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China investe no Brasil e acena com vaga na Onu

BRASÍLIA - A China se comprometeu a incentivar o aumento das importações de produtos de maior valor agregado do Brasil, segundo comunicado conjunto dos dois países divulgado nesta terça-feira, durante visita da presidente Dilma Rousseff a Pequim.
E, pela primeira vez, o governo chinês concordou em mencionar, no comunicado conjunto divulgado pelos presidentes Hu Jintao e Dilma Rousseff, a aspiração brasileira a uma vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O Brasil, por sua vez, reiterou o compromisso de acelerar o processo de reconhecimento da China como economia de mercado, decisão que ainda depende de regulamentação no Ministério do Desenvolvimento e aval do Congresso Nacional.
Junto com americanos, russos, franceses e britânicos, os chineses fazem parte do seleto grupo de membros que têm direito a veto nas decisões do Conselho de Segurança da ONU e, ainda, gozam de mandato duradouro, e não rotativo, como os demais associados das Nações Unidas. No comunicado, a China defende a maior participação dos países em desenvolvimento no Conselho de Segurança. De acordo com um dos negociadores do documento, o Estado chinês evitou, com isso, uma saia justa em relação ao Japão: que também pleiteia uma vaga permanente, mas é tido como inimigo moral dos chineses.
"A China atribui alta importância à influência e ao papel que o Brasil, como maior país em desenvolvimento do hemisfério ocidental, tem desempenhado nos assuntos regionais e internacionais, e compreende e apoia a aspiração brasileira de vir a desempenhar um papel mais proeminente nas Nações Unidas", diz a declaração conjunta.
Na avaliação de um alto funcionário do Itamaraty, essa foi a segunda vitória de Dilma em relação ao tema. Durante a visita do presidente dos EUA, Barack Obama, ao Brasil, o governo americano concordou em deixar expresso, no comunicado final, seu "apreço" pela candidatura brasileira. Os EUA e a China eram os que mais resistiam à ideia de reforma da ONU.
- Não há como negar que é um fato bastante positivo - disse o ex-embaixador do Brasil nos EUA Rubens Barbosa.
Como fez há um ano, quando apenas informou que trataria do caso rapidamente, o governo brasileiro não avançou em relação ao reconhecimento da China como economia de mercado.
O texto do comunicado divulgado ontem faz uma ligação entre a disposição chinesa de diversificar suas vendas e investimentos no Brasil ao compromisso, por parte do governo brasileiro, de acelerar o reconhecimento da China como economia de mercado.
"(Brasil e China) Reconheceram a necessidade de intensificar o diálogo sobre as estruturas de comércio e investimentos e sobre a diversificação do comércio bilateral. A parte chinesa manifestou disposição de incentivar suas empresas a ampliar a importação de produtos de maior valor agregado do Brasil. A parte brasileira reafirmou o compromisso de tratar de forma expedita (rápida, ágil) a questão do reconhecimento da China com economia de mercado nos termos estabelecidos no Plano de Ação Conjunta 2010-2014", diz o texto, ainda que os diplomatas neguem um condicionamento entre um e outro ponto.
'Está aberto um novo caminho', diz Dilma.
No primeiro encontro com o presidente chinês, Hu Jintao, nesta terça-feira, Dilma não fez reclamações sobre a questão cambial. Ela assinou novos contratos, na parte de tecnologia, mas saiu do encontro com um acesso maior ao mercado chinês e promessas de investimento que podem aliviar as tensões comerciais.
A diversificação das exportações à China é uma das principais reivindicações do setor produtivo nacional, que reclama do domínio de produtos básicos, como commodities, na pauta de vendas ao país asiático.
"A parte chinesa manifestou disposição de incentivar suas empresas a ampliar a importação de produtos de maior valor agregado do Brasil", afirmou comunicado divulgado pelo Ministério de Relações Exteriores.
No ano passado, 83% das exportações brasileiras à China foram de produtos básicos, enquanto 98% das importações foram de produtos manufaturados.
Já o Brasil reafirmou o compromisso de tratar com rapidez a questão do reconhecimento da China como economia de mercado, segundo o comunicado conjunto.
Em 2004, o governo brasileiro declarou reconhecer a China mas não formalizou a decisão. A posição é contestada por empresários brasileiros, que acusam exportadores chineses de práticas desleais, como dumping.
Outra questão sensível aos exportadores brasileiros, o valor baixo do iuan, não foi mencionada no comunicado.
Os países também reiteraram o compromisso com as negociações para a conclusão da Rodada de Doha e em ampliar os investimentos recíprocos em diversas áreas, como tecnologia, energia, mineração, logística e setor automotivo.

Por Reuters