|

Congresso enfim vai criar CPI para Cachoeira e Demóstenes

Até o final desta semana uma CPI mista deve ser instalada, para investigar as relações do contraventor Carlinhos Cachoeira com parlamentares. Em reunião realizada na tarde desta terça-feira, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) e o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) bateram o martelo pela abertura da CPI. Maia saiu do encontro dizendo que ideia é agilizar o máximo possível o processo de coleta de assinaturas para instalar comissão até o final desta semana. Também participou do encontro o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL).

O regimento determina o mínimo de 171 assinaturas de deputados para criar uma comissão de inquérito. No Senado, a exigência é de 27 assinaturas. Mas não deverá ser difícil obter esse número de adesões, já que a maioria dos partidos apoia a abertura da CPI. Por ser uma comissão mista, a iniciativa não precisa esperar o andamento dos demais pedidos de CPI, já que não há outra comissão do mesmo tipo na fila.
- Não havendo decisão do Senado, vamos criar CPI aqui na Câmara. Devo fazer isso durante essa semana. É uma vontade de todos os líderes ou da grande maioria, para a instação da CPI. A minha posição é muito favorável - disse Maia. Segundo o presidente da Câmara, há assinaturas suficientes na Casa para a instalação de CPI.

Tucanos não descartam expulsão do deputado Carlos Leréia

O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), após reunião nesta terça-feira na liderança do partido no Senado, anunciou que o partido vai apoiar e exigir que funcione sem interferência do Planalto uma CPMI para investigar todo suposto envolvimento de parlamentares e integrantes do governo no esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Segundo Guerra, há tranquilidade e confiança em relação ao não envolvimento do governador de Goiás, Marconi Perillo.
Mas não descartou até mesmo a expulsão do deputado Carlos Alberto Leréia, pego no grampo em negócios com o grupo de Cachoeira. O próximo passo é ouvir sua defesa antes da decisão do partido sobre seu futuro.
- Não estamos num campeonato de pressa. Mas se confirmadas as muitas informações já veiculadas sobre o envolvimento do deputado Leréia com Cachoeira, o partido tomará a providência cabível, não tenham a menor dúvida disso. O que for preciso fazer, será feito - disse Sérgio Guerra ao ser lembrado que o DEM agiu rápido em relação ao desligamento de Demóstenes.
O PSDB vai apoiar o requerimento do PSOL para criação da CPMI. Os senadores Randolfe Rodrigues (AP) e Pedro Taques (PDT-MT) que também assinam o requerimento, já estão em busca das 27 assinaturas do Senado. Na Câmara a coleta também já está acontecendo.
Sérgio Guerra disse que agora não dá mais para o PT recuar no apoio a CPMI.
- A melhor CPI é aquela que não sabemos como vai terminar. As últimas CPIs que aconteceram aqui, foram esvaziadas e impedidas de funcionar pela base governista. Nós não vamos impedir investigação nenhuma. Queremos desnudar o conjunto da obra , com o apoio do PT - disse Guerra.
- Não podemos permitir uma investigação seletiva. O escândalo não se restringe a Goiás e ao Parlamento. Carlinhos Cachoeira botou os dois pés em Brasília para alavancar os negócios das empresas a ele ligadas, como a construtora Delta, que recebeu bilhões do governo federal - completou o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias.
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) disse que a decisão do PSDB de apoiar a CPMI esvazia a estratégia do PT de tentar expor o partido e ter dividendos eleitorais em outubro.
- É uma viagem achar que isso poderia ser explorado na campanha contra o PSDB. Quem pensou isso não conhece o PSDB. Nunca tivemos hesitação em ir fundo sempre que houve uma denúncia séria. Quem segura CPIs aqui na Casa, como a da Saúde, é a base governista - completou Nunes Ferreira.
Segundo o requerimento do PSOL, além do envolvimento de parlamentares com o bicheiro a CPMI quer investigar a relação dessas pessoas com a Delta Construções S/A, em especial a eventual prática de fraudes em procedimentos licitatórios.
O senador José Pimentel (PT-CE) também anunciou, oficialmente, que o PT vai apoiar a CPMI.
- Se o STF (Supremo Tribunal Federal) nos nega as informações, não nos resta outro caminho para ter o resultado final que faça justiça a todos os envolvidos - disse Pimentel.
Antes do início do encontro de senadores do PSDB nesta terça, o líder do partido na Casa, senador Alvaro Dias, já tratava o apoio à comissão de inquérito como certo. Além de Alvaro, já estão no encontro entre outros o presidente da legenda, Sérgio Guerra e os senadores Aécio Neves, Aloysio Nunes Ferreira, Cassio Cunha Lima e Cyro Miranda.
A opinião é endossada pelos principais caciques da legenda, que foram tranquilizados pelo governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, quanto à possibilidade de surgirem fatos que o liguem incontestavelmente ao bicheiro. Após seus advogados lerem todo o inquérito, o governador disse ter certeza que não há nada que o incrimine.
Diante disso, os tucanos veem na CPI uma possibilidade de gerar desgaste ao governo federal, que até agora foi preservado nos vazamentos.



Por O Globo