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Primo de Jean Charles diz que irá processar tabloide londrino

O primo de Jean Charles de Menezes --o brasileiro morto por engano em Londres, em 2005, pela polícia britânica--, Alex Pereira, 33, afirmou nesta quinta-feira à Folha que vai processar o conglomerado News Corporation (News Corp.), que pertence a Rupert Murdoch e que editava o "News of the World", fechado pelo empresário australiano.
Nos EUA, o conglomerado do magnata australiano Rupert Murdoch passou a enfrentar a partir desta quinta-feira uma investigação do FBI sobre supostos grampos telefônicos contra parentes de vítimas do 11 de setembro, concretizando rumores de que a crise originada no Reino Unido atravessaria o Atlântico.
Pereira, que vive novamente em Minas Gerais, disse que na semana passada recebeu ligação de um amigo que está em Londres dizendo sobre a possibilidade de que o número do telefone poderia ter sido grampeado pelo tabloide londrino. Ontem, ele recebeu nova ligação, dessa vez, segundo ele, confirmando que de fato o grampo foi feito.
Ele disse já ter recebido e-mail dos advogados que acompanham o caso Jean Charles e cuidam de outras questões legais da família do brasileiro morto na Inglaterra orientando sobre essa situação. Pereira disse que vai processar o grupo de Murdoch.
"Acho que sim, né? Porque isso é um abuso sem tamanho. A gente, quando usa a internet, o telefone, espera que a conversa está entre a pessoa e a pessoa do outro lado. Então imagina que, se tem alguém mais envolvido e com intenção de ganhar dinheiro ainda, então não pode deixar barato, não", afirmou.
Alex voltou ao Brasil em 2009. Um irmão e dois primos continuam vivendo em Londres.
O "News of the World" era um dos títulos do conglomerado News Corporation (News Corp.) que pertence ao magnata Rupert Murdoch. A publicação foi fechada devido a uma série de denúncias de grampos a telefones de celebridades, familiares de vítimas de sequestros e de atentados, do ex-premiê britânico Gordon Brown, entre outras cerca de 4.000 pessoas.
Na carta enviada a Cameron e assinada por Patricia Armani, Vivian Figueiredo e Alessandro Pereira, primos de Jean Charles, eles informam que seus "advogados contataram oficiais envolvidos na operação Weeting (que investiga os grampos feitos pelo jornal) que confirmaram ontem (quarta-feira) que o telefone de Alex Pereira, um dos primos de Jean Charles, foi encontrado na lista de grampos do detetive particular Glen Mulcaire".
No documento, eles informam que, a pedido da polícia, a equipe de advogados forneceu o nome e os telefones de membros da família de Jean Charles que também podem constar da relação de grampos.
De acordo com os primos de Jean Charles, caso a suspeita se confirme, seria uma "intrusão flagrante e injustificada de privacidade" e "uma tentativa deliberada de restringir" o "direito fundamental de obter reparação para a matança ilegal" do brasileiro.

VAZAMENTOS
 
O texto da carta ao premiê acrescenta ainda que "com a aproximação do sexto aniversário da morte de Jean, na próxima semana, nós escrevemos para exortá-lo a fazer tudo dentro do seu poder para assegurar que a polícia investigue rapidamente este assunto sensível e relate suas investigações para nossa equipe jurídica o quanto antes";.
No documento, os primos de Jean Charles lançam ainda suspeitas sobre o ex-comissário-assistente da Polícia Metropolitana de Londres Andy Hayman, que comandou a investigação sobre o grampo telefônico e que teria, segundo eles, vazado informações falsas para imprensa "tentando manchar o caráter de Jean''.
De acordo com o texto enviado pelos familiares de Jean Charles, a recente cobertura de imprensa sobre o grampo telefônico mostra que Hayman, que depois se tornou um colunista do jornal "The Times", também pertencente à News Corp., teve "um relacionamento próximo, inclusive com possíveis laços financeiros"; com o grupo de imprensa.
Eles ainda afirmam que "os jornais da News International (a divisão de jornais britânicos da News Corp.) forneceram algumas das mais virulentas e muitas vezes enganadoras coberturas a respeito da morte de Jean e seu resultado".

Por Folha