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Ofensiva contra Gbagbo fracassa; França diz que só age em nome da ONU

A investida das forças leais ao oposicionista Alassane Ouattara fracassaram na sua tentativa de invadir a residência do líder Laurent Gbagbo, que se recusa a entregar o poder na Costa do Marfim. A França, que mantém tropas no país, disse que só pode intensificar os ataques a pedido das Nações Unidas, e não do presidente eleito.
Yves Doumbia, um porta-voz das forças pró-Outtara, disse que seus soldados conseguiram chegar aos portões da residência de Gbagbo mas foram expulsos sob ataques com "armamento pesado".
Em meio ao clima de tensão no país, após as tropas de Ouattara terem sido repelidas pelos soldados de Gbabgo, com "armamentos pesados" em torno da residência do líder, a França busca distanciar-se e manter um posicionamento alinhado às Nações Unidas.
Paris oficializou num primeiro momento o fracasso das negociações diplomáticas. O chanceler francês, Alain Juppé, afirmou que as conversações para a renúncia do presidente de Gbagbo fracassaram.
Horas depois, o ministro francês de Defesa, Gerard Longuet, afirmou que a França não obedecerá ordens do oposicionista Ouattara caso este peça ajuda das tropas do país para invadir a casa de Gbagbo e retirá-lo à força do local.
"A França pode intervir a pedido das Nações Unidas. Mas não obedecemos nenhuma força política na Costa do Marfim. Se for o caso, para proteger as populações civis, podemos responder a um requerimento das Nações Unidas. Ponto final", acrescentou Longuet.
Longuet disse ainda que Ouattara não tem a intenção de acabar com a vida de Gbagbo.
"Não é a intenção do presidente Ouattara, mas a guerra é a guerra e às vezes é imprevisível", concluiu.

RESIDÊNCIA DE ESTADO
 
Já o ministro francês de Cooperação, Alain de Raincourt, foi mais incisivo e pediu que Gbagbo entenda de "uma vez por todas" que não venceu as eleições presidenciais na Costa do Marfim e que deixe imediatamente a residência.
"Laurent Gbagbo deve deixar a residência presidencial porque não é uma residência pessoal. É uma residência de Estado e ele não é o chefe de Estado da Costa do Marfim", disse.
O ministro afirmou ainda que desde o início da crise a França tem se alinhado com a comunidade internacional e que deve manter-se dessa forma em suas operações no país.
"A França não é uma protagonista da crise e apoiará todos os esforços da comunidade internacional na Costa do Marfim", acrescentou.
Em Nova York, Nick Birnback, porta-voz das missões de paz das Nações Unidas afirmou que "as negociações continuam e que a ONU oferece seus serviços da melhor forma possível".

INVESTIDA FRACASSA
 
As forças do presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, resistiram nesta quarta-feira ao cerco das tropas leais ao presidente eleito, Alassane Ouattara, à residência presidencial em Abdijã.
Segundo relatos, as forças de Ouattara recuaram e buscavam se reagrupar para uma segunda ofensiva contra a casa, onde Gbagbo está escondido em um bunker, no porão.
Ouattara foi o vencedor das eleições na Costa do Marfim em novembro do ano passado, reconhecido pela comunidade internacional. Gbagbo, que já estava no poder, se recusou a renunciar e apelou ao Conselho Eleitoral por uma recontagem de votos, que favoreceu sua campanha. Desde então, forças dos dois lados se enfrentam em confrontos que deixaram centenas de mortos e ameaçam levar o país de volta à guerra civil de 2002 e 2003.
Nesta terça-feira, Gbagbo se refugiou no bunker de sua residência em Abdijã. Diante de um cessar-fogo, ele chegou a negociar uma rendição com a França e a ONU (Organização das Nações Unidas). Pouco depois, contudo, voltou atrás e disse que não reconhece Ouattara como presidente. Com o fracasso do diálogo, as forças leais a Ouattara voltaram às armas.
Mamadou Toure, um apoiador de Ouattara, disse à France 24 TV que a tomada do bunker de Gbagbo está demorando porque as forças do presidente estão fortemente armados.
Uma fonte ocidental, citada pela agência de notícias Reuters, vive perto da residência de Gbagbo e afirmou que os combates acabaram na tarde (horário local) e que as forças de Ouattara reagruparam.
"No meu entender, eles tentaram retomar a casa de Gbagbo mesta manhã. O ataque fracassou", disse, "Eles não conseguiram quebrar a resistência com todas as armas de grosso calibre que ainda estão escondidas na casa de Gbagbo. Eles recuaram para repensar e replanejar", disse.
Segundo a agência de notícias Efe, os disparos que podiam ser escutados desde o início da manhã desta quarta-feira nos arredores da residência oficial de Gbagbo cessaram de tarde. Os tiros foram escutados na área contígua onde fica a residência de Gbagbo, no bairro de Cocody, segundo confirmaram moradores da zona.

ABASTECIMENTO
 
Apesar da tensa situação em Abidjã e das advertências de vários porta-vozes de Ouattara, muitos habitantes da capital econômica do país decidiram desafiar a insegurança da cidade para buscar alimentos, água e remédios.
Em alguns distritos, como o de Riviera 3, alguns comerciantes foram nesta quarta-feira até seus estabelecimentos para vender produtos de primeira necessidade, cujos preços triplicaram, enquanto era possível observar longas filas de pessoas frente às poucas farmácias de Abidjã que estavam abertas.
No entanto, a situação dos residentes de Abidjã é cada vez mais insustentável, especialmente pela falta de informação que há sobre os combates entre os bandos de Ouattara e Gbagbo.
Há uma semana, nenhum jornal local saiu às ruas, já que os jornalistas afirmam não sentir-se suficientemente seguros para comparecer a seus postos de trabalho, por isso que a única informação da qual se dispõe vem das emissoras e jornais estrangeiros.

HISTÓRICO
 
Poucos dias após a votação de 28 de novembro, a Comissão Eleitoral Independente declarou o opositor Ouattara como vitorioso com 54,1% dos votos válidos, contra 45,9% de Gbagbo.
O resultado foi reconhecido pela ONU, Estados Unidos e União Europeia. No mesmo dia, contudo, Gbagbo apelou ao Conselho Constitucional com alegações de fraude eleitoral. O órgão anulou cerca de 10% dos votos, a maioria em redutos de Ouattara, dando a vitória a Gbagbo com 51%.
Desde então, a comunidade internacional pressiona Gbagbo a deixar o poder e já aplicou as mais diversas sanções --como veto ao visto de viagem aos países da União Europeia e o congelamento dos fundos estatais no Banco Central da União Monetária e Econômica do Oeste Africano. Gbagbo rejeitou todas as propostas, incluindo ofertas de anistia e um confortável exílio no exterior.
O Eliseu informara horas antes que Sarkozy havia respondido positivamente ao pedido de ajuda militar urgente da ONU para tentar evitar que a população civil da Costa do Marfim seguisse sendo vítima de ataques de armamento pesado por parte das forças leais a Laurent Gbagbo.

 Por Folha