Vice de Serra estreia com artilharia contra PT e Haddad
O ex-secretário municipal da Educação Alexandre Schneider estreou nesta segunda-feira no posto de candidato a vice na chapa de José Serra.
E mostrou a que veio: desferiu críticas à gestão do PT em São Paulo e
ao candidato petista, Fernando Haddad. Homem de confiança do tucano,
Schneider estava confortável e tranquilo ao conceder entrevista coletiva
de 40 minutos ao lado de um atento José Serra – que frequentemente lhe
soprava complementos para as respostas.
Além de afagar o PSD, aliado de primeira hora do tucano na cidade, a
escolha de Schneider foi feita pessoalmente por Serra, que levou em
conta, sobretudo, a experiência do vice na área da Educação. Haddad foi
ministro da pasta e Gabriel Chalita (PMDB), secretário estadual. Por
causa dessa confluência, a educação vai figurar no centro do debate
eleitoral deste ano. “Não há nada de novo neste pleito. São os mesmos
grupos que disputam a eleição em São Paulo. Está na hora de a gente
comparar o que cada um já fez pela cidade”, disse Schneider.
O vice narrou um cenário de escolas de lata, greve de professores e
obras paradas por falta de pagamento herdado pela gestão Serra ao fim do
governo Marta Suplicy (PT). “Tinha escola de faz de conta em que a
criança ficava por quatro horas. Tanto na pré-escola quanto no Ensino
Fundamental, o PT aumentou o número de escolas com três turnos, com
carga horária reduzida”, afirmou. “Em 2005, quando nós chegamos, a rede
municipal de ensino era um caos. Em quatro anos, a gestão do PT teve
quatro secretários da educação. Um deles ficou só um fim de semana.
Chegou lá, viu o que ia encarar e resolveu sair correndo.”
Creches - Schneider classificou como uma “alegação
mentirosa” a afirmação feita por Haddad na semana passada de que São
Paulo não foi contemplada pelo programa federal Pró-Infância, do
Ministério da Educação, porque não solicitou os recursos. O
ex-secretário da Educação disse ter ido em fevereiro de 2011
pessoalmente ao MEC, em Brasília, para pedir a verba para construção de
creches. Foi recebido pelo então ministro Haddad e pela secretária Maria
Pillar Lacerda. Em seguida, enviou-lhes um ofício com uma relação de
141 terrenos disponíveis para a construção das unidades. O órgão federal
só respondeu três meses depois, negando o pedido.
“A gente não vai ficar esperando a burocracia ou a morosidade. Temos
que atender as crianças. Isso é mais importante que a política”, afirmou
Schneider, que afirmou que o novo ministro da Educação, Aloysio
Mercadante, atende com mais celeridade pedidos de São Paulo do que
Haddad. “A atual secretária municipal teve mais reuniões com o MEC em
cinco meses do que nós em seis anos.” Ele comparou ainda a situação com a
esfera estadual, onde o governador Geraldo Alckmin liberou verbas para a
Educação municipal em noventa dias.
“O programa do governo federal é moroso. Em seis anos, prometeu 6.400
unidades e entregou 221. Alguma coisa está errada. Agora o que não dá é
para culpar os municípios. Aí é fácil”, afirmou Alexandre Schneider, que
lembrou as sucessivas falhas cometidas
por Haddad na coordenação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “A
questão das creches parece a do Enem, em que a culpa primeiro é da
gráfica, depois da escola. A gente precisa ter responsabilidade quando
ocupa um cargo público.”
Composição - A escolha de Alexandre Schneider para
vice de Serra provocou protestos em uma ala do PSDB ligada ao secretário
estadual de Energia, José Aníbal. Eles defendiam que o posto fosse
ocupado por um tucano, formando uma chapa puro-sangue. Para esse flanco
da militância, o PSD de Gilberto Kassab e Schneider já tinha sido
contemplado com a formação de uma chapa proporcional de vereadores, em
que o PSDB abriu mão de lançar parte de seus candidatos para dar espaço
aos pleiteantes à Câmara de partidos aliados. Aníbal chegou a dizer que o
PSD era “o cupim” do PSDB.
José Serra esquivou-se do fogo amigo e evitou comentar as críticas de
tucanos. “Uma vez tomada a decisão, eu comuniquei a Geraldo Alckmin,
Júlio Semeghini (presidente municipal do partido) e Pedro Tobias
(presidente estadual), que a receberam bem. Não aconteceu nada. Tem
muita onda, mas a realidade é assim”, afirmou o candidato. Com discurso
ensaiado, Schneider seguiu a mesma linha: “Não há nada a ser pacificado.
As pessoas têm direito de ter posições. Eu tenho o DNA do PSDB,
participei da campanha e do governo de Mário Covas.”
Schneider afirmou ter recebido palavras de estímulo do governador
Geraldo Alckmin logo depois de ser anunciado vice. Questionado sobre sua
posição no espectro político-ideológico, Schneider mostrou-se um pouco
mais decidido do que o fundador do PSD, Gilberto Kassab. “Eu me
considero um político de centro. Estou à esquerda de Maluf e à direita
do PSOL.”
A dupla foi questionada ainda sobre a possibilidade de Schneider ter
de assumir a prefeitura no lugar de Serra. “Como o Palmeiras não vai
para a Libertadores, não vai ser necessário. Eu estou preparadíssimo
para ser vice-prefeito de Serra”, disse Schneider em referência ao time
do coração do ex-governador. Serra apressou-se a esclarecer: “Eu tenho
boa saúde.” E seguiu com o papo sobre futebol. “Pela segunda vez eu
cololquei de vice um corintiano fanático. É um altruísmo que merece ser
elogiado.” E a eleição seria motivo suficiente para fazer um palmeirense
roxo torcer pelo rival na final da Copa Libertadores, nesta
quarta-feira? “Claro”, respondeu Serra. “Sou antes de tudo brasileiro e
paulista.”
Por Veja