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Mercado modera 'susto' com novas medidas e dólar fecha a R$ 1,55

O nervosismo dos mercados com as novas medidas do governo para o câmbio fez as cotações do dólar subirem com força, quase anulando a desvalorização acumulada em seis dias consecutivos. Assim, a alta registrada hoje (1,3%) foi a maior desde 4 de junho de 2010, quando os preços avançaram 1,75% num só dia.
A taxa de câmbio chegou a bater R$ 1,57 no pico desta rodada de negócios, logo pela manhã. Ao longo da tarde, no entanto, a alta dos preços foi perdendo força, e nas últimas operações a moeda americana foi negociada a R$ 1,557, em um avanço de 1,30% sobre o fechamento de terça-feira. Na BM&F, a cotação do dólar projetado para outubro também avançou fortemente (1,89%), alcançando R$ 1,582 no pregão de hoje.
Até ontem, a queda acumulada das cotações era de 2,3% desde quinta-feira retrasada (o último dia em que o dólar havia ficado mais caro).
O Banco Central também agiu, comprando dólares e ressuscitando os outrora frequentes leilões de "swap" cambial reverso.
Esses contratos de "swap" cambial equivalem a operações de compra de dólar no mercado futuro de moeda --onde as operações são liquidadas com diferença de semanas ou meses. Trata-se de um segmento de negócios que tem enorme influência na formação dos preços no mercado à vista.
Não por coincidência, a medida provisória anunciada hoje pelo governo mira justamente essas operações, realizadas no âmbito da BM&F.
Além de aumentar a taxação dessas operações, a nova medida provisória reforça o poder de intervenção do governo, via Conselho Monetário Nacional --um colegiado de autoridades econômicas, composto, entre outros, pelos ministros da Fazenda, do Planejamento e pelo presidente do Banco Central.
É justamente essa possibilidade que gerou críticas entre integrantes do mercado financeiro.
"O 'susto' de hoje não foi pelo anúncio das medidas, que já eram esperadas. O 'susto' de verdade foi pelo aumento do grau de intervenção do governo no mercado, mexendo em regras que já funcionavam muito bem", diz João Ferreira, diretor da corretora Futura.
A nova MP indica que, para "fins de política da política monetária e cambial", o CMN ganha o poder de "estabelecer condições específicas para negociações de contratos de derivativos".
Um dos possíveis alvos, segundo fontes de mercado, podem ser as margens de garantia das operações: isto é, o capital que os agentes financeiros precisam manter em reserva, e que é proporcional à quantia de dinheiro aplicado em operações de risco. Essas margens são determinadas pela BM&F, o ambiente de negócios onde essas operações são realizadas, e que funciona em regime de auto-regulação.
"Acho que o principal impacto dessas novas medidas não é nem sobre os especuladores, que sempre acham brechas para as novas regras. O impacto real é sobre os grandes investidores, porque indica que as regras podem mudar a qualquer momento. E esse grau de incerteza nunca é bom", acrescenta Ferreira.

Por Folha