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Alimento e transporte deixam Rio com maior inflação do país

O aquecimento da economia fluminense e a expectativa pela realização de grandes eventos na capital como Copa do Mundo e Olimpíadas têm cobrado seu custo a quem mora no Rio de Janeiro. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na região metropolitana é a maior entre as 11 pesquisadas pelo IBGE e, assim, superior à média nacional. A inflação no Rio subiu 3,16% no ano, até junho, frente a uma alta de 2,32% no país. No acumulado em 12 meses, o salto foi de 5,81% no Rio, em comparação a 4,92% no Brasil. A alta no preço de alimentos que atinge o país se mostra expressiva no Rio, acompanhada pela pressão dos grupos habitação e transportes.
— Os alimentos, principalmente a alimentação fora de casa, e a habitação têm puxado os preços no Rio de Janeiro, além dos transportes, grupo influenciado por ônibus urbano. A região como um todo está mais cara e eventos como Rio+20, Copa do Mundo e Olimpíadas influenciam — explica Irene Machado, técnica do IBGE responsável pelo IPCA.
Os preços de habitação — que incluem despesas como aluguel residencial, condomínio, energia e taxa de água e esgoto — avançaram 7,88% em 12 meses no Rio, ante alta de 6,51% no país. Da alta de 5,81% da inflação geral no período, a contribuição do grupo habitação foi de 0,97 ponto percentual. No ano, o impacto de habitação na inflação do Rio foi de 0,60 ponto percentual. Os preços de artigos para residência, por sua vez, tiveram aumento de 1,76% no Rio em 12 meses, frente a uma deflação de 1,62% na média nacional.

Reajuste de ônibus pressionou preços

O preço dos alimentos está pressionando a inflação em todo o país e isso ocorre também no Rio. Aqui, a alta chegou a 7,62% em 12 meses, superior aos 7,33% do país. Refeições e lanches fora de casa subiram, respectivamente, 7,88% e 9,47%, somando um impacto de 0,56 ponto percentual no índice. Mas também houve aumento de itens como carnes (7,84%), queijo (12,39%) e do tradicional feijão preto, que subiu nada menos do que 35,4%, o que puxa o custo maior das refeições fora do domicílio.
— A inflação aqui tem sido maior que a do país nos últimos meses, puxada por alimentos e bebidas, mas também com impacto de preços administrados e habitação. É um dos preços a ser pago pelo aquecimento do mercado que tem ocorrido no Rio de Janeiro — afirma o economista da Fecomércio-RJ Christian Travassos, que não vê, no entanto, “um descolamento tão expressivo”.
Na sua avaliação, o crescimento mais forte do mercado de trabalho no Rio que no Brasil têm aumentado a demanda para alimentações fora de casa. Pelos dados Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, o emprego com carteira assinada avançou 5,4% no Rio nos últimos 12 meses, acima da taxa de 4,3% registrada no Brasil. Além disso, a realização de eventos como a Rio+20 exigem que o empresário do setor de alimentos melhore seu atendimento e até tenha custos maiores com uma mão de obra mais qualificada.
O aumento de 10% da tarifa de ônibus urbano no Rio, efetivado em janeiro, puxou a inflação de 4,01% registrada em transportes nos últimos 12 meses, contra uma alta de meros 0,48% na média brasileira. Em junho, o grupo transportes registrou deflação de 1,18% no país, enquanto no Rio o recuo dos preços foi menor, de 0,53%. Considerando apenas o mês de junho, o maior impacto na inflação do Rio foi o item excursão, que subiu 5,22%, após deflação de 12,10% em maio. Houve influência da alta de 3,37% de passagem aérea - com a proximidade das férias e da alta temporada.
Para o chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, a inflação mais elevada do Rio em relação a outras regiões é consequência de um crescimento muito rápido do Rio.
— Se olharmos para a época em que o Rio estava esvaziado, isso (inflação mais alta) não acontecia. Passamos por um forte crescimento do setor de petróleo e gás e há uma série de eventos prevista para a cidade. Isso gera uma demanda maior por serviços — diz Freitas.
Um dos serviços com expressiva pressão de preços é o de empregado doméstico, que subiu 13,41% em 12 meses — o terceiro maior impacto individual, de 0,34 ponto percentual. Conserto de automóvel, por sua vez, avançou 10,03%. O cuidado com a beleza ficou mais caro: o cabelereiro teve alta de 7,78%, enquanto a manicure subiu 10,88%.

Custo dos turistas também aumenta

Os turistas viram seus custos dispararem: o preço de hotel aumentou 23,73% nos 12 meses encerrados em junho. No ano, a alta acumulada é de 16,68%. O táxi — também usado, claro, por quem mora por aqui — subiu 6,37% no último ano.
E a expectativa é que o custo mais caro se mantenha no Rio de Janeiro, já que especialistas acreditam que os preços devem levar algum tempo para se ajustar.
— À medida que os eventos esperados sejam realizados, a tendência é que os preços se ajustem. Os investimentos já estão ocorrendo, mas demoram a maturar. Por enquanto, teremos um período de vida mais cara aqui no Rio — diz Carlos Thadeu de Freitas. Para o ex-diretor do BC, o alívio na inflação esperado para o país por conta do esfriamento da economia deve ser menos sentido no Rio de Janeiro diante do mercado aquecido.
Para o economista da Fecomércio-RJ, a melhoria de infraestrutura e da logística da região tende a estimular mais investimentos do setor produtivo, o que permitirá um crescimento da economia fluminense sem pressionar a inflação.

Por O Globo