Voto do Brasil sobre Irã na ONU atendeu a pedido de Obama
GENEBRA e BRASÍLIA - A votação desta quinta-feira que marcou um rompimento do governo Dilma Rousseff com a postura de paciência do governo Lula em relação ao Irã atendeu a um apelo do presidente americano, Barack Obama, segundo um alto funcionário do executivo brasileiro. De acordo com a fonte, durante sua visita ao Brasil, Obama pediu pessoalmente a Dilma que o Brasil fosse coautor da resolução que foi aprovada em Genebra, abrindo caminho para o Conselho de Direitos Humanos da ONU investigar as numerosas denúncias de violações imputadas ao governo de Mahmoud Ahmadinejad.
Proposta por Washington, a resolução foi aprovada por 22 votos a favor - entre eles o brasileiro - contra 7. Dilma não teria respondido ao pedido do presidente americano durante o encontro dos dois em Brasília. Fez mistério até o momento da votação, quando o Brasil sinalizou que, se havia uma política entre brasileiros e iranianos, esta foi fortemente abalada.
O voto contrasta com a decisão do Brasil de optar, em novembro passado, pela abstenção na votação de uma resolução num comitê da Assembleia Geral condenando o desrespeito aos direitos humanos no Irã. A medida pedia o fim dos apedrejamentos, as perseguições a minorias étnicas e os ataques a jornalistas.
Na votação desta quinta ficou clara a divisão: entre os sete que apoiaram o Irã estão países com sérios problemas de direitos humanos e que temem um dia ser alvo de uma resolução semelhante, como Cuba, Paquistão e China. Outros 14 países, dos 47 que formam o Conselho - se abstiveram, e quatro não compareceram ao voto. O próximo passo será nomear um relator especial para investigar as violações no Irã - o que não deve acontecer antes de julho.
- Este não é um voto contra o Irã. É um voto a favor do fortalecimento do sistema de direitos humanos - justificou a representante do Brasil no conselho, a embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo.
Segundo ela, o voto é coerente com a mensagem de Dilma Rousseff, de que direitos humanos são um elemento central da política externa e interna do Brasil. Mas é também coerente - insistiu - com as posições do governo no Conselho de Direitos Humanos. A embaixadora negou que o voto seja parte de uma barganha diplomática para que o Brasil obtenha uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Por O Globo