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Testes apontam que bebês gerados em clínica de Abdelmassih são de outros pais

Condenado a 278 anos de prisão por crimes sexuais e foragido da Justiça, o médico Roger Abdelmassih é acusado agora de ter gerado bebês com espermatozóides de outros homens e de ter vendido óvulos de outras mulheres a pacientes que queriam engravidar.
A informação é da revista "Época".
Segundo a revista, pelo menos três casais já descobriram que o DNA de seus filhos não é compatível com o do pai. Os casais prestaram depoimento ao Ministério Público do Estado de São Paulo e à Polícia Civil, que investigam os métodos praticados do médico há dois anos. A revista não diz quantos dos 8 mil bebês gerados na clínica de Abdelmassih podem filhos de outros pais biológicos.
A matéria diz que o uso de óvulos ou espermatozóides de outras pessoas pode ajudar a explicar o sucesso do tratamento na clínica do médico. Em 2003, 47,1% dos procedimentos feitos por Abdelmassih resultaram em bebês, em comparação com 31,7% de casos de sucesso da Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida, que reúne mais de 90% dos centros de reprodução humana latinos.

CRIMES SEXUAIS
 
Roger Abdelmassih está foragido desde o dia 6 de janeiro. Cerca de 60 mulheres afirmaram ter sofrido crimes sexuais durante consultas, conforme reportagem publicada pela Folha em 2009.
As mulheres dizem ter sido surpreendidas por investidas do médico quando estavam sozinhas --sem o marido e sem enfermeira presente (os casos teriam ocorrido durante a entrevista médica ou nos quartos particulares de recuperação). Três afirmam ter sido molestadas após sedação.

ENTENDA O CASO
 
O médico Roger Abdelmassih, um dos mais famosos especialistas em reprodução assistida do país, foi preso pela primeira vez no dia 17 de agosto de 2009. Ele teve a prisão preventiva decretada pela Justiça após cerca de 60 mulheres afirmarem ter sofrido crimes sexuais durante consultas.
O caso foi denunciado pela primeira vez ao Ministério Público em abril de 2008, por uma ex-funcionária do médico. Depois, diversas pacientes com idades entre 30 e 40 anos bem-sucedidas profissionalmente disseram ter sido molestadas quando estavam na clínica.
As mulheres dizem ter sido surpreendidas por investidas do médico quando estavam sozinhas --sem o marido e sem enfermeira presente (os casos teriam ocorrido durante a entrevista médica ou nos quartos particulares de recuperação). Três afirmam ter sido molestadas após sedação.
Em agosto de 2008, Abdelmassih foi intimado pelo Ministério Público a depor, mas não compareceu. Mesmo assim, o órgão ofereceu denúncia à Justiça, recusada porque a juíza Kenarik Boujikian entendeu que a investigação é atribuição exclusiva da polícia.
Um inquérito foi aberto pela polícia, mas desapareceu do Departamento de Inquéritos Policiais em novembro de 2008. Ele foi encontrado um mês depois, possibilitando o reinício das investigações.
Em junho de 2009, Abdelmassih foi indiciado pela polícia. Na época, a defesa de Abdelmassih afirmou que ele teve seu direito de defesa cerceado e que a Polícia Civil descumpriu a determinação do Supremo.
Segundo um dos advogados do médico, Adriano Vanni, na época, a polícia antecipou o depoimento sem maiores explicações, antes que a defesa pudesse ter acesso às acusações.
Em agosto de 2009, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) abriu 51 processos éticos contra o médico. Os conselheiros do órgão avaliaram que as denúncias eram pertinentes e decidiram pela abertura dos processos. A pena máxima é a cassação do registro profissional.
Formalmente, Abdelmassih foi acusado de estupro contra 39 ex-pacientes, mas como algumas relataram mais de um crime, há 56 acusações contra ele. Desde que foi acusado pela primeira vez, Abdelmassih negou por diversas vezes ter praticado crimes sexuais contra ex-pacientes. O médico afirma que vem sendo atacado há aproximadamente dois anos por um 'movimento de ressentimentos vingativos'.
Abdelmassih também já chegou a afirmar que as mulheres que o acusam podem ter sofrido alucinações provocadas pelo anestésico propofol, usado durante o tratamento de fertilização in vitro. De acordo com ele, as pacientes podem 'acordar e imaginar coisas'.
Segundo sua defesa, o médico nunca fica sozinho com suas pacientes na clínica, estando sempre acompanhado por uma enfermeira.