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Decisão do Cade é boa para o consumidor

A decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de aprovar com restrições a fusão entre a Sadia e a Perdigão deve ser benéfica ao consumidor. Entre as imposições do órgão antitruste está a suspensão da marca Perdigão por entre três a cinco anos, dependendo do segmento, e a venda de fábricas e diversas marcas, como Doriana e Rezende, para um único comprador. Especialistas ouvidos pelo site de VEJA argumentam que o ponto fundamental é que a decisão preserva a concorrência – fator essencial para a melhoria da qualidade dos produtos, ampliação da oferta e queda dos preços.
“Sem desfazer uma operação que tem vantagens para a sociedade, o Cade conseguiu alterar o seu desenho original de maneira engenhosa”, afirma Gesner de Oliveira, ex-presidente do órgão. Para o economista, a decisão viabiliza a entrada de um concorrente de peso no mercado, já que a empresa que comprar todos os ativos que a BRF terá de vender nascerá com 20% do mercado e sem a concorrência da Perdigão. “É natural que a compradora precise de um tempo para se fortalecer como marca, mas será um rival considerável”, completa. Gesner considera o período de suspensão da Perdigão adequado.
O especialista questiona, no entanto, a decisão de impedir o lançamento de uma nova marca no lugar da Perdigão. Ele acredita que seria melhor solução permitir a criação de uma marca, mas fiscalizá-la para que não tivesse semelhança excessiva com a Perdigão, como aconteceu com o caso Kolynos na década de 90. Em 1996, a Colgate comprou a Kolynos, mas o Cade impediu o uso da marca por quatro anos. No entanto, a empresa lançou a Sorriso, muito semelhante à marca suspensa, para preencher o espaço aberto pela medida. “Eles viram que o surgimento da Sorriso atrapalhou os planos do Cade. Devem ter considerado isso nesta decisão. Para o consumidor, no entanto, a criação de marcas aumenta o bem-estar e as opções”, acrescenta.
Outro especialista em defesa da concorrência, que pediu para não ser identificado, concorda com a decisão do Cade, mas vê a suspensão da itens da marca Perdigão como duvidosa. “A solução encontrada pelo Cade impede que haja barreiras à entrada de um novo competidor no mercado, o que é salutar do ponto de vista da concorrência. Mas não sei se tirar das prateleiras uma marca valorizada pelos consumidores, como a Perdigão, era indispensável”, afirma. De um modo geral, o analista afirma que a decisão resolveu 70% dos entraves -- e evitou repetir erros cometidos pela entidade no passado. Mas ressalta que é necessário esperar o comportamento do mercado para se fazer um julgamento definitivo.
Para o especialista em marcas Eduardo Tomyia, da consultoria BrandAnalytics, a supressão da Perdigão representa, de fato, uma perda para o consumidor. “É uma marca que carrega atributos positivos. Por essa ótica, o consumidor fiel sai perdendo”, afirma. A BrandAnalytics estima que o valor de marca da Perdigão em 2011 chegou a 1,9 bilhão de dólares.

Por Veja