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Paraguai declara embaixador da Venezuela como 'persona non grata'

O governo do Paraguai declarou nesta quarta-feira como "persona non grata" o embaixador da Venezuela no país, Don José F. Javier Arrúe De Pablo, e ordenou a retirada do chefe da missão diplomática paraguaia em Caracas, segundo um comunicado de seu Ministério das Relações Exteriores.
A Chancelaria afirmou que as medidas, que por pouco não caracterizam uma quebra total das relações diplomáticas, foram tomadas perante as graves evidências de intervenção por parte de funcionários da República Bolivariana da Venezuela em assuntos internos da República do Paraguai.
O texto indica que, como Arrúe De Pablo atualmente não se encontra no Paraguai, é necessário fixar um prazo para que saia do país. A medida tem efeito imediato. O embaixador venezuelano foi retirado do país por Caracas como retaliação ao impeachment relâmpago de Fernando Lugo em 22 de junho. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, também anunciou que cessaria o fornecimento de petróleo ao país, medida que posteriormente foi negada pela estatal PDVSA.
Considerando que o julgamento político do impeachment não deu a Lugo direito de defesa, Brasil, Argentina e Uruguai decidiram em 29 de junho suspender o Paraguai do Mercosul até que eleições sejam realizadas em abril e anunciaram que a Venezuela se tornará membro pleno do bloco a partir de 31 de julho.
A decisão referente ao embaixador da Venezuela foi tomada um dia depois de a ministra da Defesa do Paraguai, María Liz Garcia, ter revelado um vídeo em que o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, é flagrado em um encontro com altos militares paraguaios pouco antes da destituição de Lugo.
A ação foi interpretada por autoridades paraguaias como um caso de ingerência da Venezuela em sua política interna.
Maduro teria tentado arquitetar uma intervenção das Forças Armadas do Paraguai para impedir a destituição de Lugo. O vídeo teria sido gravado em 22 de junho, horas antes de o Senado aprovar o impeachment de Lugo, por câmeras do Palácio do Governo.
A câmera que fez a gravação não registra sons. Segundo a ministra María Liz Garcia, o presidente Federico Franco determinou a revelação da gravação. O governo venezuelano nega a ingerência.
O próprio Maduro havia desmentido ter participado de reunião antes da divulgação do vídeo. Ele havia viajado ao Paraguai integrando o grupo de chanceleres da Unasul (União das Nações Sul-Americanas).

Pedido negado

"O chanceler (Maduro) pediu que respondessem a uma situação que estava se delineando e afetava o ex-presidente. Pediu que respondessem imediatamente, conforme o que ocorria ao ex-presidente Lugo", disse a ministra.
Ela afirmou que, apesar da insistência do diplomata, os comandantes das Forças Armadas "optaram por respeitar a decisão do Congresso". Uma cópia da gravação foi levada pelo secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, que finalizou na terça-feira sua visita ao Paraguai.
Nesta quarta-feira, Lugo classificou como "montagem grosseira" o vídeo, afirmando que ele "tenta comprometer inutilmente diplomatas estrangeiros em manobras que nunca aconteceram" com o intuito de "desviar a atenção" do "golpe parlamentar" que lhe custou o cargo.
Em um comunicado, o presidente cassado alegou que as gravações expõem não só o chanceler venezuelano, mas "todo o corpo diplomático e os chanceleres a uma situação vergonhosa". Ele também desprezou o "estilo delator de perseguição" da ditadura "estronista" (de Stroessner, de 1954 a 1989), que o uso dos vídeos "imita". O político acusou, também, a imprensa de promover a versão de "que a presença desses diplomatas na antessala da presidência é uma prova irrefutável de conspiração", o que demonstra um "absoluto desprezo pela seriedade" e coloca "sob tensão" as relações internacionais do país.
"Qualquer diplomata que visite o Palácio do Governo do Paraguai de agora em diante poderá ser objeto de exposição desnecessária, com a difusão de imagens das câmeras de segurança, com a edição que não demonstra absolutamente nada", advertiu.
Segundo Lugo, é preciso apenas bom senso "para entender que os cargos civis e comandantes militares de um país devem estar "com seu presidente em momentos em que se consuma um golpe constitucional".
A ministra da Defesa prestou depoimento à promotoria sobre o caso e forneceu as gravações. A promotora encarregada, Stella Mary Cano, disse à imprensa que García se baseou na versão da reunião com Maduro que o chefe da Força Aérea, Miguel Christ, deu.
Segundo a promotora, Christ disse que o chanceler venezuelano "argumentou que, fosse qual fosse o resultado do julgamento político (pelo qual Lugo passava então), as Forças Militares responderiam ao então presidente Fernando Lugo".

Por iG