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Inflação preocupa mais que alta dos juros, diz presidente da GM

Enquanto alguns analistas colocam o aumento dos juros como um possível entrave à expansão do setor automotivo no Brasil em 2011, o presidente da terceira maior montadora do país pensa o contrário. Jaime Ardila – que assumiu indefinidamente o cargo de presidente da General Motors no país (ele já era da divisão para a América do Sul), após a saída repentina da presidente Denise Johnson – afirma que sua preocupação é outra: o aumento dos preços dos alimentos. Na avaliação dele, a inflação destes produtos tem o poder de impactar mais a venda de veículos que o próprio aumento dos juros. “Se os juros sobem, as pessoas dão um jeito de fazer a parcela caber no bolso. Já quando o orçamento está comprometido com despesas fixas mais altas, como supermercado, é preocupante”, afirma.
Ardila recebeu a imprensa, ao lado da cúpula brasileira da GM, para informar, pela primeira vez, alguns números relevantes da operação regional e nacional da montadora. Até o ano passado, a GM não divulgava nem mesmo os dados regionais. “O Brasil e China são as principais estrelas da GM. Queremos que os dois países sejam o eixo da recuperação da empresa no mundo”, afirmou o executivo. O país, que comercializou 658 mil unidades da montadora em 2010, é atualmente o terceiro mercado consumidor para a GM – e responde por 65% das vendas da América do Sul, ou 10,5 bilhões de dólares em receita. Segundo Ardila, o crescimento da receita entre 2009 e 2010 foi de 2 bilhões de dólares no continente sul-americano – o que, para o Brasil, significa que as vendas aumentaram cerca de 1,5 bilhão de dólares no período.
A GM prevê que, em 2011, o número de veículos vendidos pela empresa totalizará 700 mil unidades – quase 50 mil a mais que em 2010. Segundo Ardila, a previsão já conta com certa parcimônia, na certeza de que o Banco Central aumentará os juros, pelo menos, duas vezes neste ano. “Nossas previsões já estão mais conservadoras. A princípio, não acreditamos que será preciso revê-las ao longo do ano”, afirmou o executivo.

Combustíveis – No entanto, outros fatores (além dos juros) serão levados em consideração. É o caso do preço do petróleo, cujo barril atingiu 120 dólares nesta quinta-feira, e que afeta diretamente toda a linha de produção de veículos. “Mesmo com cenário se deteriorando, a América Latina goza de uma situação mais confortável, com a produção petrolífera da Venezuela e do Brasil. Cerca de 17% das reservas mundiais provadas estão na região”, disse o presidente.
Na avaliação de Ardila, os preços dificilmente serão repassados ao consumidor final. “Caso sejam repassados, veremos a migração para automóveis menores e mais econômicos”, afirma. Tais carros, mais eficientes no que se refere a combustíveis, produzem geralmente margens mais estreitas para as montadoras.
O etanol – que normalmente seria uma 'carta coringa' para o Brasil e tempos de alta do petróleo – hoje sobe a um ritmo intenso. Segundo Ardila, em 2010, a GM vendeu mais automóveis movidos a diesel do que flex no país.

China – O mercado chinês tornou-se, em 2010, o primeiro para a GM, atrás dos EUA e do Brasil. A companhia vendeu cerca de 2,2 milhões de unidades no país, enquanto, em sua terra natal, as vendas chegaram a 2,1 milhões de veículos. A GM também é a líder no mercado automotivo na China. Segundo Ardila, as coisas podem melhorar ainda mais na Ásia, sobretudo se Pequim retirar o controle que exerce sobre o yuan. “Em algum momento o yuan terá de ceder. E isso melhorará muito as exportações de peças e veículos para a China”, afirmou. O país asiático já conta com uma fábrica da GM em Xangai.
Dan Akerson, presidente mundial da GM, afirmou em conferência a analistas na manhã desta quinta-feira que não esperava que 2010 fosse se desenvolver de maneira tão positiva para a empresa – que passou por sua pior crise em 2008. “É um bom começo, mas há muito mais pela frente”, disse.

Por Veja