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Dilma mantém Alfredo Nascimento no governo; oposição fala em CPI

Enquanto o governo se mobiliza para defender e manter o ministro Alfredo Nascimento no comando dos Transportes, a oposição já fala em pedir uma CPI no Congresso para investigar o suposto esquema envolvendo servidores do ministério e de órgãos ligados à pasta em superfaturamento de obras e recebimento de propina de empreiteiras e consultorias.
Quatro integrantes da cúpula do ministério foram afastados no último sábado por conta das denúncias e, nesta manhã, a presidente Dilma Rousseff divulgou nota mantendo Nascimento no cargo.
O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), anunciou que seu partido vai solicitar uma audiência pública com o ministro e com o diretor-geral afastado do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz Antônio Pagot, para que eles prestem esclarecimentos sobre as denúncias.
O requerimento de audiência será apresentado à CI (Comissão de Serviços de Infraestrutura), cuja reunião está prevista para a próxima quinta-feira (7). De acordo com o PSDB, o requerimento prevê a convocação do ministro e o convite do diretor-geral do Dnit. A diferença é que a convocação torna a presença do ministro obrigatória, sob pena de crime de responsabilidade.
O esquema de corrupção no Ministério dos Transportes foi revelado pela revista "Veja". Para Alvaro Dias, o próprio ministro deveria se afastar durante o período de investigações.
O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), por sua vez, afirmou que o afastamento da cúpula do ministério e a instauração de sindicância interna para apurar o caso são insuficientes diante da gravidade das denúncias.
"Os fatos são graves. O afastamento foi correto, mas há necessidade de investigações mais profundas", disse.
Ele anunciou uma série de ações que o partido fará no início da semana --uma representação ao Ministério Público Federal solicitando a abertura de investigações, um requerimento à Polícia Federal e um pedido de auditoria especial para o TCU (Tribunal de Contas da União).
"Estamos também avaliando, junto à assessoria jurídica do PSDB, se é o caso de pedir uma CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito]", disse o líder.

GOVERNO
 
Segundo a assessoria de Imprensa do Palácio do Planalto, a presidente já conversou com Nascimento e pediu que ele conduza as investigações do suposto esquema.
De acordo com assessores, o governo "reitera apoio ao ministro". "O governo manifesta sua confiança no ministro Alfredo Nascimento".O ministro é o responsável pela coordenação do processo de apuração das denúncias feitas contra o Ministério dos Transportes."
Após reportagem da revista "Veja" sobre o esquema no fim de semana, Nascimento, presidente licenciado do PR, foi obrigado a afastar a cúpula do ministério. Sua permanência não estava assegurada e dependia do encontro com a presidente.
Entre os servidores afastados estão Pagot e o diretor-presidente da Valec (Engenharia, Construções e Ferrovias S.A.), José Francisco das Neves.
Os órgãos são responsáveis por obras vitais para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
O Ministério dos Transportes faz parte da cota do PR, partido da base aliada e que faz dobradinha com o PT desde o primeiro governo Lula. O partido tem 40 deputados federais e seis senadores.

DEFESA
 
Os senadores do PR Magno Malta (ES) e Clésio Andrade (MG) defenderam a apuração das denúncias, até mesmo por meio de uma CPI, mas pouparam sempre a figura de Nascimento.
"O ministro Alfredo Nascimento é de toda confiança nossa, do PR. Não podemos misturar algumas possíveis situações que possam ter ocorrido abaixo dele como [sendo] responsabilidade dele", afirmou Andrade.
Malta disse que é preciso "apurar tudo" e afirmou que às 17h desta segunda-feira terá uma reunião com o ministro. Na condição de líder do PR no Senado, ele vai emitir uma nota pedindo que a Procuradoria-Geral da República e o Tribunal de Contas da União investiguem as denúncias.
"O ministro para nós é um sujeito digno e tem o nosso apoio, até que se prove o contrário. Agora, penso que o próprio ministro, de punho, ou todos os outros, devem se manifestar para as autoridades, pedindo que investigação seja feita", afirmou Malta.
A fala do senador não esclarece quem são "todos os outros".

Por Folha