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Em interrogatório, Marcos Valério se cala sobre grilagem

Ao ser interrogado no Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Civil, em Salvador, o empresário Marcos Valério preferiu não dar nenhuma declaração sobre as acusações de grilagem de terras e falsificação de documentos públicos apresentadas pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA). "Ele se reservou ao direito de permanecer calado e não deu nenhuma declaração sobre o caso", informou o diretor do Departamento de Polícia do Interior da Bahia, delegado Edenir Macedo. Marcos Valério não estava acompanhado de um advogado. O acusado ficará preso à disposição do delegado que coordena as investigações, Carlos Ferro, que pode novamente intimá-lo a depor.
Valério foi preso esta manhã em Belo Horizonte com outros três sócios: Ramon Hollerbach, sócio na empresa SMP&B, e Francisco Marcos Castilho Santos e Margaretti Maria de Queiroz Freitas, sócios na DNA Propaganda. Todos foram levados para Salvador em um voo fretado pelo governo da Bahia a pedido da Justiça. Os acusados estão sendo ouvidos pela Polícia Civil da Bahia e, após os depoimentos, serão enviados para a carceragem da Polinter, onde permanecerão detidos.
Segundo informações do Ministério Público da Bahia, o esquema de que participava o empresário Marcos Valério incluía até a falsificação de documentos para que ele aparecesse como proprietário de terras  que na verdade pertencem à União. A polícia também encontrou registros em nome de Valério de imóveis que não existem. Todas essas propriedades eram apresentadas pelo empresário como garantia no pagamento de dívidas.
Outras dez pessoas foram presas na Bahia e uma, em São Paulo. No total, foram cumpridos 23 mandados, entre pedidos de prisão preventiva e de busca e apreensão, expedidos pelo juiz Gabriel Moraes Gomes, do Tribunal de Justiça da Bahia.
A Polícia Civil explicou que o esquema funcionava com a participação de servidores do Tabelionato do 2º Ofício de Notas da Comarca de Barreiras e do Ofício de Registro de Imóveis de São Desidério. Segundo o delegado Carlos Ferro, titular da Delegacia Territorial de São Desidério, a quadrilha lavrava de forma fraudulenta diversas escrituras públicas de compra e venda nos cartórios das duas cidades. Entre os presos também estão empresários, latifundiários e advogados. As investigações duraram dezessete meses e foram coordenadas pelo Departamento de Polícia do Interior (Depin).
Os acusados são alvo de vários inquéritos policiais, tendo como base falsificação de documento público, falsidade ideológica, corrupção ativa e formação de quadrilha.

Habeas corpus - O advogado de Marcos Valério, Sérgio Leonardo, nega irregularidades e diz que entrará com um pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça da Bahia na segunda-feira. Segundo ele, não há nenhum fato atual que justifique a prisão de seu cliente, como fuga, risco à ordem pública ou interferência nas investigações. "Nos últimos seis anos ele compareceu em todos os órgãos onde foi chamado a depor, por que agora não apareceria?", disse. Leonardo afirmou, ainda, que Valério já prestou explicações sobre o caso à Polícia Federal em Minas Gerais, há três anos. "Isso é assunto velho."
As fraudes vieram à tona em 2005, quando foram iniciadas as investigações pela Polícia Civil. Nesse mesmo ano foi revelado o envolvimento de Valério no esquema do mensalão, para pagamento de propina a parlamentares da base aliada do governo Lula. O empresário era operador do esquema e é réu na ação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o caso. Ainda não é possível dizer se, e como, as duas tramas criminosas se retroalimentaram.
Mas o advogado de defesa de Marcos Valério nega qualquer ligação direta entre a prisão desta sexta-feira e o processo do mensalão. "Acontece que, desde que explodiu o mensalão, começaram a investigar todas as atividades que tenham uma suposta participação de Marcos Valério. E os assuntos relacionados a ele ganham um rigor maior por parte do judiciário", diz Leonardo.

Mensalão - Marcos Valério é um dos 36 réus da ação penal 470, que trata do mensalão, maior escândalo da política recente do Brasil. O empresário foi operador e pivô do esquema. Na ação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), ele responde por formação de quadrilha, falsidade ideológica, corrupção passiva e ativa, peculato, lavagem de dinheiro, delito de gestão fraudulenta de instituição financeira e evasão de divisas.
O esquema comandado por José Dirceu, então chefe da Casa Civil do governo Luiz Inácio Lula da Silva, consistia na compra de votos de deputados na Câmara Federal, para aprovar projetos do governo. Cada deputado custava cerca de 30 000 reais por mês. A fatura era paga com dinheiro público, desviado por um esquema criado por Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, e por Marcos Valério.

Por Veja