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Governo de Agnelo Queiroz espionou rivais, indica PF

Relatório da Polícia Federal aponta "fortes indícios" de interceptação ilegal de e-mails para obter informações "privilegiadas/antecipadas, de interesse do governo do Distrito Federal", na gestão do petista Agnelo Queiroz.
O relatório, baseado em grampos autorizados durante a investigação que levou à prisão de Carlinhos Cachoeira, é o primeiro documento da PF que liga o governo do Distrito Federal à espionagem de adversários políticos.
O relatório elenca cerca de 30 conversas em janeiro e fevereiro. O suposto esquema de arapongagem é indicado por diálogos entre o sargento da reserva da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá (ligado a Cachoeira e, segundo o relatório, próximo ao governo local), o agente aposentado da PF Joaquim Thomé e Marcello Lopes, o Marcellão, ex-assessor de Agnelo.
Nos áudios, eles citam uma pessoa chamada de "chefe" e "Claudinho", que a polícia suspeita ser o ex-chefe de gabinete de Agnelo, Cláudio Monteiro --que deixou o cargo após ser apontado como o contato do grupo de Cachoeira na cúpula do governo.
O relatório sugere aprofundar investigações sobre o esquema. Segundo a PF, Thomé passava e-mails a Dadá, que os repassava a Marcellão, que os entregava a Monteiro.
Num diálogo, o agente aposentado diz estar "vendendo serviço" ao governo. Em outro, Dadá diz a Thomé: "O governador vai cumprir. Ele não vai falhar não, entendeu?" A PF usa essa conversa como exemplo de que o destino das mensagens obtidas ilegalmente seria "Claudinho".
O alvo das interceptações seria o blogueiro Edson Sombra, que já levantou várias suspeitas contra Agnelo.
Em abril, a Folha revelara que policiais da Casa Militar usaram a estrutura estatal para acessar dados do deputado federal Fernando Francischini (PEN-PR). O governo do Distrito Federal nega o acesso irregular aos dados.
A CPI do Cachoeira deve ouvir hoje Joaquim Thomé e Andressa Mendonça, a namorada de Cachoeira.

OUTRO LADO

Ugo Braga, porta-voz do governador Agnelo Queiroz, disse que ele "desconhece ato de ex-integrantes de seu governo para interceptar e-mails" e "condena veementemente esse tipo de prática", dizendo que há apuração sobre isso no próprio governo.
O ex-chefe da gabinete Cláudio Monteiro diz ser vítima de "armação". "Nunca recebi material ilegal", diz.
Leonardo Gagno, advogado de Dadá, diz que as conversas não tratam de e-mails, mas de textos da internet. O defensor de Marcello Lopes, Jorge Jaeger, diz que ele não é investigado e o de Joaquim Thomé, Jorge Willians, chama o caso de hollywoodiano.

Por Folha