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Grupos de oposição sírios chegam a acordo para era pós-Assad

A dividida oposição da Síria anunciou neste sábado (31) um avanço político que pode ajudar os manifestantes que protestam contra o ditador Bashar al-Assad na busca pela troca de poder no país. O Conselho Nacional Sírio (CNS), baseado no exterior, e a Coordenadora Nacional da Forças da Mudança Democrática, cujos membros estão, em sua maioria, dentro da Síria, concordaram em se unir para criar um modelo de transição que será aplicado uma vez que Assad deixe o poder. Até aqui, as divisões entre os opositores sírios era vista como uma grande dificuldade na campanha contra Assad.
O documento mostra que a oposição síria não está interessada em negociações com o governo Assad, mas sim em removê-lo do poder de uma vez por todas. No documento assinado pelos grupos, eles rejeitam qualquer intervenção estrangeira no país, algo que o CNS havia defendido no início das manifestações. O documento, entretanto, afirma que tropas árabes não podem ser consideradas "estrangeiras". Com isso, abrem o precedente de tropas de nações vizinhas entrarem na Síria para deter as forças de Assad. Tal movimento, ainda que sem presença de tropas ocidentais, também seria capaz de provocar um conflito de proporções regionais.
Os grupos opositores também pedem, uma vez que Assad esteja fora do poder, uma transição que preserve todas as instituições sírias e garanta a formação de um governo "plural e democrático". O documento acena para a comunidade curda, chamada de "fundamental e histórica" e fala em "libertar" o território sírio, uma referência às Colinas de Golã, ocupadas por Israel desde 1967.
O anúncio dos opositores se dá em meio à visita de observadores da Liga Árabe à Síria. Neste sábado, eles estiveram nas cidades de Homs e Hama, no centro do país, Idlib, no norte, e Deraa, no sul, os principais redutos da oposição.
O chefe de Operações da missão, Adnan Issa al Jodeir, disse aos jornalistas na sede da Liga Árabe, no Cairo (Egito), que os observadores circulam com liberdade pelos locais e visitam os presos políticos nas prisões. Embora sejam coordenados e protegidos pelas autoridades sírias, estas não interferem nos planos de visita, segundo Jodeir. Antes da visita, a oposição síria disse temer que os observadores não tivessem uma visão real da situação no país devido à interferência de membros do governo.
Na sexta-feira, milhares de sírios foram às ruas protestar contra Assad, aproveitando a presença dos observadores. Um membro da executiva da opositora Coordenadora Nacional da Forças da Mudança Democrática, Khalaf Dawoud, disse à EFE que "a presença de observadores nas zonas quentes estimula as pessoas a se manifestarem". O grupo de Dawoud vê de forma "positiva" a missão dos observadores e confia que estes "divulgarão a verdade sobre o que ocorre na Síria". Nem todos os opositores são tão otimistas e muitas vozes criticaram hoje os obstáculos impostos à missão, como impedir que os civis entrem em contato com os observadores. Segundo os Comitês de Coordenação Local, em algumas localidades da província meridional de Deraa as forças de segurança detiveram familiares das vítimas para evitar que falassem com os observadores e em Hama um grande número de policiais foi desdobrado perto do hotel que aloja a delegação.
Também na sexta-feira surgiu um vídeo no qual um dos observadores, vestido com um colete laranja, expressa sua preocupação pela existência de franco-atiradores que afirma ter visto com seus próprios olhos. "Se os franco-atiradores não forem embora em 24 horas serão tomadas outras medidas", declarou o observador em tom de ameaça. Ele provavelmente estava se referindo a possíveis novas sanções da Liga Árabe ao regime de Damasco, mas tal decisão só deve ser tomada após a apresentação de um relatório final por parte dos observadores. Um membro do governo da Síria, Ahmed Hajj Ali, rejeitou estas declarações e garantiu que o que o observador descreveu são "forças de segurança - e não franco-atiradores - que se encontram no terreno para manter a ordem no país".
A missão da Liga Árabe pretende verificar se o regime Assad está cumprindo o plano proposto pela entidade para acabar com a violência no país.

Por Época