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Mario Monti é convocado a formar novo governo na Itália

O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, pediu formalmente ao economista Mario Monti que forme um governo de emergência para implementar importantes medidas econômicas necessárias para impulsionar o país para fora da crescente crise da dívida. 
O economista afirmou nesta tarde que o contexto econômico europeu e global é "problemático", mas prometeu trabalhar com "urgência". Ele disse que a Itália precisa ser um "elemento de força, não de fraqueza" na União Europeia (UE) para ajudar a conter a crise da dívida na região.
Monti declarou ainda que seus esforços vão se concentrar na correção das finanças públicas da Itália e na tentativa de impulsionar o crescimento econômico. Ele acrescentou que vai prestar atenção a questões de "justiça social e intergeracionais". Segundo ele, há alguns "aspectos de emergência" na situação atual, mas a Itália "pode superá-los com o esforço comum".
Antes de começar a governar, o economista precisa escolher um gabinete e sua nova administração precisa garantir maioria no parlamento. Monti tem o apoio da oposição de centro-direita e de muitos membros do partido conservador do atual primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, que fica no cargo até a posse formal de Monti.
Berlusconi, o homem que mais permaneceu no poder na Itália desde Benito Mussolini, formalizou sua renúncia neste sábado, o que levou milhares de pessoas às ruas de Roma, em clima de celebração.
Em pronunciamento neste domingo, o presidente Napolitano pediu que os legisladores ofereçam amplo apoio bipartidário a Monti e confirmou que os líderes dos dois maiores partidos da Itália concordaram em fazê-lo, desde que o novo governo seja formado por ministros técnicos e não por políticos ativos.
Napolitano disse ainda que a Itália não poderia ter um "vácuo no poder" que uma eleição antecipada criaria. "Precisamos adotar medidas urgentes, começando com aquelas já acordadas com a União Europeia", afirmou o presidente. "Precisamos restaurar a confiança dos investidores e das instituições europeias."

'Super Mario'

Preferido dos mercados, Monti tem a vantagem, segundo analistas, de ter um bom trânsito entre os demais países europeus, graças à sua experiência à frente de dois comissariados da União Europeia, entre 1995 e 2004.
Espera-se que Monti indique um gabinete pequeno formado principalmente por especialistas tecnocratas para adotar medidas com o objetivo de tirar a Itália da crise.
No cargo de Comissário europeu responsável por combater os monopólios e zelar por uma concorrência comercial saudável na União Europeia, entre 1999 e 2004, ele ganhou o apelido de "Super Mario". Isso devido à tenacidade que mostrou ao se opor aos poderosos bancos regionais alemães e por impedir a fusão entre os gigantes do setor de energia General Electric e Honeywell. Antes disso, de 1995 a 1999, ele foi Comissário europeu para mercado interno e serviços.
O apelido também foi conferido a Mario Draghi, outro italiano que assumiu a presidência do Banco Central Europeu (BCE) no início do mês.

Interferência dos mercados na política

A influência dos investidores nos rumos políticos da Europa vem gerando protestos contra a suposta "tutela" ou a "ditadura" dos mercados, tese reforçada pela escolha - sem eleições - de dois tecnocratas para gerenciar a crise na Grécia e na Itália, Lucas Papademos e Mario Monti.
Para Gunther Capelle-Blancard, professor de economia da Universidade Panthéon-Sorbonne, a culpa está, antes de mais nada, na má gestão. "Se quisermos tirar o poder dos mercados sobre os Estados, é preciso conter o endividamento", pondera.
Entre experts ouvidos pelo 'Estado', como Francesco Saraceno e Nicolas Veron, a convicção é de que a crise econômica se transformou em crise política, que por sua vez realimenta a instabilidade. Philippe Moreau Defarges, diretor de Estudos Europeus do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri), de Paris, lembra que uma das consequências naturais de uma longa crise é justamente o alto custo para quem está no poder. Para ele, quanto mais longa for a turbulência, mais cabeças vão rolar.

Por Estadão