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O efeito das drogas


No último fim de semana, o povo paraense assistiu a um verdadeiro banho de sangue. Por volta de vinte homicídios aterrorizaram a população. O que se percebe é que grande parte desses crimes guarda uma semelhança: tem características de execução.
Sabe-se que a maioria dos crimes de execução tem relação direta com o tráfico de drogas. Outros tantos crimes têm relação indireta. O resultado dessa soma nefasta mostra que a disseminação da violência urbana guarda estreita ligação com o uso ou tráfico de entorpecentes.
Desde a década de 1990, o Brasil observa uma melhora continuada dos seus indicadores sociais. Temos menos pobres, mais ricos que há 20 anos. Porém, apesar da melhora, a violência aumentou, exceção feita ao Estado de São Paulo. Essa realidade seria paradoxal se no mesmo período não tivesse ocorrido uma verdadeira invasão do país pelas drogas.
A última grande iniciativa de impacto no sentido de combate ao tráfico foi a instalação do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), ainda no governo de FHC. De lá para cá, nada de relevante foi feito. Ao contrário, a fiscalização nas fronteiras continua precária, a pressão sobre os países vizinhos inexiste (a Bolívia, p. ex., sob o governo Evo Morales, viu aumentar em 60% as plantações de coca. E é muita ingenuidade acreditar que essa expansão deve-se apenas ao respeito às tradições indígenas).
Em conseqüência, as drogas se popularizaram, chegaram ao interior do país, tomaram conta das grandes cidades e vivemos uma situação catastrófica, com poucas perspectivas de melhora. O crack, p. ex., disseminou-se pelo país sob as barbas do governo Lula, e nada foi feito. Agora, tem-se a notícia de que o óxi já faz estragos, e o imobilismo da presidente Dilma continua.
Importante trazer uma ilustração para se ter uma idéia do reflexo das drogas (lícitas e ilícitas) na questão da violência e na sociedade: os casos de violência familiar, em geral, ocorrem quando o marido pratica tais atos contra a esposa e filhos sob o efeito do álcool; em outros tantos casos, o dependente químico passa a furtar seus próprios familiares e amigos para sustentar o vício; há muitas situações também de brigas em bares, entre pessoas embriagadas (uma breve pesquisa no Google mostra que a proibição de funcionamento de abres a partir de determinada hora tem reflexo imediato na redução dos índices de violência); de outra maneira, parte considerável dos roubos são praticados para pagar dívidas com traficantes e assim vai. Do outro lado, o assassinato como instrumento de “acerto de contas” entre traficantes e seus devedores é prática contumaz. Essa crise social é, de longe, o pior efeito das drogas.
Mas o governo não é o único culpado. Não se pode desprezar também a responsabilidade dos consumidores de drogas que financiam o tráfico e alimentam esse círculo vicioso.
O governo do Estado pode muito pouco nessa questão. Deve, sim, haver um verdadeiro pacto entre governo e sociedade, acompanhado de medidas eficientes de combate ao tráfico,  conscientização da população, e tratamento dos dependentes químicos. A questão das drogas é um problema de todos. Não cabe a ninguém se eximir.