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Militares da Reserva comemoram no ar o golpe de 64

Militares da reserva comemoraram neste sábado no céu do Rio de Janeiro o golpe de 1964, que deu origem a 21 anos de ditadura militar. Cerca de 80 pessoas se reuniram na praia da Reserva, zona oeste, para assistir a oito deles, na maioria coronéis, saltarem de paraquedas com bandeiras do Brasil. Não houve manifestações contrárias.
Organizador do ato, o coronel Luiz Antonio de Oliveira, 62, disse que os militares sempre comemoram o 31 de março, mas que este ano "os ânimos ficaram mais acirrados". Oliveira nega que o salto seja uma afronta. "Não queremos contestar nossa presidente, que está fazendo um excelente governo, melhor do que muitos homens", disse. "Não somos indisciplinados, desde que se faça a coisa certa."
Ex-chefe de Estado-Maior da brigada paraquedista, que atuou no Complexo do Alemão, o coronel da reserva André Tiago Salgado Chrispim, 53, declarou-se indignado com os protestos na porta do Clube Militar na quinta-feira. "Agredir velhinho, tacar ovo, é democracia? Não é a minha."
Crítico do Ministério Público pela ação contra o coronel Sebastião Curió Rodrigues de Moura --principal acusado pelo desaparecimento de cinco integrantes da Guerrilha do Araguaia--Chrispim tentou justificar ações da ditadura. "Se você está em campo, para o tudo ou para o nada, levando tiro, e o prisioneiro não fala e você o trata com carinho, vai morrer muita gente."
Para o tenente-brigadeiro-do-ar Ivan Frota, 82, candidato a presidente da República pelo PMN em 1998, "a Comissão da Verdade é mais uma bobagem do governo para provocar a desunião nacional". Segundo ele, "é preciso comprovar se houve tortura, mas não há espaço para fazer investigação porque está todo mundo morto".
Ivan Frota considera a investigação da OEA (Organização dos Estados Americanos) sobre violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura no Brasil um "absurdo", assim como o apoio da ONU (Organização das Nações Unidas) às apurações. "Esse pessoal quer desestabilizar o Brasil", afirmou.
Antes dos saltos, um avião sobrevoou a orla, desde o Recreio dos Bandeirantes, zona oeste, até o Leme, zona sul, transportando uma faixa com a inscrição "Parabéns, Brasil! 31/03/64". Ao passar pela Barra, por volta do meio-dia, foi aplaudido pelos militares.
"Sou macho, mas estou arrepiado", disse o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Foi ele quem pagou R$ 2.000 pela faixa e voo, mas nega ter usado dinheiro da Câmara para o ato. Amanhã, deve pagar mais R$ 1.200 para que o avião exiba outra vez a faixa por toda a orla carioca.

Por Folha