|

Vôlei feminino é bicampeão olímpico

O vôlei feminino do Brasil superou mais uma vez o descrédito. A equipe comandada por José Roberto Guimarães havia chegado aos Jogos Olímpicos de Londres 2012 envolta em desconfiança, mas reagiu e foi à decisão. Neste sábado, voltou a ser colocada em xeque ao ser atropelada pelos Estados Unidos no primeiro set. Contudo, mostrou controle emocional, mudou totalmente o panorama do duelo e venceu por 3 sets a 1 para conquistar o segundo ouro olímpico consecutivo. 
É o terceiro ouro olímpico do técnico José Roberto Guimarães, que já havia vencido em Barcelona 1992 (com os homens) e em Pequim 2008 (com as mulheres). Com isso, ele passa a ser o único brasileiro com três campanhas vitoriosas na história da competição.
"As dificuldades só fizeram o grupo crescer. Só tenho de agradecer a todo mundo e pedir desculpa pela angústia que fizemos vocês passarem. Eu gostaria de ser um grande escritor para poder escrever essa história", disse Guimarães. "Sabíamos que tínhamos a chance de vencer. Agradeço a equipe por acreditar, porque os EUA eram o melhor time e favorito", comentou ainda o técnico em entrevista coletiva em Londres. 
A medalha de ouro deste sábado é a terceira do Brasil em Londres 2012, depois das vitórias de Sarah Menezes (judô) e Arthur Zanetti (ginástica artística). O país já igualou o número de êxitos de Pequim 2008, mas o significado da vitória deste sábado é muito maior do que isso. 
Quando os Jogos Olímpicos começaram, a despeito de defenderem o título, as brasileiras do vôlei estavam depreciadas. O time vinha abalado por campanhas ruins, problemas internos e polêmicas nos últimos cortes. As dúvidas ficaram ainda maiores depois da primeira fase, quando as sul-americanas sofreram para bater a Turquia, perderam para Estados Unidos e Coreia do Sul e se classificaram apenas na rodada derradeira. 
O Brasil voltou a ser abalado nas quartas de final, quando jogou contra a Rússia. As europeias tiveram seis chances de finalizar o duelo, mas as sul-americanas salvaram os match points, recuperaram a força e venceram no set de desempate.
Neste sábado, as suspeitas sobre o time nacional foram revigoradas. Desde o início, Brasil e Estados Unidos mostraram eficiência em fundamentos como bloqueio e defesa. A diferença é que as sul-americanas, tensas e sem confiança, erravam demais no ataque.
O aproveitamento extremamente baixo das brasileiras ofereceu aos Estados Unidos a vantagem no placar no primeiro set. A bola não caía em um dos lados da quadra, e isso foi transformando a parcial em um total atropelo. As norte-americanas fecharam o primeiro set em absurdos 25 a 11.
Parecia que a distância entre os dois times estava estabelecida. Então, tudo mudou. O Brasil continuou eficiente na defesa durante as parciais seguintes, mas Dani Lins começou a distribuir melhor a bola. E as atacantes, que até então estavam sem confiança, passaram a virar.
"A gente resgatou a força, e a gente não saiu do buraco à toa. Depois do primeiro set a gente lembrou de tudo que aconteceu e falou que era hora de voltar a lutar. O time do início das Olimpíadas não existia mais", comentou a líbero Fabi ao canal Sportv.
"No primeiro set, os EUA passaram por cima da gente., não tomou conhecimento. A partir do segundo set, passamos a jogar melhor, nosso contra-ataque começou a superar o bloqueio delas, taticamente melhoramos de uma forma geral", disse Zé Roberto na coletiva após o jogo. 
Inicialmente, a mudança de postura do ataque brasileiro equilibrou o duelo. Depois, fez com que a superioridade e a falta de confiança mudassem de lado. As norte-americanas passaram a errar mais, e as brasileiras fecharam os sets seguintes com vitória (25/17 e 25/20).
Um dado que ilustra a mudança de postura da seleção brasileira é a quantidade de erros. O time de José Roberto Guimarães entregou seis pontos às norte-americanas apenas no primeiro set, mas cometeu apenas dez falhas em todo o restante do confronto.
As norte-americanas, soberanas no primeiro set, pararam de acertar. Contra um saque taticamente bem colocado, a seleção dos Estados Unidos não conseguiu imprimir velocidade e apostou em muitas bolas altas, mas não virava nem com Destinee Hooker, que até a decisão era a maior pontuadora do torneio olímpico.
Essa diferença no aspecto emocional começou a abrir espaços na quadra para as brasileiras. Se no primeiro set o time de José Roberto Guimarães apostou em ataques fortes e teve dificuldade para colocar a bola no chão, nas parciais seguintes as atletas sul-americanas ganharam confiança para largadas, cortadas colocadas e até virada de segunda da levantadora Dani Lins.
No quarto set, quando perdia por 19 a 11, a seleção dos Estados Unidos chegou a iniciar uma reação e anotou três pontos consecutivos. Contudo, o Brasil conseguiu controlar a parte emocional, voltou a defender muito e retomou o controle da partida. Com vitória por 25 a 17 na última parcial, o ouro estava assegurado.
"O Brasil foi muito agressivo o tempo todo. Com honestidade, jogaram muito melhor do que nós. Não conseguimos dar as respostas necessárias, mas estou orgulhoso pelo que elas fizeram hoje [sábado]", declarou o técnico dos Estados Unidos, Hugh McCutcheon.
"Estou muito orgulhoso com o que fizemos, foi uma Olimpíada muito complicada, mas após o jogo com a Coreia demos a volta por cima", resumiu o técnico do Brasil. 

Por iG