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Planalto vai abrir o cofre para acalmar Congresso

BRASÍLIA - A nova articuladora política do governo, a petista catarinense Ideli Salvatti, parece disposta a deixar no passado a sua fama de trator. Focada na missão recebida pela presidente Dilma Rousseff de pacificar o PT e garantir uma interlocução mais eficiente do Planalto com a base aliada, não perdeu tempo. Seu primeiro telefonema, após receber o convite para a Secretaria de Relações Institucionais, foi para o vice-presidente Michel Temer, do PMDB, com quem pretende ter sua primeira reunião logo após ser empossada nesta segunda-feira. Também já estabeleceu contato com o presidente do PT, Rui Falcão. Ideli afirma que vai acelerar as nomeações de segundo e terceiro escalões, mas avisa que não há espaço para todos no governo. Também promete a liberação da segunda etapa de emendas parlamentares, que soma R$ 250 milhões. Tranquiliza a oposição e quem teme a "braveza" das novas integrantes da equipe palaciana, o que inclui a petista paranaense Gleisi Hoffmann. Garante que todas nunca perderão o lado "mãezona".

O que precisa mudar na articulação política do governo?
IDELI SALVATTI: A maior parte das reclamações é no sentido de que as conversas acontecem, mas os resultados não se concretizam. Vamos nos dedicar, neste primeiro momento, de, efetivamente, concretizar o que é possível. Até porque todos têm o entendimento de que nem toda demanda, expectativa ou desejo será realizado.

A senhora se refere às nomeações para o segundo e terceiro escalões e à liberação de emendas?
IDELI: Tivemos aquela primeira etapa daqueles recursos que a presidente anunciou na marcha dos prefeitos, que já se concretizou. Agora nós temos a segunda parte, cerca de R$ 250 milhões. O ministro Luiz Sérgio (seu antecessor, que ficará em seu lugar no Ministério da Pesca) me disse que os limites para os ministérios já estão engatilhados, para a liberação das emendas dos parlamentares.

As nomeações serão aceleradas?
IDELI: A prioridade vai ser essa, tudo que estiver pronto deve ser concretizado.

A presidente Dilma está disposta a participar desse novo modelo de articulação política?
IDELI: A presidente já vem fazendo isso. Estão faltando apenas duas bancadas do Senado para ela receber, a do PR e a do PP. Depois, ela vai fazer isso também com a Câmara, talvez com um desenho um pouco diferente, pelo tamanho de algumas bancadas. Sinto da parte da presidente vontade de continuar a estreitar sua relação com os partidos.

Qual o papel do vice-presidente Michel Temer nesse processo?
IDELI: A primeira pessoa para quem liguei após o convite, que a presidente oficializou na sexta-feira, foi exatamente o vice-presidente Michel Temer. Já combinamos uma primeira conversa. Primeiro o vice-presidente, depois o Senado e a Câmara. Esta minha primeira semana será de oficializar o pedido de ajuda e colaboração, de abrir portas, para termos trânsito e constituirmos uma interlocução mais próxima da base com o governo.

Qual a sua opinião sobre a atuação do PT no episódio que culminou com a saída de Antonio Palocci da Casa Civil e com a troca de ministros na Secretaria de Relações Institucionais?
IDELI: Todos os partidos têm as suas disputas de espaço. Alguns deixam isso mais público, outros menos. Vamos constituir com o PT uma forma de diálogo. Não tem espaço para todos. Teremos de ter capacidade política para organizar a fila. Já tive uma conversa sobre isso com o Rui Falcão.

Com o racha do PT, o PMDB ganhou força e busca aumentar seu poder de influência dentro do governo. Isso preocupa?
IDELI: O PMDB é governo, está na Vice-Presidência da República, tem a responsabilidade de contribuir, de forma efetiva, para que o governo, que é da Dilma e do Temer, dê certo. Tenho a clareza de que vou poder contar com o PMDB. Inclusive para poder distensionar qualquer problema na base. O PT e o PMDB têm papel-chave na harmonia da coligação.

Será montada uma espécie de conselho político, ainda que informal, que possa atuar especialmente nos momentos de crise?
IDELI: Vivenciamos uma situação em que havia uma concentração de expectativas no papel de Palocci. A forma como a própria presidente também articulava, no sentido de Palocci acompanhar a maior parte das agendas, dava uma baixa operacionalidade. Esse formato, por si só, já dificultava. Havia momentos em que precisávamos falar com Palocci, mas conseguíamos às 22h. Isso foi modificado com esse redesenho. Segunda-feira, às 8h30m, Gilberto (Carvalho, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República), Gleisi e eu vamos nos reunir para combinarmos a dinâmica desse novo modelo.

Com as mudanças, o governo Dilma ficou mais com a cara dela, até pelo perfil das mulheres que ela escolheu para compor a sua nova equipe palaciana. Isso assusta os homens?
IDELI: Os homens não têm o direito de se assustar com mulher (risos). Eles sabem muito bem, até porque todos eles respeitam suas respectivas mães, que mulher tem essa sensibilidade, quando precisa ser dura é dura, quando precisa ser carinhosa é carinhosa. Diferentemente de boa parte dos homens, conseguimos não só fazer várias coisas diferentes ao mesmo tempo, como também fazemos de forma diferente várias coisas.

É correto dizer que a presidente, ao escolher sozinha seus novos ministros, reforçou sua autoridade e sinalizou que não cederá a pressões ou ameaças da base?
IDELI: A presidente Dilma já demonstrou, durante o período em foi ministra de Minas e Energia, em seguida, depois, na Casa Civil e agora que não titubeia em exercer a sua liderança e o seu comando. Quando ela está efetivamente convencida, age. A surpresa é a preocupação demonstrada por ela em como reduzir danos, em evitar injustiças que poderiam estar sendo cometidas com as pessoas. Aí entra a feminilidade, o jeito feminino de fazer. Ela é líder, comanda, mas não deixa de ser mãezona.

A interferência do ex-presidente não abre espaço para especulações sobre uma possível volta de Lula em 2014, o que abortaria uma reeleição da presidente?
IDELI: Não vejo dessa forma. Primeiro, porque acho que a eleição da presidente Dilma deixou clara a aprovação de um projeto que foi construído em conjunto por Lula e Dilma. Ele reconhece o papel que Dilma teve nesse projeto e tem dado apoio integral às ações da presidente. Além disso, ele já colocou de forma clara o processo de reeleição da presidente Dilma em 2014. Tenho convicção de que as tarefas do ex-presidente Lula e da presidente Dilma estão muito claras.

Dizem que a oposição está um pouco temerosa com a sua nomeação...
IDELI: Por quê? As manifestações mais positivas que tive vieram da oposição do Senado. Em alguns momentos, tivemos de fazer enfrentamentos duros. É inadmissível um líder da oposição ameaçar o presidente da República com uma surra (ela se referiu a um episódio envolvendo o então líder do PSDB, Arthur Virgílio). Ninguém vai querer, numa situação dessa, que a líder do governo vá dar beijinho nele. O clima do plenário é uma coisa, as mesas de conversa, de articulação não se dão ali. Não tenho problema com a oposição. Não farei mais discurso na tribuna. Em minha nova tarefa, o comportamento é outro.

Como será sua dobradinha com a ministra Gleisi?
IDELI: É impossível dissociar a articulação política da Casa Civil. Temos de estabelecer parcerias. Por exemplo, vamos votar a MP (medida provisória) que flexibiliza os procedimentos das obras da Copa. Conto com o apoio e a ação da ministra Gleisi, que está encarregada de fazer toda a gestão das obras da Copa. Terei de contar com ela nas conversas com os governadores e com os parlamentares.

O Palácio virou o Clube da Luluzinha, e os homens que se cuidem?
IDELI: Os homens não precisam se preocupar, porque nós cuidamos deles. Aliás, se tem alguém bem cuidado é o homem. A gente cuida como mãe, como namorada, como esposa, como filha. Cuidar é conosco mesmo. Precisamos, para o bem do país e o sucesso do governo, que haja harmonia entre homens e mulheres.

Por O Globo