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Sindicalistas reagem a salário mínimo de 550 reais proposto por Lula

Dirigentes das centrais sindicais reúnem-se nesta terça-feira com representantes da administração federal e do governo de transição para negociar um valor mais generoso para o salário mínimo de 2011. A nova orientação do governo é barrar propostas para aumento superior a 550 reais. O objetivo é acalmar os mercados e marcar posição frente aos sindicatos e à oposição.
As centrais querem levar o mínimo a 580 reais. Os oposicionistas, a 600 reais. As notícias sobre a nova proposta do governo irritaram sindicalistas, que até agora não foram chamados para nenhuma mesa formal de negociação. A reunião de terça em Brasília é extra-oficial. O Congresso deve votar nesta semana o relatório preliminar do Orçamento. O definitivo, só em dezembro. O esforço do governo é para aprovar no relatório preliminar um mínimo de 538,15 reais e, só depois, negociar com as centrais.
“O governo está jogando, para ver como reagimos”, diz o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, deputado federal pelo PDT. “Espero que seja jogo de cena deles, porque se quiserem mesmo salário de 550 reais, terão muita dor de cabeça.”
Entre os dirigentes sindicais há um clima de insatisfação também com a escolha do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, como interlocutor do governo com os trabalhadores. Bernardo tem fama de jogar para baixo os valores das negociações. A impressão geral é que, com Antonio Palocci, a conversa fluiria melhor. Os sindicalistas dizem estar dispostos a ceder, no máximo, em 10 reais, o que significaria um salário mínimo de 570 reais.
A sugestão original do governo era levar o mínimo dos atuais 510 reais para R$ 538,15, o que apenas repõe as perdas com a inflação. O cálculo segue à risca a regra para reajuste do salário mínimo: inflação acumulada em 12 meses mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Em 2009, ano da crise mundial, o PIB brasileiro não cresceu.
O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, considera injusto levar o cálculo ao pé da letra. “O ano de 2009 foi atípico no Brasil e no mundo. Não é justo que os trabalhadores sejam penalizados”, diz Patah. “Para aumentar salário de deputado, a facilidade é enorme, mas para reajustar o de quem trabalha para construir o país há toda essa resistência.”
O governo Lula quer evitar gastar mais do que pode com o aumento do salário mínimo para manter em 3,3% do PIB o superávit primário, ou seja, o que sobra da arrecadação de impostos após o desconto de gastos com juros e correção monetária de dívidas. A proposta de 550 reais leva as contas públicas até esse limite e representa uma despesa de 3,3 bilhões de reais. Um mínimo de 580 reais pediria um gasto extra de 12 bilhões de reais.

Orçamento – A oposição trabalha no Congresso pela proposta feita pelo candidato do PSDB à Presidência, José Serra (PSDB), durante a campanha eleitoral: elevar o mínimo a 600 reais. “A bancada governista tem maioria. É bem provável que consigam aprovar o que bem entenderem”, pondera o líder do PSDB na Câmara, deputado João Almeida. “Se Serra estivesse no governo seria capaz de aumentar o salário para 600 reais porque saberia onde e o que cortar. Eles não sabem.”
Por Veja