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Thomaz Bastos: julgamento do mensalão é 'bala de prata'

O advogado Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça, foi o primeiro a falar na sessão desta quarta-feira do julgamento do mensalão, no Supremo Tribunal Federal (STF). Representando José Roberto Salgado, ex-vice-presidente do Banco Rural, ele argumentou que faltam provas de que seu cliente cometeu crimes financeiros e ajudou a manter em funcionamento a engenharia financeira que abasteceu o mensalão.
José Roberto Salgado é acusado de autorizar e renovar empréstimos fraudulentos para Marcos Valério e para o PT, além de viabilizar a remessa de dinheiro para o exterior. Ele responde pelos crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e evasão de divisas. "É um julgamento de bala de prata, feito uma vez só, e como se trata de destinos de pessoas, é preciso um duplo cuidado."
O ex-ministro disse que mensalão é uma "marca-fantasia" de episódios distintos, cuja união foi forjada pelo Ministério Público Federal em sua denúncia. "Ele (Salgado) se viu envolvido nesse furacão, nessa marca-fantasia do mensalão."
Ele também manteve a defesa alinhada à de outros réus: "Vamos ter condições de montar um mosaico de persuasão da inocência desses acusados".

Empréstimos - O advogado negou que os empréstimos fossem falsos: "SMP&B, DNA e Grafitti eram empresas de extraordinária competência empresarial", justificou Bastos. Ele afirmou que a acusação contra Salgado se baseia no depoimento de apenas uma testemunha, um ex-superintendente do banco que teria interesse de se desvencilhar de suas responsabilidades sobre transações ilegais.
"O PT pagou integralmente o seu empréstimo de 3 milhões - renegociou e pagou 10 milhões. E os outros empréstimos, das empresas de Marcos Valério, estão sendo executados", disse Bastos. Segundo o advogado, Salgado tem um histórico profissional "Impecável". O ex-ministro afirmou ainda que os empréstimos foram firmados antes mesmo que seu cliente chegasse à posição de comando no Banco Rural, o que inviabilizaria a denúncia.
O defensor de Salgado, o mais influente dos advogados do mensalão, também criticou a denúncia feita pelo Ministério Público: "São muitas coisas ligadas umas às outras, de modo que se fica possível que se faça uma caminhada racional e lógica, examinando as coisas como elas devem ser examinadas".
O STF ouve ainda nesta quarta-feira as sustentações orais da defesa de outros quatro réus: Vinícius Samarane e Ayanna Tenório, ligados ao Banco Rural, o ex-ministro Luiz Gushiken e o ex-deputado João Paulo Cunha (PT-SP).

Por Veja