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Rocinha é ocupada sem tiros, mas teme o futuro

Anunciada há um ano, arquitetada durante 30 dias e concretizada em duas horas. Sem um único disparo.
Foi assim que as forças de segurança do Rio conseguiram retomar, ontem, o controle de duas de suas principais favelas, Rocinha e Vidigal, dominadas pelo tráfico há mais de 30 anos.
A operação, que contou com cerca de 3.000 homens, ocorre um ano depois da ocupação do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro quando houve ao menos duas mortes. Ontem foi diferente: não houve reação.
A maior resistência foi o óleo que traficantes derramaram nas ruas, para atrapalhar os veículos.
Também influenciou o tamanho da ADA (Amigo dos Amigos). A facção que comandava a Rocinha é menor em poder e em territórios que o CV (Comando Vermelho).
Após a ocupação, 38 armas --entre elas 15 fuzis e uma submetralhadora--, 61 bombas artesanais, 60 kg de pasta de cocaína, 112 kg de maconha, 75 motos e 17 mácaça-níqueis foram apreendidos. Foragido por roubo à mão armada, Igor Tomás da Silva, 29 anos, foi preso.
 
Barreiras
 
A ação do Estado começou há 15 dias com barreiras nas estradas de acesso a Macaé, no norte do Estado, onde há favelas sob domínio da ADA, e com operações em comunidades que poderiam ser abrigo para traficantes.
Segundo moradores, no entanto, a maioria dos comparsas de Nem, o chefe do tráfico, fugiu antes da ação.
Para evitar reclamações sobre abusos, o comando da PM proibiu que os policiais entrassem com mochilas, e policiais da corregedoria acompanharam a operação. Após a ocupação, as bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro foram hasteadas.
Cabral ligou para a presidente Dilma Rousseff para agradecer o apoio --de 206 policiais, 194 fuzileiros navais e 18 blindados da Marinha--, e conversou com Lula.
A Polícia Militar deve permanecer na Rocinha até a instalação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). A operação de ontem faz parte dos planos do governo de ter toda a cidade sem áreas dominadas pelo tráfico até 2014.

Por Folha