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Espanha busca nas urnas a guinada para se livrar da crise

Neste domingo, 36 milhões de espanhóis vão às urnas eleger seu novo primeiro-ministro. Após oito anos como chefe de governo, José Luis Rodríguez Zapatero, sai pela porta dos fundos, com popularidade pífia e a pecha de ter levado a Espanha à beira do abismo, em meio à crise econômica na qual está atolada a zona do euro. Depois de se ver obrigado a dissolver o Parlamento, em setembro passado, e antecipar as eleições em quatro meses, o atual premiê terá de encarar uma derrota histórica no pleito, no qual também serão escolhidos os 350 membros da Câmara dos Deputados e os 208 do Senado. Se as pesquisas eleitorais estiverem corretas - e tudo indica que estão - o governista Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) vai amargar o pior resultado desde que foi fundado, em 1879, passando o poder ao conservador Partido Popular (PP), representado pelo ex-ministro Mariano Rajoy.
O levantamento mais recente do Instituto Metroscopia, publicado pelo jornal El País, prevê uma vantagem de 14,5% para o PP, que deve ficar com 45,4% dos votos, contra 30,9% do PSOE. Já a pesquisa feita pelo Instituto Sigma Dos, divulgada pelo periódico El Mundo, aponta uma diferença ainda maior, de quase 18%, entre as duas legendas: 47,6% dos votos ficariam com os conservadores, e 29,8%, com os socialistas. Nesse cenário, o PP conquistaria entre 184 e 194 cadeiras na Câmara dos Deputados (onde a maioria absoluta é de 176), enquanto o PSOE perderia 57 das vagas que ostenta atualmente, chegando a no máximo 112 parlamentares. E essa guinada à direita que os eleitores espanhóis estão ensaiando fez com que o candidato governista, Alfredo Pérez Rubalcaba, endurece seu discurso, tornando mais agressivo o tom do debate com Rajoy - algo raro na Espanha, segundo analistas.

Discursos - Em seus comícios, sempre de olho nos eleitores indecisos, Rubalcaba diz que o país vive um "caso de urgência" e, por isso, as eleições deste domingo são as mais importantes desde 1977. "A indiferença não constrói nada", destacou. Enquanto isso, Rajoy, seu principal rival e grande favorito, enfrentou a reta final da campanha de uma perspectiva muito diferente - e confortável. Político normalmente discreto, o conservador deu pulinhos de alegria em um comício no domingo passado e declarou publicamente que acredita na vitória. Quem quer que seja o novo premiê espanhol, sua festa termina imediatamente após a eleição, porque o cenário que ele terá pela frente não é nada fácil: o país tem 5 milhões de desempregados, que representam mais de 21% de sua força de trabalho; registrou crescimento econômico nulo no terceiro semestre, em comparação ao período anterior; e deve fechar o ano com um Produto Interno Bruto (PIB) por volta de 0,8%, muito aquém da meta de 1,3%.

Por Veja