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Dilma pede a empresários pressão sobre Congresso

Num encontro com 29 empresários que representam a metade do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) brasileiro, a presidente Dilma Rousseff cobrou investimentos e mais empenho da iniciativa privada no Congresso para aprovar medidas de incentivo ao crescimento econômico que sejam de interesse do país. Em troca, ouviu uma série de demandas do setor produtivo — que ela fez questão de anotar, uma a uma — para exigir respostas da sua equipe ministerial. O câmbio, a alta carga tributária e elevados custos financeiros e de mão de obra foram as principais reclamações dos executivos, além das tarifas pesadas de eletricidade.
— Em relação a este tema (de desoneração do ICMS sobre as importações), seria muito importante e relevante o esforço de todos vocês. Luíza (Trajano) tinha defendido levar ônibus para o plenário. Não sei se com os ônibus da Luíza, mas mostrar que o projeto não é do governo, mas do país — disse a presidente, ao se referir à sugestão da dona da Magazine Luiza de pressionar o Congresso pelo fim da guerra fiscal e incentivo às importações, previsto na Resolução 72, em tramitação na Casa.
Durante o encontro, que levou quase quatro horas, o governo informou que está prestes a fazer um grande plano de desoneração de tributos e concessão de incentivos — que vai desde redução dos encargos sobre a folha de pagamento e ajustes no IPI e no PIS/Cofins a barateamento dos empréstimos. Segundo fontes do governo, o novo pacote, que deve ser anunciado após a viagem de Dilma à Índia, será muito mais amplo do que as medidas pontuais tomadas no segundo semestre do ano passado no âmbito do programa “Brasil Maior”. Em um primeiro momento, estará concentrado na indústria. Os setores de serviços e agrícola devem ficar para depois, tendo em vista que estariam mais “sólidos”, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Fiesp promete mais ação no Congresso

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que representa 130 mil empresas, ao comentar a cobrança de empenho da presidente na aprovação de projetos no Congresso, disse que o empresariado vai atuar mais:
— Já estamos atuando e vamos intensificar mais. Todo projeto de interesse do Brasil, estaremos a postos, apoiando esses projetos. Não é um apoio a governo, não é um apoio a nenhuma pessoa. É um apoio ao Brasil. Qualquer projeto de interesse do Brasil, interessa a todo o povo brasileiro e a toda a sociedade que seja aprovado com a velocidade maior possível.
A presidente ainda recebeu demandas pontuais como a de Eike Batista, o homem mais rico do Brasil, para flexibilizar e reduzir custos para a importação de “cérebros” para a indústria brasileira. Já o presidente da Vale, Murilo Ferreira, pediu agilidade nos processos de licenciamento ambiental.
— O governo vai criar mais facilidades para reduzir os custos dos investimentos. O que vamos fazer é reduzir tributos sobre investimentos, o custo da folha salarial, os juros e o custo financeiro. Estamos reduzindo as dificuldades — afirmou Mantega, após a reunião, que também contou com a presença do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, e do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. — Tranquilizamos os empresários de que o governo continuará fazendo políticas de intervenção que não permitam que o real se valorize. Este é um compromisso do governo.
Esta foi a primeira de quatro reuniões semelhantes que serão realizadas pela presidente esse ano com os principais setores da economia. Levantamento feito pela consultoria Austin Rating a pedido do GLOBO mostra que, juntas, as empresas representadas no encontro com Dilma somam ativos de pelo menos R$ 2,3 trilhões e faturam mais de R$ 500 bilhões por ano. O PIB brasileiro fechou 2011 em R$ 4,1 trilhões. Apesar de o governo querer um crescimento de 4,5% do PIB este ano, alguns analistas apostam numa expansão abaixo de 3%.
Uma das medidas em gestação na equipe econômica é a compensação aos exportadores pela cobrança de IOF de 6% sobre os empréstimos no exterior com prazo de até cinco anos. A medida foi tomada para evitar a entrada de capitais especulativos no país. No entanto, acabou atingindo em cheio os financiamentos que as exportadoras brasileiras fazem no exterior para se capitalizar. Esses empresários, agora, devem ser excluídos do IOF ou ganhar direito a um crédito tributário.
— O mundo está em guerra, no mundo dos mercados, finanças, então a gente tem que saber se defender. A presidente colocou uma posição muito clara no sentido de defesa da indústria nacional — afirmou Jorge Gerdau, presidente da Câmara de Gestão à Competitividade do governo e presidente do Conselho de Administração da Gerdau.
Mantega atribuiu a maior parte da responsabilidade dos investimentos no país ao setor privado que, segundo o ministro, é responsável por 17% dos 19,3% do PIB investidos no Brasil.
— Há um compromisso por parte do governo de aumentar os nossos investimentos públicos. Mas os investimentos públicos representam no máximo 3% dos 20% do PIB. Portanto, a responsabilidade é do setor privado — enfatizou Mantega, lembrando que a meta é aumentar o percentual total para 24% do PIB.
Skaf afirmou que é justo desonerar um pouco a indústria de transformação, que passa por uma fase de dificuldade grande. Segundo ele, há uma distorção no câmbio, nos juros, no custo da energia.
— Eu usei, com a presidente, o exemplo da mãe que tem muitos filhos e foi perguntada qual é o filho de sua preferência. A mãe falou: meu filho de preferência é o pequeno até que cresça, é o que está longe, até que volte, é o enfermo até que cure. Ou seja, uma mãe não tem preferência, a não ser numa situação extraordinária. E hoje a presidente da República se convenceu de que há um filho enfermo, que é a indústria de transformação brasileira. E para esse filho ela precisa dar uma atenção especial até que esse momento grave venha a passar — disse Skaf.

Por O Globo