Construção de hidrelétrica vira pesadelo para quem vive do rio
Madrugada na Floresta Amazônica. Em um alagado, troncos secos parecem sem vida. Na verdade, abrigam uma espécie que pode ser considerada a mais brasileira das aves. Quando o dia ainda não é dia e a noite não se foi totalmente, decolam. Assim, as ararajubas iniciam o dia. Evitam os predadores diurnos e noturnos, no momento em que são mais lentas. E, em segundos, desaparecem pela floresta. Fora do período de reprodução, passam o dia inteiro na mata se alimentando.
O comandante Alberto Orlati Júnior, piloto do helicóptero, vai nos levar atrás delas. Com o fundo verde da floresta, é só procurar pelo contraste ideal. Uma hora de voo e nada. No momento do pouso, surpresa: um bando aparece e se divide. Em minutos, conseguimos a distância ideal. Podemos ter o prazer de voar lado a lado com a ave símbolo do Parque Nacional da Amazônia.
“Voar na região amazônica é sempre muito proveitoso, muito interessante, mas o ponto alto dessa missão toda foi ter a oportunidade de ter feito um voo em ala com a ararajuba. Isso foi muito gratificante”, conta Orlati.
Queremos agora vê-las mais de perto. A procura começa pela Transamazônica.
“Por trilha, no meio do mato, não achamos a ararajuba”, avisa Gilberto Nascimento da Silva, guia do parque. “Tem que ir observando, procurar alguma outra fruta além do murici. Elas se alimentam ao longo da rodovia, dentro do parque. É fácil observá-la nas árvores. Tem que esperar um pouco e contar com a sorte.”
As ararajubas parecem estar sempre de passagem. Mas a quem madruga Deus ajuda. Em uma árvore bem alta, um bando descansa. Ao sol, brilham como ouro. O amarelo da maior parte da plumagem se contrasta com algumas penas verdes. Não é à toa que é considerada tão brasileira. A ararajuba, ou guarouba, é considerada uma espécie vulnerável. Só é encontrada em uma faixa de floresta entre os estados do Pará e Maranhão.
O que mais chama a atenção nas ararajubas é o comportamento que têm com relação à segurança. Elas escolhem sempre ocos em troncos, de preferência em áreas alagadas, para construir o ninho e também dormir. É justamente na hora do pouso que revelam uma estratégia para evitar os possíveis predadores.
Abrimos uma picada na mata para chegar bem perto do dormitório delas. Os cinegrafistas José Ferreira e Pedro Santana se camuflam na mata. A tarde começa a cair. A família de ararajubas se aproxima, um casal e dois filhotões. E, assim como fazem quando decolam, só pousam no lusco fusco. No topo do tronco, uma delas fica como sentinela. O bando se aproxima e entra no tronco. Quando parecia que iam dormir, mudam para outro tronco. Só então se abrigam de vez. As cores, verde e amarelo, podem também simbolizar uma questão bem atual. O amarelo quase dourado, a energia; e o verde, a floresta.
Bem brasileiros também são os moradores da região. Gente que sempre viveu da floresta e do rio. A Vila Rayol é uma pequena comunidade onde vivem 40 pessoas de uma mesma família. Gente de vida simples. Moradores de casas de taipa. Gente que possui a própria escola para poucos alunos. Brasileiros que vivem sem energia elétrica até hoje, mas não trocam essa vida por outra.
“Aqui está bom para mim. Estou aqui há muito tempo”, reforça o pescador Sebastião dos Santos.
Para eles, a construção da usina de São Luiz é quase um pesadelo. “O medo da gente não é do rio secar, não é do rio em si. É de a gente ficar à toa”, teme o pescador Francisco Pires da Silva.
Sem energia elétrica, diversas etnias indígenas viveram nessa região por vários séculos. Ainda hoje existem várias aldeias às margens dos rios Juruena, Teles Pires e Tapajós.
“A gente está preocupado, porque a gente não tem para onde ir. É tudo tão fácil para nós. A gente pega um peixe, é fácil. E quer fazer uma rocinha, tem o lugar para fazer”, desabafa o índio apiacá Ovídio Pereira.
Desses índios, muito pouco se conhece da história. Assim como as folhas das árvores escondem os pássaros, as folhas secas, mortas no chão, às vezes escondem também a história. Afastando uma camada superficial, encontramos uma terra escura, que os arqueólogos chamam de terra preta arqueológica. É um indicativo de que toda a área já foi uma aldeia indígena. Cavando um pouco, encontramos cacos da história, pedaços de vasos, alguns decorados e outros utensílios. Difícil saber qual etnia indígena existia no local, já que a região tem índios tapajós, mundurucus, caiabís e apiacás. É provável que uma árvore enorme que existe no local não existia quando os índios estavam ali.
Até agora, já foram encontrados nessa região 26 sítios arqueológicos. A construção das barragens vai afetar os índios remanescentes e também a história deles.
“As informações passadas para nós é de que 90% vão ficar embaixo d'água”, alerta José Sales de Souza, chefe substituto do Parque Nacional da Amazônia.
O comandante Alberto Orlati Júnior, piloto do helicóptero, vai nos levar atrás delas. Com o fundo verde da floresta, é só procurar pelo contraste ideal. Uma hora de voo e nada. No momento do pouso, surpresa: um bando aparece e se divide. Em minutos, conseguimos a distância ideal. Podemos ter o prazer de voar lado a lado com a ave símbolo do Parque Nacional da Amazônia.
“Voar na região amazônica é sempre muito proveitoso, muito interessante, mas o ponto alto dessa missão toda foi ter a oportunidade de ter feito um voo em ala com a ararajuba. Isso foi muito gratificante”, conta Orlati.
Queremos agora vê-las mais de perto. A procura começa pela Transamazônica.
“Por trilha, no meio do mato, não achamos a ararajuba”, avisa Gilberto Nascimento da Silva, guia do parque. “Tem que ir observando, procurar alguma outra fruta além do murici. Elas se alimentam ao longo da rodovia, dentro do parque. É fácil observá-la nas árvores. Tem que esperar um pouco e contar com a sorte.”
As ararajubas parecem estar sempre de passagem. Mas a quem madruga Deus ajuda. Em uma árvore bem alta, um bando descansa. Ao sol, brilham como ouro. O amarelo da maior parte da plumagem se contrasta com algumas penas verdes. Não é à toa que é considerada tão brasileira. A ararajuba, ou guarouba, é considerada uma espécie vulnerável. Só é encontrada em uma faixa de floresta entre os estados do Pará e Maranhão.
O que mais chama a atenção nas ararajubas é o comportamento que têm com relação à segurança. Elas escolhem sempre ocos em troncos, de preferência em áreas alagadas, para construir o ninho e também dormir. É justamente na hora do pouso que revelam uma estratégia para evitar os possíveis predadores.
Abrimos uma picada na mata para chegar bem perto do dormitório delas. Os cinegrafistas José Ferreira e Pedro Santana se camuflam na mata. A tarde começa a cair. A família de ararajubas se aproxima, um casal e dois filhotões. E, assim como fazem quando decolam, só pousam no lusco fusco. No topo do tronco, uma delas fica como sentinela. O bando se aproxima e entra no tronco. Quando parecia que iam dormir, mudam para outro tronco. Só então se abrigam de vez. As cores, verde e amarelo, podem também simbolizar uma questão bem atual. O amarelo quase dourado, a energia; e o verde, a floresta.
Bem brasileiros também são os moradores da região. Gente que sempre viveu da floresta e do rio. A Vila Rayol é uma pequena comunidade onde vivem 40 pessoas de uma mesma família. Gente de vida simples. Moradores de casas de taipa. Gente que possui a própria escola para poucos alunos. Brasileiros que vivem sem energia elétrica até hoje, mas não trocam essa vida por outra.
“Aqui está bom para mim. Estou aqui há muito tempo”, reforça o pescador Sebastião dos Santos.
Para eles, a construção da usina de São Luiz é quase um pesadelo. “O medo da gente não é do rio secar, não é do rio em si. É de a gente ficar à toa”, teme o pescador Francisco Pires da Silva.
Sem energia elétrica, diversas etnias indígenas viveram nessa região por vários séculos. Ainda hoje existem várias aldeias às margens dos rios Juruena, Teles Pires e Tapajós.
“A gente está preocupado, porque a gente não tem para onde ir. É tudo tão fácil para nós. A gente pega um peixe, é fácil. E quer fazer uma rocinha, tem o lugar para fazer”, desabafa o índio apiacá Ovídio Pereira.
Desses índios, muito pouco se conhece da história. Assim como as folhas das árvores escondem os pássaros, as folhas secas, mortas no chão, às vezes escondem também a história. Afastando uma camada superficial, encontramos uma terra escura, que os arqueólogos chamam de terra preta arqueológica. É um indicativo de que toda a área já foi uma aldeia indígena. Cavando um pouco, encontramos cacos da história, pedaços de vasos, alguns decorados e outros utensílios. Difícil saber qual etnia indígena existia no local, já que a região tem índios tapajós, mundurucus, caiabís e apiacás. É provável que uma árvore enorme que existe no local não existia quando os índios estavam ali.
Até agora, já foram encontrados nessa região 26 sítios arqueológicos. A construção das barragens vai afetar os índios remanescentes e também a história deles.
“As informações passadas para nós é de que 90% vão ficar embaixo d'água”, alerta José Sales de Souza, chefe substituto do Parque Nacional da Amazônia.
Por Globo.com