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Missão dos novos líderes: enquadrar o Congresso

A estratégia da presidente Dilma Rousseff ao trocar a liderança do governo na Câmara e no Senado é ampliar seu controle nas votações de interesse do governo no Congresso Nacional. Dilma fez um jogo arriscado: substituiu os líderes por seus opositores nas bancadas do PMDB e do PT. Arlindo Chinaglia (SP) entrará no lugar de Cândido Vacarezza (SP), com quem vem travando disputas internas do PT. E Eduardo Braga (AM), um dos rebelados do PMDB, substituirá Romero Jucá (RR).
Vacarezza e Jucá eram tidos como "fortes" e "independentes" demais na visão do Planalto. Em vez de dar prioridade aos interesses do Planalto, preocupavam-se com os compromissos firmados com seus grupos políticos. "Precisamos de líderes do governo para defender o governo e não o que eles acham", disse ao site de VEJA um interlocutor de Dilma.
O deputado petista, por exemplo, queria colocar o texto do Código Florestal em votação ainda nesta semana na Câmara – a contragosto do governo. E Jucá, mesmo sabendo do risco de derrota em votação na semana passada, informou à Presidência que tudo corria bem. Resultado: os senadores rejeitaram a recondução de Bernardo Figueiredo para a direção-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Era uma escolha pessoal da presidente. A cabeça de Jucá foi a prêmio e Eduardo Braga foi convocado pela presidente Dilma na semana passada mesmo – antes de Jucá ser informado que seria demitido da função.
No início do ano, Dilma já havia avisado o vice-presidente Michel Temer que queria realizar um rodízio de lideranças. Mas o troca-troca foi antecipado com a derrota na indicação para a ANTT, liderada pelos dissidentes do PMDB. Eduardo Braga, também considerado rebelde, foi escolhido exatamente para tentar acalmar os ânimos do grupo. O governo acredita que ele puxará votos de outros colegas, como Roberto Requião (PMDB-PR), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Pedro Simon (PMDB-RS).
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Articulação - A relação problemática entre os líderes e a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, também motivou as substituições. A relação entre Vacarezza e Ideli era considerada “péssima” desde o ano passado. E, pela segunda vez, a presidente Dilma se deparou com um problema de articulação política no Congresso. A primeira culminou na demissão de Luiz Sérgio da pasta hoje ocupada por Ideli. Desta vez, a presidente preferiu manter a ministra e trocar as lideranças do governo.
A própria Ideli ajudou a escolher os novos nomes, que são mais próximos dela. Portanto, será responsabilizada se a alteração não der resultados. “Se der certo ou errado, ela será responsabilizada, porque coordenou essas duas mudanças bruscas”, disse um deputado petista.
Pelo menos dois sinais de alerta já foram acionados. Em primeiro lugar, ao nomear Eduardo Braga, a presidente aumenta a força política do senador - tudo o que o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), não quer. Os dois pretendem se candidatar à Presidência do Senado no ano que vem. Para "acertar os ponteiros", aliás, tiveram uma longa conversa nesta segunda-feira. O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp, nega que a indicação possa dividir ainda mais o PMDB: "Está tudo pacificado."
Outro problema na indicação de Eduardo Braga: ele é desafeto do presidente do PR, Alfredo Nascimento, com quem disputa votos no Amazonas. Se a relação com o partido já estava ruim, agora pode complicar ainda mais. A presidente, contudo, promete apagar esse fogo na semana que vem. O PR quer retomar o comando do Ministério dos Transportes, ocupado por Nascimento até julho de 2011. Mas os nomes que o partido ofereceu até agora não agradaram.
Ainda assim, a tendência é que Dilma ceda e devolva a pasta ao comando da cúpula do partido. Até porque o PR votou com o governo na indicação para a ANTT. Já as negociações com o PDT, outro rebelado, estão um pouco mais avançadas: a nomeação do deputado Brizola Neto (RJ) para o Ministério do Trabalho pode sair ainda esta semana.

Por Veja