esse é um processo de transição. Você não pode chegar subitamente agora e cobrar a conta igual a de todo mundo. E nós zeramos as dívidas antigas — diz o presidente da Light, Jerson Kelman.
Segundo a Light, a diminuição dos gatos nas áreas pacificadas ainda não é suficiente para abater o prejuízo com o furto de energia das contas de luz. A empresa informa que os consumidores pagariam 17% a menos se não existissem ligações clandestinas.
Em prol da sustentabilidade e de uma economia nas contas, em 2010 e 2011, a empresa distribuiu 12 mil geladeiras novas nas áreas pacificadas. A troca do eletrodoméstico e de lâmpadas comuns por fluorescentes — também oferecidas aos moradores, desde que inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais —, associada a medidas contra o desperdício dentro de casa fez baixar no Dona Marta o consumo médio de energia de 280kw/h para 150kw/h.
A Light já completou a substituição da rede nas comunidades do Dona Marta, Babilônia e Chapéu Mangueira, Tabajaras e Cabritos, Borel e Formiga. Já foram iniciados, com conclusão da primeira parte, Cidade de Deus e Jardim Batam. No Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, a empresa atuou em cima da rede antiga, e na Providência a troca foi paralisada por conta de uma obra da prefeitura. No Andaraí, no Salgueiro e nos Macacos, a previsão é terminar o trabalho em fevereiro. Para as outras comunidades pacificadas, há somente projeto pronto ou em andamento, como na Rocinha.
Mesmo assim, sem ameaças e tiros, equipes da Light têm entrado para fazer reparos nas favelas ainda com rede antiga. Os serviços nas áreas com UPP são realizados por 500 técnicos, parte recrutada nas comunidades. Em 2012, o grupo será dobrado para atender todos as áreas pacificadas.
Essa invasão promovida pela Light ajuda a diminuir o peso sobre a polícia, na opinião de Beltrame, que apela mais uma vez pela presença dos órgãos e empresas prestadoras de serviços essenciais. Para ele, dessa ocupação social depende o futuro do programa, hoje em 18 comunidades:
— O que acontecia era o morador, ao ver o policial, pedir que tomasse providência com a luz, com o esgoto. Muitas vezes, ele não é atendido pela empresa, pela concessionária, e isso desgasta o comandante. Assim, a presença da prefeitura e das concessionárias é muito importante. Meu grito é sempre nesse sentido. A segurança abriu a porta, agora ocupem.
O caso mais expressivo de redução de ligações clandestinas é o Dona Marta: se antes havia desvio de 90% da energia fornecida à comunidade, em dezembro ela não passou de 1,31%. Em proporção inversa, o número de famílias atendidas saltou de 73 antes da UPP para 1.594, com 91% de adimplência em dezembro. Retrato bem diferente do encontrado no começo da ocupação, em dezembro de 2008, quando dos 73 consumidores regulares, apenas 15% pagavam as contas de luz. A entrada dos moradores na formalidade também fez crescer o total cobrado pela empresa: só no Dona Marta o aumento foi de 5.437%, passando de R$ 1.585,64 para R$ 87.799,04, em dezembro. A arrecadação naquele mês ficou em R$ 79.509,12, contra apenas R$ 242,17 do período anterior à UPP.
Arrecadação de ICMS dispara
A expansão da rede na comunidade ainda engordou o ICMS, que chegou a R$ 17.854,80 em dezembro, em vez dos R$ 285,42 do mês anterior ao projeto ser implantado. A Light comparou o antes e depois em outras seis comunidades: Babilônia, Chapéu Mangueira, Cidade de Deus, Tabajaras, Jardim Batam e Cabritos. Em todas, houve redução drástica da quantidade de energia furtada e o aumento do faturamento, da arrecadação e do ICMS.
Os números impressionaram o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Ele conta que ainda não foi feita qualquer pesquisa sobre o impacto das UPPs na vida das pessoas, e que as estatísticas da Light refletem com clareza as mudanças.
— Presenciei uma senhora me mostrando a conta dela, de taxa mínima, e ela me dizia: “ó, secretário, com isso aqui vou lá embaixo e abro um crediário”. É um instrumento de cidadania — diz Beltrame. — O que fica claro é que as pessoas querem o serviço formal, que é a garantia que ele tem de que será atendido.
Na Cidade de Deus, onde a arrecadação cresceu 150% (de R$ 76.913,95 para R$ 192.493,38) e a quantidade de clientes subiu de 2.851 para 3.807 (34%), moradores contam que quedas de energia e falta de luz, que podia durar até uma semana, fazem parte do passado. Embora a formalidade possa pesar no orçamento, sobram elogios à nova realidade.
— Cada um tem que pagar sua conta. A minha está em dia. A Light está botando postes novos e os consertos são bem mais rápidos. Antes não tinha a quem reclamar — conta a moradora da Cidade de Deus Jeane Oliveira, de 43 anos, que paga R$ 120 por mês pela energia de sua casa e seu bar.
— Faltava muita luz. Qualquer ventinho provocava quedas de energia. Às vezes, ficávamos uma semana sem luz. E o carro da Light não entrava aqui — afirma o morador José Luiz Dias, de 56 anos, lembrando que o serviço era prejudicado por causa da presença de traficantes armados.
Para as áreas pacificadas, a concessionária adotou a política de, no primeiro mês, cobrar apenas pela metade do consumo da família. A cada mês é acrescido ao valor 2%, até que se atinja os 100% da conta. A medida vale para todos os moradores, incluindo os beneficiados pela tarifa social, prevista em lei.
— Entrar numa área pacificada e levar o serviço não é um favor. Não só estamos fazendo nossa obrigação, como é um bom negócio. Se por um lado a maior parte das famílias tinha um serviço não pago, por outro lado ele era arriscado, péssimo. Mas nós entendemos que esse é um processo de transição. Você não pode chegar subitamente agora e cobrar a conta igual a de todo mundo. E nós zeramos as dívidas antigas — diz o presidente da Light, Jerson Kelman.
Segundo a Light, a diminuição dos gatos nas áreas pacificadas ainda não é suficiente para abater o prejuízo com o furto de energia das contas de luz. A empresa informa que os consumidores pagariam 17% a menos se não existissem ligações clandestinas.
Em prol da sustentabilidade e de uma economia nas contas, em 2010 e 2011, a empresa distribuiu 12 mil geladeiras novas nas áreas pacificadas. A troca do eletrodoméstico e de lâmpadas comuns por fluorescentes — também oferecidas aos moradores, desde que inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais —, associada a medidas contra o desperdício dentro de casa fez baixar no Dona Marta o consumo médio de energia de 280kw/h para 150kw/h.
A Light já completou a substituição da rede nas comunidades do Dona Marta, Babilônia e Chapéu Mangueira, Tabajaras e Cabritos, Borel e Formiga. Já foram iniciados, com conclusão da primeira parte, Cidade de Deus e Jardim Batam. No Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, a empresa atuou em cima da rede antiga, e na Providência a troca foi paralisada por conta de uma obra da prefeitura. No Andaraí, no Salgueiro e nos Macacos, a previsão é terminar o trabalho em fevereiro. Para as outras comunidades pacificadas, há somente projeto pronto ou em andamento, como na Rocinha.
Mesmo assim, sem ameaças e tiros, equipes da Light têm entrado para fazer reparos nas favelas ainda com rede antiga. Os serviços nas áreas com UPP são realizados por 500 técnicos, parte recrutada nas comunidades. Em 2012, o grupo será dobrado para atender todos as áreas pacificadas.
Essa invasão promovida pela Light ajuda a diminuir o peso sobre a polícia, na opinião de Beltrame, que apela mais uma vez pela presença dos órgãos e empresas prestadoras de serviços essenciais. Para ele, dessa ocupação social depende o futuro do programa, hoje em 18 comunidades:
— O que acontecia era o morador, ao ver o policial, pedir que tomasse providência com a luz, com o esgoto. Muitas vezes, ele não é atendido pela empresa, pela concessionária, e isso desgasta o comandante. Assim, a presença da prefeitura e das concessionárias é muito importante. Meu grito é sempre nesse sentido. A segurança abriu a porta, agora ocupem.