G20 começa em meio a indefinições e discordâncias
Em pleno inverno europeu, a comunidade econômica mundial se aquece para a primeira reunião do G20 – o grupo dos 19 países mais ricos do mundo, além da União Europeia – de 2011, que começa na tarde desta sexta-feira em Paris, na França. O encontro dos ministros das finanças e presidentes dos bancos centrais do bloco não deverá surpreender com grandes decisões. Seus objetivos primordiais são preparar terreno e lançar planos que deverão ser aprofundados ao longo do ano – e, quem sabe, concretizados na reunião dos presidentes dos países, que ocorrerá em Cannes, em novembro. Por ora, a expectativa é que as alianças entre nações evoluam tão lentamente quanto a busca por um equilíbrio global. Tal como na reunião ocorrida na Coreia do Sul em novembro, China e Estados Unidos ocupam posição central neste debate e, mais uma vez, sem perspectiva de solução para suas principais divergências.
A guerra cambial – caracterizada pela depreciação do dólar ante as diferentes moedas e a desvalorização forçada do yuan – evoluiu para um tema muito mais espinhoso e que deverá dominar as conversas no encontro: a reforma do sistema monetário internacional. O plano, defendido pela ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, visa criar uma cesta de moedas em que o yuan seja incluído com peso significativo – o que diminuiria, de certa forma, as pressões sobre o dólar e o euro. A ideia não agrada os Estados Unidos.
No prédio do Ministério da Economia e das Finanças, local do encontro, as questões monetárias dividirão as atenções com a inflação mundial dos alimentos – que espelha a significativa elevação das cotações das commodities agrícolas no mercado internacional. Aí se encontra outro ponto de discordância. A França, que preside o G20 neste ano, sugeriu que fosse discutida a fixação de limites para os preços das commodities – tendo em vista que os países não-produtores acabam sendo duramente prejudicados na equação de preços. O fenômeno exporta inflação para todo o planeta, inclusive para regiões que lutam para sair da estagnação econômica, como a Europa. O projeto francês tem sido duramente criticado pelo Brasil, que é um dos maiores exportadores de commodities. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já costurou o apoio da Argentina e dos Estados Unidos (ambos grandes produtores agrícolas) para se opor à ideia. Nas palavras do ministro, "é preciso hoje estimular a produção", a não inibi-la com preços baixos.
Outro ponto que provoca ruídos entre os países é a criação de um novo sistema regulatório para os superávits comerciais. Em resumo, países como a Alemanha e a China, que geram significativos excedentes na relação com o resto do mundo, teriam de abrir mão de parte do seus ganhos em favor de um equilíbrio do crescimento europeu. A ideia, como era de se esperar, também não é bem aceita pelos países.
Desta forma, o grande desafio deste encontro do G20 é como fazer com que tantos desacordos transformem-se em alianças. Para a ministra Christine Lagarde, que vem há várias semanas despachando e preparando os detalhes da reunião diretamente de sua casa, se os avanços não forem concretizados, “c’est pas grave”. “Caso nada aconteça, não será um drama”, afirmou Christine ao jornal Le Monde. Se para a ministra francesa, 'tudo bem', o mesmo não pode se dizer dos Estados Unidos. Em visita recente ao Brasil, o Secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, deixou claro que busca o apoio brasileiro contra a China e sua política de depreciação forçada da moeda – e que não esconderá isso durante o encontro.
O Brasil, no entanto, não parece estar disposto a sair de Paris sem resoluções. Enquanto os suplentes se reunirão na tarde de sexta-feira para discutir temas ministeriais em seminários, os ministros dos países que compõem os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) se encontrarão em um local ainda não divulgado para discutir alianças. A idéia é chegar ao jantar que dará início ao evento minimamente alinhados em alguns temas. O que fica por saber é quem estará disposto a ceder.
Por Veja