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Na Câmara, Obama aprova acordo com aliados divididos

Com apoio maciço dos republicanos e os democratas - do partido do presidente Barack Obama - rachados ao meio, a Câmara de Representantes dos Estados Unidos aprovou, por 269 votos a favor e 161 contra, o plano de corte de gastos que permite elevar o teto de endividamento, evitando um calote. O texto, acertado durante o fim de semana entre governo e oposição, será votado no Senado às 13h (horário de Brasília) desta terça-feira, informou o senador democrata Harry Reid. A votação ocorrerá horas antes de expirar o prazo - meia-noite - para aumentar o teto de US$ 14,3 trilhões. Para a aprovação, que é tida como certa, são necessários 60 votos. Encerrados os trâmites legislativos, o presidente dos EUA, Barack Obama, poderá assinar a lei que autoriza o Tesouro a recorrer a novos empréstimos para pagar as suas dívidas. O limite de endividamento do governo será aumentado em US$ 2,1 trilhões, em dois estágios: US$ 900 bilhões num primeiro momento, acrescidos posteriormente de mais US$ 1,2 trilhão, o que garantirá que o Tesouro pague suas contas até o início de 2013, após a eleição presidencial do ano que vem, como exigia a Casa Branca. O pacote inclui ainda um corte de gastos de iguais proporções, ao longo da próxima decada.
Na Câmara, 95 democratas se juntaram a 66 republicanos para rejeitar o plano. Outros 95 democratas votaram a favor, unindo-se a 174 republicanos e garantindo a aprovação. Houve três abstenções. Eram necessários 216 votos para a lei passar.
Minutos antes de a lei ser aprovada, aplausos irromperam na Câmara, por causa da aparição da democrata Gabrielle Giffords. Foi a primeira aparição da deputada desde que ela foi baleada na cabeça, em um encontro em um shopping center em Tucson, no Arizona, em janeiro. Ao ser aplaudida, Giffords acenou para os colegas. Seu escritório disse que ela voltou para dar apoio ao plano aprovado na Câmara.
Os líderes do Congresso passaram o dia negociando o apoio de parlamentares relutantes a aceitar um acordo sobre a dívida dos EUA. A líder democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, que se disse indecisa no início do dia, informou à noite que iria votar a favor do acordo. Pelosi reclamava que não havia previsão de aumento de receitas no plano de redução do déficit.
- Estamos muito preocupados com um projeto de lei que faz grandes cortes e não tira um centavo das pessoas mais ricas do nosso país. É muito desconcertante - disse, mais cedo, Nancy Pelosi, considerada crucial para garantir votos suficientes para compensar desfalques do lado republicano
 
Medo de rebaixamento
 No começo, os mercados mostraram sinais de alívio com a perspectiva de que os Estados Unidos evitaram o calote, mas depois vieram os temores de que o país vai perder o seu grau de rating, triplo A ("AAA"). Isso porque o acordo ainda não tinha sido votado durante o pregão.
- Nós evitamos a possibilidade de um calote, mas agora as preocupações estão se voltando para um possível rebaixamento do rating - disse Phil Streible, estrategista de mercado sênior da corretora de futuros Lind-Waldock, em Chicago.
Devido às queixas feitas à esquerda e à direita no Congresso, uma aprovação ampla do acordo ficou longe de ser certa.
 
Termos da proposta
 No acordo firmado no domingo, democratas e republicanos acertaram votar um corte de ao menos US$ 2,4 trilhões no déficit em dez anos, a formação de um comitê para recomendar um pacote de redução da dívida até novembro e o aumento do limite de endividamento até 2013. O não-partidário Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), que municia parlamentares com informações orçamentárias, confirmou que o acordo deveria reduzir o déficit em pelo menos US$ 2,1 trilhões em dez anos.
Foram três meses de discórdia antes do acordo de domingo para votar o plano. Se for aprovado, evitará uma moratória sem precedentes na História americana.
Se o Congresso não aprovar o plano até esta terça-feira, os Estados Unidos deixarão de ser capazes de pegar dinheiro emprestado para pagar todas as suas contas, uma perspectiva que poderia ter graves consequências financeiras globais. Sem novas dívidas para se financiar, restariam apenas as disponibilidades no caixa do Tesouro e, uma vez esgotadas, seria calote.
Obama teve que aceitar cortes mais profundos nas despesas do que ele pretendia e terá de defendê-los à sua base eleitoral liberal durante a campanha para a reeleição em 2012, mas pode ganhar pontos com eleitores moderados, algo que precisa para ganhar um segundo mandato.
Boehner, o republicano mais importante, conseguiu os cortes que exigiu, sem aumentos de impostos, mas teve que lutar para manter a imagem de inflexível e fiel ao Tea Party.
Americanos ansiosos para reduzir a taxa de desemprego do país, de 9,2%, tornaram-se cada vez mais frustrados enquanto o debate da dívida se alastrou por todo o verão.

Por O Globo