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Dilma modifica política de Lula e vota contra o Irã

O Brasil votou nesta quinta-feira a favor da criação de um relator especial para investigar as violações de direitos humanos no Irã, um voto que contraria seu histórico de dez anos de votos favoráveis ao país persa.
O Brasil foi um dos 22 países a votar a favor da proposta do Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), segundo confirmou o Ministério de Relações Exteriores à Folha.com.
A criação de um relator especial não é uma condenação direta ao Irã, mas é um dos maiores gestos que o órgão pode tomar para pressionar o governo de um país --com exceção da suspensão.
A diplomacia brasileira justificou seu voto dizendo ainda que o Irã não tem colaborado com a comunidade internacional, como antecipado pela Folha, no começo do mês. O país alega ainda que "a presente resolução é reflexo de uma avaliação compartilhada de que a situação dos direitos humanos no Irã merece a atenção do conselho".
O Brasil argumentou ainda que "todos os países, sem exceção, têm desafios a superar na área de direitos humanos" e que o sistema da ONU, "a despeito de suas imperfeições, oferece oportunidades para a promoção de melhorias".
Em junho de 2010, o Brasil foi um dos únicos dois votos contra a quarta rodada de sanções do Conselho de Segurança da ONU contra o Irã, que visava a deter seu controverso programa nuclear.
Cinco meses depois, o Brasil se absteve do voto quando o Comitê de Direitos Humanos aprovou uma resolução para expressar "grande preocupação" com o uso de lapidação, flagelação e amputação como punição no Irã. Na época, o governo brasileiro disse que este não era o fórum adequado para a discussão --argumento comum do Brasil para se abster em votos contra o Irã na Assembleia Geral da ONU.
Esta, contudo, é a primeira votação sobre o Irã no conselho, criado em 2006. O Brasil também manteve um histórico de abstenção no órgão predecessor, a Comissão de Direitos Humanos, desde o governo Fernando Henrique Cardoso.

PREOCUPAÇÃO
 
Nesta quinta-feira, o conselho expressou sua "preocupação" com a repressão da oposição e o aumento do uso da pena de morte no país e lamentou a falta de colaboração das autoridades iranianas.
Desde 2002, o Irã não autoriza a renovação do mandato do relator especial sobre o país e, desde 2005, não deixou entrar nenhum dos relatores especiais da ONU no país.
O relator foi aprovado por 20 votos, teve sete votos contra e 14 abstenções. Quatro das 47 nações do conselho não votaram.
A resolução teve o apoio ainda dos Estados Unidos (que patrocinou a medida), Zâmbia, Panamá e Colômbia.
"Os Estados Unidos e outros parceiros estão gravemente preocupados com a situação no Irã, onde o respeito aos direitos humanos se deteriorou dramaticamente nos últimos anos", disse a embaixadora dos EUA no órgão, Eileen Donahoe.
Entre os que votaram contra estão China, Rússia, Cuba e Paquistão --este último criticou a medida como intromissão nos assuntos internos do país.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, já dissera no começo do ano que o Irã intensificou a violência contra os opositores e a execução de traficantes de droga, prisioneiros políticos e criminosos juvenis.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, em um discurso ao conselho no mês passado, poucos dias depois de Washington aprovar novas sanções no Irã para suas atividades nucleares, pediu a criação do cargo.
O conselho votou ainda, separadamente, por estender o mandado do relator especial na Coreia do Norte, por mais um ano. O Brasil, mantendo a tradição, votou a favor.

Por Folha