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Em depoimento, Cachoeira faz declaração de amor

O aguardado depoimento de Carlinhos Cachoeira à Justiça Federal, em Goiânia, foi um rápido compilado de ironias, declarações de amor à namorada, Andressa Mendonça, e até a promessa de se casar com ela "no primeiro dia" de sua liberdade. Preso desde o dia 29 de fevereiro, o contraventor chegou a ensaiar um discurso de que gostaria de "debater" questões do processo com o Ministério Público, mas, orientado por seus advogados, não respondeu a nenhuma pergunta que pudesse revelar detalhes da organização criminosa que chefiava.
Em rápido depoimento, entremeado pela derrubada de uma garrafa d´água e de um copo diante da mesa do juiz federal Alderico Rocha Santos, o contraventor disse ter se tornado um "leproso jurídico" e disparou declarações de amor à esposa, Andressa Mendonça. Sentada na primeira fila da sala de audiências na Justiça Federal em Goiânia, ela chegou a ser advertida pelo magistrado que presidia a sessão.
“O sofrimento é muito grande e é a oportunidade. Ela (Andressa) me deu a nova vida e eu te amo, tá?”, disse Cachoeira. Ele ainda brincou com seu atual estado civil – morava com Andressa antes da prisão em 29 de fevereiro – e disse que ainda não casou com a amada por conta das denúncias formuladas pelo Ministério Público.
“(Se sou casado) É uma pergunta difícil. É só o Ministério Público me liberar (que eu caso) no primeiro dia”, disse ao trocar olhares com Andressa. O bicheiro também ironizou a pergunta sobre seu endereço e declarou que, preso desde fevereiro, sequer poderia informar onde morava com a esposa.
Da plateia, Andressa Mendonça chegou a ditar o endereço do marido, mas foi interrompida pelo juiz Rocha Souza. “Não pode não, dona”, interveio o magistrado.
Após as juras de amor, Carlinhos Cachoeira fez uma rápida manifestação sobre como tem conseguido poucas vitórias no campo judicial. Citou o desembargador Tourinho Neto, responsável pelas raras vitórias dele no Judiciário, e resumiu: “essa declaração quero fazer em público. Estou sofrendo demais porque virei leproso jurídico”. “Me dói muito todo esse processo que estou passando, mas um dia tudo vai ser esclarecido”, disse.
Além de Cachoeira, outros seis integrantes da quadrilha do bicheiro foram questionados sobre os crimes a eles imputados e o papel na organização criminosa do contraventor.Apontado como o contador da quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira, Lenine Araújo de Souza disse nesta quarta-feira em depoimento na Justiça Federal, em Goiânia, que se sente “injustiçado” por ser alvo de acusações de que faria parte de um esquema de corrupção de autoridades.
O ex-vereador Wladmir Garcez, por sua vez, disse ser amigo de Cachoeira, mas negou que tivesse trabalhado para ele. Subordinado ao ex-diretor da construtora Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, o depoente disse ser responsável por “relações comerciais e institucionais” da empreiteira. Em sua oitiva, negou que tenha utilizado, como outros integrantes da quadrilha, rádios Nextel habilitados no exterior e supostamente à prova de grampos telefônicos. Chegou a sugerir uma perícia em seu Nextel para provar que foi comprado e habilitado em Goiânia.
Embora tenha confirmado amizade com o contraventor, disse que conversava “não com muita frequência” com Cachoeira. “Geralmente a gente conversava mais no final de semana quando a gente marcava um futebolzinho na chácara que ele tinha”. Confirmou ainda que conhecia parte da quadrilha “por participação em festas” e se negou a dar qualquer detalhe do esquema criminoso.

Araponga - Responsável por manter Carlinhos Cachoeira informado sobre operações policiais e realizar uma espécie de “serviço de inteligência” a mando do contraventor, Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, se recusou a prestar esclarecimentos à Justiça no depoimento. O depoente se negou até a informar quanto recebe por suas atividades lícitas ou ilícitas e tampouco se conhecia os demais integrantes da organização criminosa.
Já o depoimento de Gleyb Ferreira da Cruz se transformou em um desabafo contra o que ele considera uma “injustiça da Justiça”. Apontado em relatórios da Polícia Federal como o responsável pela administração dos bens da quadrilha do contraventor Carlinhos Cachoeira e como elo entre o bicheiro e delegados da Polícia Federal, Gleyb informou em juízo que tem analisado diariamente se é conveniente ainda continuar vivendo. Além do próprio Cachoeira, ele é o único réu que continua preso.
Chorando, o comparsa de Cachoeira resumiu: “Aprendi que não há justiça dentro da Justiça. Há uma injustiça”.
“Estou tendo de conviver com pessoas marginais, estupradores, traficantes. Não há justiça na Justiça. Isso não é cabível”, desabafou. “Não tenho no que acreditar porque meu dia tem sido se eu penso se vale a pena viver ou não. Não é relevante nada do que eu estou falando. É um desabafo”, disse.
Citados nas investigações policiais como responsáveis pela exploração direta dos jogos ilegais e pela distribuição dos dividendos da quadrilha, os irmãos Washinton de Sousa Queiroga e José Olímpio Queiroga optaram por permanecer em silêncio em juízo. Embora a própria defesa de ambos reconheça que eles eram exploradores dos jogos, a estratégia ao não se pronunciar era evitar se incriminarem por outros delitos.

Por Veja