|

Dólar fecha a R$ 1,86 com forte alta; Bovespa cede 0,70%

Há 15 meses o mercado de câmbio doméstico não negociava o dólar a preços tão altos como os vistos na sessão desta quarta-feira.
Após leve queda pela manhã, quando chegou a ficar abaixo de R$ 1,80, a moeda americana atingiu o pico do dia --R$ 1,86-- no final da tarde. A cotação até chegou a ceder para R$ 1,85 logo depois, mas voltou para o valor máximo no encerramento das operações: R$ 1,865, em forte alta de 4,24%.
Esse tipo de volatilidade não era vista num só dia para o câmbio desde outubro de 2008, quando a moeda chegou a subir 6% em somente um pregão. Nas mesas de operações já se fala em um possível novo "piso" informal para as cotações da divisa: em vez de R$ 1,70 (como há poucos dias), agora se fala em R$ 1,80.
Já a Bolsa de Valores, que operou em alta durante todo o dia, virou para o campo negativo e encerrou em queda de 0,70%, pelo índice Ibovespa, que marcou os 55.981 pontos. O giro financeiro foi de R$ 6,77 bilhões.
Somente em setembro, a taxa cambial subiu em 13 dos 14 dias úteis deste mês, em uma alta de 16,6% desde o final de agosto.
O noticiário do dia não trouxe alívio para os mercados. Nos EUA, o Federal Reserve (banco central desse país) anunciou uma operação de US$ 400 bilhões para estimular a concessão de empréstimos para empresas e consumidores, mas que não animou as Bolsas americanas, que já operam com desvalorização. Ainda nos EUA, a agência de classificação Moody's piorou sua avaliação sobre o risco de solvência de dez bancos desse país.
E no velho continente, permanece indefinida o repasse de novos recursos financeiros para "salvar" a Grécia, país com uma delicada situação financeira, e que precisa de dinheiro novo do FMI e da União Europeia para saldar seus compromissos e evitar um "default" (calote), evento que, se concretizado, muitos comparam a um novo evento "Lehman Brothers".
Profissionais do setor financeiro notam que a forte alta dos últimos dias também deve ser atribuída a um nervosismo dos agentes financeiros. E que parte dessa trajetória também pode ser atribuída à especulação: segundo operadores, grandes agentes financeiros ajustaram suas "apostas" no mercado futuro para ganhar com a alta das cotações, em vez da baixa, como era praxe até julho e agosto.
Uma parcela do mercado ainda avalia que a taxa cambial deve voltar para patamares mais baixos nos próximos meses.
"Está todo mundo gritando 'fogo' agora, mas em algum momento esse dólar vai ter voltar a refletir os fundamentos [da economia]", diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
"E quais são esses fundamentos? Uma taxa de juros nominal ainda muito alta, e a perspectiva de uma melhora na avaliação de risco do país no curto prazo", acrescenta.
Ele lembra que o governo brasileiro tem reforçado seus compromissos em manter as contas públicas sob controle, uma atitude que pode ser "premiada" pelas agências de "rating", como já visto com a Turquia recentemente.
Perfeito, assim como outros especialistas do setor financeiro, não descarta um cenário que o dólar ainda vá oscilar nos níveis de R$ 1,90 ou R$ 2 nos próximos meses, por conta do "momento excepcional" da economia externa. E que os fundamentos podem levar ainda alguns meses para "fazer efeito" sobre os preços da moeda americana.

BRASIL
 
No front doméstico, ganha destaque a indicação de que novas quedas dos juros no Brasil devem ocorrer caso a situação internacional se deteriore.
O Ministério da Fazenda afirmou que 'se houver uma piora da crise global, o Banco Central do Brasil pode agir com uma política monetária expansiva, em resposta a um possível desaquecimento da economia', conforme o boletim 'Economia Brasileira em Perspectiva', divulgado hoje.
E o ministro Guido Mantega (Fazenda) já avisou que o governo, por enquanto, descarta medidas para conter a valorização cambial.
"O câmbio esta apenas devolvendo o que valorizou antes", disse o ministro ao desembarcar na estação de trem em Washignton, onde vai participar dos encontros do FMI (Fundo Monetário Internacional).
O Banco Central, que se ausentou do mercado de câmbio há vários dias, advertiu hoje que não vai mais realizar uma leilão de "swap" cambial, o equivalente a uma operação de compra de dólar no mercado futuro, por conta da alta das cotações.

Por Folha