PT quer Paulo Teixeira na relatoria de CPI
O PT deve indicar o deputado federal Paulo Teixeira (SP) para a relatoria da CPI do Cachoeira, que foi instalada nesta quinta-feira
no Congresso Nacional. A escolha de Teixeira casa com os interesses
subterrâneos que os petistas têm na criação da comissão: desmoralizar
adversários políticos e a imprensa. Parte da bancada e integrantes da
base aliada preferiam o nome de Cândido Vaccarezza (SP) para relator.
Mas o deputado, de perfil moderado, impôs condições para assumir a
relatoria: não estava disposto a atacar e constranger partidos de
oposição ou jornalistas. Assim, a preferência da legenda se voltou para
Teixeira, mais agressivo.
A intenção dos petistas de usar a CPI como ferramenta política foi mostrada em reportagem da edição desta semana
de VEJA. O PT quer desviar o foco de debate do mensalão, que deve ser
julgado ainda este ano pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O senador Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB) deve ser o escolhido para
presidir a comissão. Pouco entusiasmados com a CPI, os peemedebistas têm
em Vital o único candidato a comandar os trabalhos. E mesmo o
parlamentar paraibano não demonstra muita disposição com o cargo: no
início da semana, ele disse torcer para que a investigação não fosse
necessária. Na avaliação dele, a CPI só foi proposta porque o Supremo
Tribunal Federal (STF) negou ao Conselho de Ética do Senado o acesso ao
inquérito contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Vital
tinha esperança de que o STF voltasse atrás, compartilhasse as
informações e tornasse desnecessária.
Recém-instalada, a CPI também já traz uma notícia inusitada: um dos
parlamentares indicados para compor a comissão está envolvido com o
contraventor que pretende investigar, Carlinhos Cachoeira. Trata-se de Protógenes Queiroz
(PCdoB-SP), flagrado em pelo menos seis conversas suspeitas com um dos
mais atuantes integrantes do esquema do bicheiro goiano: Idalberto
Matias Araújo, o Dadá. O elo entre os dois foi revelado em grampos da
Operação Monte Carlo, da Polícia Federal.
O nome de Protógenes foi apresentado na noite desta quinta-feira pela
bancada do PCdoB para compor a lista de integrantes da comissão, que
terá representantes da Câmara e do Senado. O suplente dele será Osmar
Júnior (PI). Antes de ser pego pelo grampo, Protógenes foi o autor do
requerimento de criação da CPI. As conversas gravadas revelam o empenho
do deputado em orientar Dadá na investigação aberta contra ele próprio,
no ano passado.
O PTB também apresentou, nesta quinta, os seus indicados pela Câmara:
Silvio Costa (PE) e o suplente Arnaldo Faria de Sá (SP). “São os dois
que se dispuseram. Alguns deputados não gostam de participar de CPI”,
explicou o líder do partido na Casa, Jovair Arantes. O político
minimizou o fato de também ter sido citado nas escutas da Operação Monte
Carlo. “Fui citado muito en passant. Eu até estranho que continuem citando o meu nome como se eu estivesse envolvido.”
Ainda na Câmara, o PSB indicou Paulo Foleto (ES), titular e Glauber
Braga (RJ), suplenjte. No PDT, a vaga principal é de Miro Teixeira (RJ),
com Vieira da Cunha (RS) de substituto. O PSC terá Filipe Pereira (RJ)
como titular e Hugo Leal (RJ) como suplente. O PDT indicou, pelo Senado,
Pedro Taques (MT): ex-promotor de Justiça, ele tem se destacado pela
atuação incisiva diante de casos de corrupção. Outros integrantes da comissão tiveram seus nomes apresentados nas últimas horas.
A CPI será composta por 15 deputados e 15 senadores titulares, com
igual número de suplentes. A comissão concluirá os trabalhos em até 180
dias.
Repercussão - O senador Demóstenes Torres (sem
partido-GO), o primeiro atingido pelo escândalo de Carlinhos Cachoeira,
reconheceu nesta quinta-feira que o Congresso tem razão em instalar a
CPI. "Eu respeito o Congresso", afirmou o senador. Ele reiterou que fará
sua defesa no Conselho de Ética "no momento oportuno". Demóstenes
justificou o fato de não ter assinado o requerimento da comissão dizendo
que não faz falso heroísmo. "A vida toda sempre fui assim, sou uma
pessoa coerente, não tinha razão para assinar o requerimento.”
Enquanto isso, o governo federal esforçou-se para não demonstrar
preocupação com a criação da CPI, a primeira da administração Dilma
Rousseff. “A CPI começa com o foco fora do governo”, disse nesta quinta o
líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).
“Qualquer um pode eventualmente aparecer nas investigações e, se
aparecer, vai ter de responder. Quanto ao governo, podem ficar
tranquilos, porque nós estamos tranquilos."
Interlocutor próximo da presidente Dilma Rousseff, o ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que a CPI é
assunto restrito ao Legislativo. “O governo não tem com o que se
preocupar a não ser em cumprir o nosso papel, que é conduzir o país”,
disse Carvalho, após evento no Palácio do Planalto. “O Legislativo cuida
da pauta dele e nós cuidamos da nossa.”
Por Veja