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Com Mangueira ocupada, só falta Maré para a Copa

A ocupação da Mangueira , realizada no domingo por cerca de 750 policiais civis e militares, com o apoio das Forças Armadas, abre espaço para o fechamento do cinturão de segurança em torno do palco principal da Copa do Mundo de 2014: o Maracanã. O mapa da cidade, no entanto, ainda traz pontos vulneráveis no caminho dos grandes eventos esportivos que se aproximam do Rio. Para a Copa, o Complexo da Maré é o último grande obstáculo: ocupado por traficantes, margeia a Linha Vermelha, principal ligação com o Aeroporto Tom Jobim. Para as Olimpíadas de 2016, há desafios pendentes como a Rocinha e o Vidigal, no meio do caminho entre a Zona Sul e a Barra, regiões que abrigarão provas dos Jogos.
As equipes começaram a chegar à Mangueira por volta das 6h. Embora tenham sido ouvidos disparos no dia anterior, a entrada na favela foi tranquila. Nenhum tiro foi disparado. Em vários acessos ao morro, os moradores estenderam panos brancos com a palavra paz. A operação foi o primeiro passo para a instalação da 18 Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio. Com isso, o estado consegue cercar a Grande Tijuca: além da ocupação de domingo, foram retomadas os morros do Turano, Salgueiro, Formiga, Andaraí, Borel, Macacos e São João.

Rotina normal no Buraco Quente

Os agentes contaram com o apoio de quatro helicópteros e outros sete blindados terrestres, seis da Marinha. No início da operação, de manhã, as ruas estavam desertas e o comércio ficou fechado. À tarde, a rotina já parecia a de um domingo qualquer. Bares de localidades como Buraco Quente e Chalé estavam cheios. Porém, os moradores, ao comentar a retomada da favela, preferiam não se identificar.
- Espero que a vida melhore. Ninguém gosta de viver na violência. Mas prefiro aguardar a saída de vocês (imprensa) para dar uma opinião - afirmou uma moradora do Chalé.
No Buraco Quente, alheio à movimentação da tropa, um grupo de quatro amigos jogava dominó.
- A gente sempre se reúne aos domingos. Não vejo razão para não fazer isso hoje (ontem). Agora, se a UPP vai ser boa? Tomara que sim, mas é cedo para fazer previsão - disse um integrante da roda.
Sem revelar qual será a próxima comunidade a ser beneficiada por uma UPP, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse que ainda há muito a ser feito.
- Ninguém está dando o jogo como ganho - afirmou, acrescentando que há informações sobre os bandidos que fugiram: - A polícia trabalha e, no momento oportuno, age.
A ocupação já abriu caminho para alguns serviços públicos. Equipes da Vigilância Sanitária iniciaram ontem mesmo uma fiscalização do comércio, enquanto agentes da Secretaria municipal de Obras chegavam para demolir construções irregulares. Reboques da polícia percorreram a comunidade para apreender veículos roubados.
Pela primeira vez foram instalados aparelhos de GPS em carros e radiotransmissores da PM, para checar a localização dos policiais. As imagens eram transmitidas diretamente para o centro de operações. Outra novidade foi a presença de equipes da Defensoria Pública para garantir que não haveria qualquer violação de direitos humanos durante a operação.
Foram ocupadas pela polícia, além da Mangueira, comunidades vizinhas: os morros dos Telégrafos, do Parque Candelária e do Tuiuti. Foram apreendidos 32 veículos roubados, 300 trouxinhas de maconha e 35 tabletes da droga prensadas. Três pessoas foram encaminhadas à 17 DP (São Cristóvão) por porte de entorpecentes. No momento em que policiais hasteavam as bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro no Morro dos Telégrafos, helicópteros da polícia jogavam panfletos com fotos de bandidos procurados.
Depois da Mangueira, há desafios para as Olimpíadas na região de Deodoro, que abrigará instalações dos Jogos: favelas como o Muquiço continuam sob o jugo do tráfico. Há ainda a Barreira do Vasco, em São Cristóvão, junto ao Estádio de São Januário, que receberá as competições de rugby. A situação é a mesma em comunidades de bairros vizinhos ao Engenho de Dentro, onde fica o Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, como o Complexo do Lins, em Lins de Vasconcelos, e do Urubu, em Pilares.

Por O Globo